Com Juan Silvera.
Concluídas as Olímpiadas, autoridades e jornalistas começam o processo de avaliação. O Presidente do COB manifesta satisfação embora o total de medalhas obtidas seja bastante menor que o estimado ou planejado. A questão central passa por estabelecer aquilo que foi aprendido com as Olimpíadas em todas suas dimensões. A satisfação ou insatisfação com os resultados já se situa no passado. Trata-se, no presente, de elaborar o aprendido para operar sobre o futuro.
Um fato merece destaque: a participação nas Olimpíadas não é igualitária. Os países não participam com o mesmo número de atletas ou com um número proporcional a sua população, por exemplo. Brasil participou com mais atletas do que a China e o Reino Unido. Nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, o Brasil, com 464 atletas, apenas foi superado, em termos absolutos, pelos Estados Unidos, com 550.

Em algumas modalidades esportivas a diferença no número de participantes se baseia na diferença de desempenhos anteriores, comportando uma história das diferenças. O número de atletas participantes por país reflete desempenhos e classificações anteriores que parecem depender não apenas da riqueza nacional per capita mas, também, dos modos de seleção e treinamento de atletas em cada país.
Assim, surge a tentação de criar índices que reduzam a participação a valores comuns, mais ainda quando o tipo de medalha estabelece diferenças que merecem ser medidas. Índices, então, que aumentem a comparabilidade dos desempenhos.
Acreditamos que um deles pode ser o da relação entre medalhas e atletas. Ou seja, dividindo o total das medalhas pelos atletas participantes por país.
Vejamos os resultados:

Se construirmos um índice de medalhas por atleta por país até chegarmos ao valor do ranking do Brasil, podemos observar a “eficiência da participação”. Os Estados Unidos seriam o país “mais eficiente”, com uma relação de 0,22 medalhas por atleta. O Brasil teria o respectivo índice de 0,04, menos da quinta parte de medalhas por atletas em comparação ao desempenho estadunidense.
A Rússia, apesar de ter caído para a quarta posição no ranking da Olimpíada e de ter enfrentado sérios problemas de exclusão a partir das acusações de doping, ainda conserva a segunda posição em termos de medalhas/atleta, 0,19. Embora o Reino Unido seja segundo no ranking de posições cai para o terceiro lugar no índice elaborado, com 0,17 medalhas por atleta. A China ocupa a mesma posição.
No índice, temos países que se igualam apesar das diferenças absolutas no número de atletas. França e Coreia do Sul com índice de 0,10; Alemanha, Itália e Hungria com 0,9. Austrália e Espanha parecem menos poderosas sob o ponto de vista do índice, 0,6 e 0,5 respectivamente. Observe-se que a Hungria está apenas uma posição acima do Brasil no ranking do COI, mas no índice obtém 0,9 medalhas por atleta, mais que o dobro do resultado do Brasil, que, para ocupar a posição número 10 no ranking, teria que aumentar em 100% seu valor no índice de medalhas/atletas. Em outros termos, para alcançar a posição da Hungria, teria que ter doblado o número de medalhas, isto é, obter 38. A Espanha, por sua vez, com um número de medalhas inferior ao Brasil, o supera no índice.
O Quênia merece um comentário especial. No ranking por países, ocupa o décimo-quinto lugar, com seis medalhas de outro, seis de prata e uma de bronze, embora também tenha enfrentado problemas de participação sob a acusação de doping. Entretanto, no índice por medalhas, sobe para a quinta posição, com 0,16 medalhas por atletas. Apenas os quatro primeiros países do ranking em medalhas a superam. No caso de Quênia podemos estar diante do êxito diferencial da especialização em modalidades esportivas, em seu caso, no atletismo. Brasil teria que ter obtido 76 medalhas para atingir o índice de Quênia.
Se realizarmos o cálculo dos índices de medalhas/atletas para o Brasil nos Jogos do Rio e também nas as três olimpíadas anteriores (Londres-12, Pequim-08 e Atenas-04), constatamos que o Brasil obtém o mesmo índice que em Atenas (0,04) e índice inferior aos de Londres e Atenas.

Se levarmos em consideração o fato de ser sede e os significativos investimentos realizados em infraestrutura e nos atletas no último ciclo olímpico (aproximadamente R$ 4 bi, segundo o Ministério do Esporte), pareceria que o desempenho do Brasil em termos do índice foi baixo. A hipótese de um desempenho baixo pode funcionar como um estímulo para pensar falhas, acertos e o peso do contexto nos resultados. O sentimento de satisfação poderia minar o esforço de aprendizado.
Muito interessante, lembrei da mídia americana nas olimpiadas de Pequim que posicionava o país pela quantidade total de medalhas e não pelo número de ouros, como é a “tradição” para ficarem na frente da CHINA. CRITÉRIOS DE DIFERENCIACAO entre desiguais. Esse mar de diferenças contrasta com o apelo formal da igualdade e congracamento entre nações