A era dos “Unicórnios” chegou de vez na NBA

Por: Júlio César Barcellos

Para a maioria dos esportes coletivos, a pré-temporada serve para os ajustes finais nas equipes antes das estreias oficiais, testes de jovens jogadores e, sobretudo, recuperar o ritmo de jogo dos atletas. Sem maiores atrativos, grande parte desses jogos é sequer televisionado. Não foi o que aconteceu, no entanto, na liga norte-americana de basquete. 

Com a estreia do prospecto mais badalado desde LeBron James, Victor Wembanyama, o mundo do basquete parou para assistir o embate entre a sua equipe, o San Antonio Spurs, e o Oklahoma City Thunder, no último dia 10 de outubro¹. Do outro lado da quadra, a segunda escolha geral do Draft de 2022, Chet Holmgren, também estava fazendo sua estréia na NBA, depois de perder todo o ano passado com uma rara fratura de Lisfranc no pé direito².

Wembanyama tenta dar um toco em Holmgren em jogo da pré-temporada. Timothy A.Clark/ AFP

Segundo o setorista Brian Windhorst, da ESPN estadunidense, havia mais de 20 olheiros presentes³, algo muito além do normal para um jogo dessa natureza. As atuações de mais de 20 pontos de ambos os jovens jogadores – em menos de 20 minutos de ação –  animaram os fãs de NBA em todo o mundo, mas afinal o que há de tão especial neles? 

Num primeiro olhar na tela da televisão, mesmo que descompromissado, chama a atenção o tamanho e o tipo físico de ambos os novatos da liga de basquete mais assistida do mundo. Do alto de seus 2,24m, distribuídos em “apenas” 95 kg, Victor chama a atenção pela alta estatura, além do biotipo ectomorfo, algo incomum para um pivô. O mesmo pode se dizer de Holmgren, que com 2,16m e 94 kg, foge completamente do padrão da posição.

Mesmo com a tendência recente a se apelar para jogadores mais baixos4 na posição 5 em prol de uma maior mobilidade, fica clara a predileção da liga ao longo de sua história quanto ao tipo físico de seu pivô. Não à toa, é o jogador responsável pelo “trabalho sujo” dentro do garrafão, brigando pelos rebotes e ancorando todo o sistema defensivo de sua equipe. 

Para essa árdua missão, é exigido dessa peça em quadra grande força física, o que geralmente está associado a uma avantajada massa muscular, o que se reflete diretamente no peso do atleta. Para fins de comparação, o membro do Hall da Fama do esporte, Shaquille O’Neal, batia a mesma altura do jovem pivô do Thunder, porém distribuídos em incríveis 147 kg.

Shaq, ainda em seus tempos de Orlando Magic. Barry Gossage/NBAE

O diferencial mesmo de jogadores como ‘Wemby’ e Chet fica por conta da polivalência dentro de quadra: capazes de arremessar de longa distância, passar a bola com qualidade e ainda assim defender como poucos jogadores dentro da liga. Essa vantagem no tamanho em relação aos demais atletas rende um número expressivo de tocos na carreira de ambos: mais de 3 para cada – média similar a de alguns dos maiores defensores da história do jogo, por exemplo.

Por conta desse conjunto de habilidades e tipo físico muito únicos, os jovens de Spurs e Thunder são considerados o que os especialistas no jogo de bola ao cesto gostam de chamar de “Unicórnio”. O maior expoente dessa categoria na história recente da liga talvez seja o ala ou ala-pivô do Phoenix Suns, Kevin Durant. Jogador mais valioso da liga (MVP) em 2016, o bicampeão pelo Golden State Warriors sempre surpreendeu pelo corpo esguio – além do altíssimo nível de basquetebol praticado, é claro.

Kevin Durant, ainda em sua temporada de calouro. David Liam Kyle/NBAE

O Slim Reaper (algo como “Ceifador Magro”, em tradução livre) já é um dos jogadores mais marcantes de sua geração. Quatro vezes cestinha da temporada, o atleta era grande demais para os demais alas da liga de basquete mais competitiva do mundo e muito ágil para um ala-pivô comum5. Com isso, sempre foi uma dor de cabeça para as defesas adversárias, batendo médias de 27,3 pontos por jogo ao longo de sua carreira6 – a quarta maior da história do campeonato7.

Não se sabe o que o destino reserva para as carreiras de Victor Wembanyama e Chet Holmgren, afinal ambos nem fizeram suas estreias oficiais. A promessa é por uma briga acirrada pelo cobiçado prêmio de calouro do ano. Junto a nomes como Scoot Henderson, do Portland Trail Blazers, e Brandon Miller, do Charlotte Hornets, os dois jovens pivôs são os favoritos à conquista8. O que se pode dizer mesmo é que a onda dos “Unicórnios” chegou de vez na NBA, e aparentemente, veio para ficar.


Referências

¹ Wembanyama e Holmgren brilham em duelo de fenômenos na pré-temporada da NBA | NBA | ge (globo.com)

² NBA: Fora da temporada, lesão de Chet Holmgren preocupa para o futuro (uol.com.br)

³ Tweet do setorista Brian Windhorst, da ESPN, na íntegra.

4 O que é ‘small-ball’, técnica de jogo que é tendência da NBA

5 NBA: Armador, ala, pivô: entenda o que significam as posições na NBA (uol.com.br)

6 Kevin Durant Stats, Height, Weight, Position, Draft Status and more | Basketball-Reference.com

7 NBA & ABA Career Leaders and Records for Points Per Game | Basketball-Reference.com

8Quais os favoritos aos prêmios individuais da NBA? Confira | Gazeta Esportiva

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