Arthur Elias X Carlo Ancelotti

Neste texto não temos o objetivo de apontar quem é o melhor para qual seleção, quem conquistou mais títulos, ou simplesmente relatar suas experiências (claro que traremos um pouco de seus históricos) mas sim, tecer um diálogo com uma identidade nacional, que parece cada vez mais internacional, globalizada e mercantilizada, em que os jogadores têm cada vez mais preocupações com estratégias de marketing. 

O futebol nacional (Seleções Brasileira feminina e masculina) ainda mexe com os sentimentos dos brasileiros? Desperta desejo somente na época das Olimpíadas e Copas do Mundo?

Imagem de Rafael Ribeiro. Fonte: Blog do Torcedor, 2025.

Essas são perguntas que serão respondidas em breve pela população, pela imprensa e por pesquisadores. Em meio a uma “crise”, a CBF lança como técnico da seleção masculina de Futebol o treinador Carlo Michelangelo Ancelotti, ganhador de diversos títulos, tanto em campo como ex-volante, quanto como treinador, jogando com Paulo Roberto Falcão no Roma, time italiano, conquistando o campeonato italiano e quatro copas da Itália (PARRELA, 2023). Como treinador de futebol iniciou sua carreira no Reggiana (Itátlia) em 1995, depois passou por clubes importantes da Europa e desde 2021 trabalhava como treinador do Real Madrid. 

O sonho de ter Ancelotti como treinador da seleção brasileira de futebol vem desde o final da última copa do mundo no Catar, em 2022. Porém, na época o treinador renovou seu contrato com o Real Madrid, apagando a expectativa de dirigentes e torcedores. Enfim, em 12 de maio é anunciado como novo treinador da Seleção Brasileira, que pela primeira vez terá um comandante não brasileiro (TELES, 2025).

A paixão nacional que o futebol representa, há muito tempo se tornou internacional. Não é incomum termos colegas, amigos, parentes que além do time nacional de coração, torçam também por um time europeu. Há muito vem se falando sobre isso, de como o jogo europeu é mais vistoso, mais veloz, melhor disputado que o brasileiro, no entanto, os times europeus possuem jogadores de várias nacionalidades, gerando uma heterogenia futebolística capaz de proporcionar tal crescimento do futebol naquele continente. Porém, há algum tempo começamos a ter mudanças no cenário nacional, quando alguns jogadores internacionais começam a vir para o Brasil, cada vez com mais frequência. O que podemos esperar neste futuro próximo?

Ancelotti chega ao Brasil neste cenário, a paixão do brasileiro espera que ele consiga empreender o futebol vistoso, veloz e bem disputado europeu na seleção ou resgate o gingado, técnica e criatividade do futebol nacional? Em um mundo globalizado, há quem diga que este futebol não tem mais espaço, que o jogador não tem mais a liberdade dentro das propostas de jogo.

A necessidade de ídolos, de grandes jogadores, sempre existiu a nível nacional, mas mesmo o Brasil tendo o melhor jogador do mundo na atualidade, essa representação parece estar vaga. De certa forma a imprensa parece ter depositado as fichas em outro jogador, “Neymar”, que com sua extensa sequência de lesões, parece não ter condições de assumir tal posto. Estaria esse posto sendo transferido a um treinador? Com contrato até o final da Copa de 2026, Ancelotti conseguiria resgatar o bom e velho futebol brasileiro na essência da escrete nacional?

São muitas perguntas que teremos respostas somente ao longo de sua jornada como treinador nacional. Entretanto, a Seleção Brasileira Feminina de futebol não obteve o êxito esperado com uma técnica multicampeã internacional. Assim, Arthur José Ribas Elias assumiu a seleção feminina, substituindo a sueca Pia Sundhage ao final da copa do mundo feminina em 2023.

Imagem de Rodrigo Gazzanel, fonte: Estadão, 2023.

Arthur Elias descobriu seu gosto pelos esportes através de Lula Ferreira, seu primo de segundo grau e ex-técnico de basquete. O cenário que trouxe Arthur a seleção foi sua trajetória e experiência no cenário do futebol feminino, desenvolvido desde sua faculdade de Educação Física cursada na USP, passou por treinador no Clube Nacional do Acre, Centro Olímpico em São Paulo, Audax/Corinthians e Corinthians(?) (ALVES, 2024). 

A experiência acumulada ao longo dos anos como treinador de futebol e sua ousadia, fez com que desde sua chegada ao time do Audax/Corinthians, em 2016, consagrou-se como um dos protagonistas do futebol feminino nacional, um treinador com muitos títulos conquistados. Com o fim da parceria com o Audax, ele seguiu como treinador do Corinthians, e chegou à seleção. Neste caminho conquistou:(MEU TIMÃO, 2025)

  • Copa do Brasil Feminina 2016;
  • Libertadores Feminina 2017, 2019, 2021, 2023 (conquistada como despedida de Arthur Elias), já era o técnico da seleção nacional feminina;
  • Campeonato Brasileiro Feminino 2018, 2020, 2021, 2022, 2023;
  • Campeonato Paulista Feminino 2019, 2020, 2021, 2023;
  • Copa Paulista Feminina 2022;
  • Supercopa do Brasil Feminina 2022 e 2023.

Estes feitos tornaram Arthur Elias praticamente o nome certo para assumir o cargo na Seleção Nacional Feminina. E os resultados do técnico comandando a seleção vem mostrando sua aptidão e talento para o ofício. Sua ousadia em convocações, substituições de jogadoras e montagens de estratégias de jogo à frente da seleção resultaram, depois de uma espera de 16 anos, em uma medalha olímpica igualando a melhor marca do Brasil na Competição, em Atenas 2004 e Pequim 2008. Logo à frente da Seleção a pouco menos de dois anos conquistou:

– Medalha de Prata – Jogos Olímpicos de Paris 2024: A equipe brasileira chegou à final da competição, perdendo para a seleção estadunidense. 

– Copa Ouro Feminina da CONCACAF: A seleção brasileira conquistou o título da competição em 2024. 

– Outras conquistas e resultados: A seleção feminina também alcançou o terceiro lugar na Copa SheBelieves em 2024.

Enfim, conquistas por conquistas, títulos por títulos, tanto Ancelotti quanto Arthur Elias se destacam. Foram e são muito vitoriosos pelos clubes que passaram, arrisco dizer que no cenário global a Seleção Masculina buscou um dos melhores treinadores do mundo, já a Seleção Feminina no cenário local achou um dos melhores treinadores do mundo. Não é um óbice que se apresenta no futebol globalizado nos dias atuais, é sobre o meio de se cuidar com as estratégias do futebol moderno.

E o moderno trouxe a mercantilização, já é comum ouvir falar a expressão “o mercado da bola”, que se passa não somente pela compra ou venda de jogadores entre os clubes espalhados pelo mundo. O marketing por traz do futebol, da mídia, dos equipamentos, das vestimentas, chegou aos cosméticos, à indústria farmacêutica, dentre tantas outras, porém, isso não é de hoje. Lembro de quando criança ver o Pelé fazer propaganda de Vitasay dentre tantos outros produtos, mas, até que ponto nos dias de hoje existem interferências diretas e indiretas dentro das quatro linhas?

O papel crucial que o marketing desempenha no mundo do futebol vai da gestão de patrocínios até a criação de experiência para os fãs (dado que podemos dizer que importamos um pouco de clubes europeus), com seus museus e estádios que são um convite a viver uma experiência imersiva. As conexões são emocionais, pessoais, midiáticas, e impulsionam as receitas dos clubes mundo afora, com isso os times aumentam sua visibilidade, evidenciam as marcas de patrocinadores.

A mercadologia do futebol envolve patrocínios, marketing de conteúdo, experiências de fãs, marketing de influência, marketing digital, campanhas sociais, marketing esportivo, que consideravelmente impactam o futebol com aumento da receita, visibilidade e reconhecimento, engajamento e fidelização, crescimento do esporte. Tudo isso torna o futebol um grande negócio e se apresenta como uma área complexa e dinâmica, mexendo diretamente com a paixão de milhões de pessoas ao redor do planeta.

De certa forma esse mercado também chegou ao comando da seleção nacional com a chegada de Ancelotti? 

A identidade nacional que parece ser global chegou ao nosso futebol de forma avassaladora, as meninas do Arthur Elias e do Corinthians ganharam prata nas olimpíadas e encantaram o mundo, assim como os jogadores dos clubes masculinos o fizeram e ainda fazem. Mas a pergunta que fica é: até que ponto o cenário aponta para um futebol feminino mais fortalecido que o masculino? Sem demérito algum para qualquer categoria, mas as mulheres chegaram e ocuparam seu espaço, e parecem cada vez mais as donas da bola. Isso é um luxo em nosso país, que com tantas desigualdades, mostra que a força do futebol feminino precisa ser cada vez mais valorizada.

Com o curto período de tempo até a Copa do Mundo de 2027, teremos a mesma valorização que a copa masculina de 2014? 

Por que a Champions League é melhor que a Libertadores da América? Eles possuem os melhores técnicos? Ou possuem melhores investimentos? Mas e os jogadores e jogadoras onde ficam neste cenário?

Sobre as respostas para as questões, ficam as reflexões, aguardemos os desfechos, o mercado globalizado, o mundo da bola que gira e é muito bem organizado.

 

Referências: 

PARRELA, Leonardo. «Cogitado na CBF, Falcão fez parte de ‘período de ouro’ com Ancelotti; relembre relação»19 de junho de 2023. Acesso em <https://www.itatiaia.com.br/esportes/futebol/selecao-brasileira/2023/06/19/cogitado-na-cbf-falcao-fez-parte-de-periodo-de-ouro-com-ancelotti-relembre-relacao> Acessado em: 27 de maio de 2025.

 

TELES, Gabriel. «CBF anuncia Carlo Ancelotti como novo técnico da Seleção». CNN Brasil. 12 de maio de 2025. Acesso em: <https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/futebol/selecao-brasileira/cbf-anuncia-carlo-ancelotti-como-novo-tecnico-da-selecao/> Acessado em: 25 maio de 2025.

 

ALVES, Vinícius. Quem é Arthur Elias? As origens e inspirações do técnico da seleção feminina. 09 de agosto de 2024. Cajuru, SP. Acesso em: < https://ge.globo.com/sp/ribeirao-preto-e-regiao/olimpiadas/noticia/2024/08/09/quem-e-arthur-elias-as-origens-e-inspiracoes-do-tecnico-da-selecao-feminina.ghtml> Acessado em: 25 de maio de 2025.

 

MEU TIMÃO. Títulos do Corinthians Feminino. Acesso em: <https://www.meutimao.com.br/titulos-do-corinthians-feminino> Acessado em 27 de Maio de 2025.

 

 

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