Vem da Bahia uma das histórias mais surpreendentes do futebol brasileiro atual. Mais especificamente, de uma cidade chamada Alagoinhas.
O Atlético de Alagoinhas (cujo nome oficial é Alagoinhas Atlético Clube) foi fundado como clube profissional em 1970 e não demorou para chegar à decisão do Campeonato Baiano. Em 1973, disputou o título de campeão estadual contra o Bahia, que venceu a final por 2 a 0. Os atleticanos só voltariam a uma decisão estadual 47 anos depois. Fez história nas décadas seguintes como um time pequeno do interior nordestino. Uma história de poucos recursos, muita dificuldade e resultados pífios, como é comum de acontecer com os times de cidades menores.
Ser dirigente de um clube como esse não é o grande sonho de nenhum futebolista. Tanto é assim que o Atlético, em 2019, passou por uma eleição sem candidatos para a sua presidência. A situação foi contornada com um acordo interno, que deu origem à candidatura única de Albino Leite.
Aqui a história começa a ficar interessante.
Albino Leite não se destaca por ser um dirigente de ideias muito modernas. Não é um gestor de clube-empresa. Seu estilo é mais parecido com o de Eurico Miranda. Está longe de ser um gerente frio e calculista que faz a análise ponderada da conjuntura e toma decisões racionais. Albino é passional, polêmico, brigão e vive se metendo em confusão.
Em pleno ano de 2020, quem apostaria em um dirigente desse tipo?
Mas o Atlético de Alagoinhas surpreendeu naquele ano e, pela segunda vez em sua história, chegou à decisão do Campeonato Baiano. Na final, novamente o Bahia, assim como em 1973. Foram dois empates nas duas partidas decisivas e as equipes partiram para a disputa por pênaltis. O Bahia venceu por 7 a 6. E logo depois o presidente Albino polemizou: reclamou da arbitragem e cogitou uma anulação da partida decisiva.
“Eu não posso falar que foi garfado. Solicitei as imagens do VAR. Enquanto não tiver isso na mão, não posso ter um resultado do meu ponto de vista. Preciso analisar. Mas se essa bola [do gol do Bahia] tiver realmente 100% fora, meu irmão (sic), aí as ações jurídicas e esportivas vão ter de trabalhar, trabalhar direitinho”.
Albino Leite, após a final do Campeonato Baiano de 2020
E lá foi o Atlético de Alagoinhas disputar a Série D de 2020. O vice-campeão baiano, passando por dificuldades econômicas (como de costume), não chegou às fases finais. Albino Leite resolveu desabafar. Em um vídeo, após uma partida contra o Bahia de Feira, o presidente reclamou da torcida do próprio time, que chamava de amadora a diretoria do Atlético. Em seguida, anunciou a conta bancária do clube e pediu dinheiro: 50 reais de cada torcedor.

“É a hora de ajudar nossos atletas, que são pais de família. Eu já não estou aguentando mais, eu preciso pagar a folha dos jogadores”.
Albino Leite, após vitória diante do Bahia de Feira na Série D de 2020
Fácil perceber que o Atlético de Alagoinhas, mesmo sendo vice-campeão estadual, continuava sendo uma aposta arriscada.
Aposta arriscada, mas em 2021 lá estava o clube, novamente, na final do Campeonato Baiano. O Atlético enfrentou o Bahia de Feira. Empatou a primeira partida, venceu a segunda e se sagrou campeão baiano pela primeira vez em sua história. Albino Leite, consagrado, entrou em confusão poucos dias depois.
Segundo um radialista da cidade de Alagoinhas, os jogadores campeões de 2021 não haviam recebido a premiação conforme combinado. Albino foi à rádio falar do assunto, discutiu com o radialista, o bate-boca viralizou na internet e aumentou a fama do presidente do Atlético fora da Bahia.
Atlético e Albino seguiram em frente. Na primeira Copa do Nordeste do clube, em 2022, as perspectivas não eram muito otimistas, mas o time conseguiu passar da primeira fase. Um êxito que foi bastante comemorado. O Atlético foi desclassificado logo em seguida, ao enfrentar o Fortaleza, quarto colocado da Série A de 2021 e classificado para a Libertadores da América de 2022. O Fortaleza, aliás, foi o campeão daquela Copa do Nordeste. Confusão envolvendo Albino Leite? Sim, a Copa do Nordeste também teve. Após a partida entre Atlético de Alagoinhas e Ceará, em fevereiro, o presidente do clube baiano foi denunciado por ter invadido o vestiário dos árbitros e os ameaçado de morte. Albino negou que isso tivesse ocorrido. Segundo uma nota divulgada à imprensa, ele assumiu que “cobrou, sim, com veemência a arbitragem”, mas sem invadir vestiário ou fazer ameaças de morte.
Doze dias depois da desclassificação na Copa do Nordeste diante do Fortaleza, lá estava o Atlético, pela terceira vez seguida, na final do Campeonato Baiano. O adversário dessa vez era o Jacuipense. Na primeira partida da decisão, em Alagoinhas, houve empate em 1 a 1. Logo no dia seguinte, foi anunciada a demissão do diretor de futebol do Atlético, Luiz Matos. Como era de se esperar, surgiram comentários de crise interna, mas o clube declarou oficialmente que o diretor se demitiu por questões pessoais.
A situação era um tanto problemática: diretor de futebol recém-demitido, suspeita de crise interna e partida decisiva no estádio do adversário (que havia sido o primeiro colocado na primeira fase da competição). O Atlético, mais uma vez, parecia ser a aposta mais arriscada. Pois bem: o time foi ao município de Riachão do Jacuípe, venceu a decisão por 2 a 0 e se tornou o primeiro clube do interior baiano a ser campeão estadual duas vezes seguidas.

O Atlético de Alagoinhas, certamente, não está muito acima dos outros clubes baianos. Falta-lhe dinheiro, sobram incertezas. Diante do Bahia e do Vitória, continua sendo um nanico. Inspira pouca confiança. E quem imaginaria que o clube presidido pelo agitado Albino Leite acumularia êxitos por três anos consecutivos?
O Atlético acumulou: chegou a três decisões seguidas do campeonato estadual e venceu duas. Quem puder que explique.
Albino Leite, aliás, poderia ser reeleito com alguma facilidade para a presidência do clube. Já declarou que não se candidatará. Talvez surja alguma polêmica em razão dessa declaração. Tudo bem: de polêmica, ele entende.