A que Maraca eu vou?

Ele está de volta. Dois anos e meio depois de fechar as portas para uma reforma total, o “Maracanã” vai reabrir. Depois de quase R$ 900 milhões gastos, de protestos de operários, índios, militantes; falatório de torcida, FIFA e imprensa. Uma bola vai rolar no gramado do “Maior do Mundo”. Que vai estar um pouco menor, é verdade. A “casa dos 200 mil torcedores” pode receber hoje 78.639 pessoas, entre torcedores, cartolas e “fifeiros” (os representantes da FIFA, que já começam a ser presenças constantes no Brasil).

Esse texto era pra ser escrito no fim do ano passado, data estipulada pela FIFA para a entrega da “arena” para as Copas das Confederações e do Mundo. Mas, como bons brasileiros, adiamos. E adiamos de novo. E ainda nem acreditamos que neste sábado, 27, teremos onze de cada lado em um amistoso fechado e festivo que seja. Não sou amigo do Bebeto. Nem conheço Ronaldo. Mas é bom um pré-teste fechado. Com jogadores idolatrados pela torcida. Evita vexames, como foi a reabertura do Mineirão.

Entre o Bellini e a Uerj – o recheio – parece tudo bem. Com testes de iluminação 100%, telões incríveis, cadeiras coloridas e grama nova. Preocupa-me o entorno, recentemente envolto em polêmicas. “Duvido que eles terminem em uns três meses”, puxou papo um taxista a caminho da Rodoviária. “É, tem muita coisa ainda”, emendei animado como quem acaba de bater uma laje em uma construção. Antes de Brasil x Inglaterra, em 02 de junho, o lado de fora do estádio deve ganhar um reforço, algo “para inglês ver”.

Obras Entorno Maracanã

 

Discute-se também a elitização, com preços dos ingressos padrão FIFA. Cabe saber se Geraldinos ainda terão espaço. Se Arquibaldos vão dominar o pedaço. Ou se veremos, se Nelson Rodrigues me permite, uma nova categoria: os Camarotas. Aqueles que só vão de camarote, na empáfia rica que não representa o Mário Filho antigo.

De qualquer forma, ele reabre. É bem provável que mantenha o charme, do alto dos seus 63 anos. Que reconquiste em poucos lances a torcida. Afinal, a relação de afetividade com o estádio é marcante nos moradores da cidade. Essa “cultura afetiva”, termo usado por Le Breton (2009), vem da significação de cada jornada naquelas arquibancadas que o torcedor confere ao Maracanã, desenvolvida pela emoção experimentada. “É uma atividade de conhecimento, uma construção social e cultural, a qual se torna um fato pessoal mediante o estilo particular do indivíduo” (LE BRETON, 2009, p. 11-12).

E entre ufanismos de que “agora o Brasil vai”, pessimismos – “gastamos milhões nessa obra e nossas escolas estão de mal a pior”, maracanazos e futebol arte, Scolaris e descolados, pelo menos teremos a velha e nova casa. Uma excelente notícia para o torcedor do Rio que se sentia sem lugar, já que nunca teve tanto carinho pelo Estádio João Havelange. E qualquer campeonato que seja, sem Rio de Janeiro, capital, complica.

Logo, logo, voltaremos a cantar: “domingo, eu vou ao Maracanã. Vou torcer pro time que sou fã”. Pelo menos até o próximo “fechado para reforma”.

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Referências:

LE BRETON, David. As paixões ordinárias: antropologia das emoções. Tradução de Luis Alberto Salton Peretti. – Petropolis, RJ: Vozes, 2009.

http://www.maracanaonline.com.br/

Veja aqui matéria com vídeo sobre a reabertura.

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