“Os prefeitos das cidades e os governadores dos estados ainda estão discutindo sobre os estádios do Mundial. Se continuarem a trabalhar assim, quando chegar a Copa das Confederações, não realizaremos jogos no Rio e em São Paulo. Os estádios do Mundial não estão preparados.” Joseph Batler
Ao ver essa frase, publicada no caderno de Esportes do Jornal O Globo de 29 de março, tive a ideia de escrever sobre este vovô, que é o Estádio Jornalista Mário Filho, popularmente conhecido como Maracanã. É este mesmo palco de tantas glórias que Blatter sugere não estar preparado para sediar os jogos da Copa das Confederações, evento que antecede a Copa do Mundo e serve para “testar” a infra-estrutura do país anfitrião. Joseph Blatter ainda foi além em seu discurso:
“Gostaria de dizer para meus colegas brasileiros que a Copa de 2014 é amanhã. Os brasileiros acham que ela vai ser depois de amanhã. As coisas não estão avançando muito rápido. É preciso se apressar, pois está tudo muito lento.”
Só para finalizar o assunto iniciado no início do texto, Blatter teria criticado a organização dos jogos, a mesma que havia elogiado no início de março (fonte), como uma revanche pelo apoio dado por Ricardo Teixeira a candidatura do Qatar para sede da Copa de 2022. O presidente da Federação Asiática de Futebol, Mohamed bin Hamman, que liderou a campanha pró-Qatar, é candidato da oposição à reeleição de Blatter na FIFA. Entendendo o apoio de Teixeira ao Qatar como um implícito voto em Hamman, Battler, “macaco velho”, decidiu retaliar na primeira oportunidade encontrada. No dia seguinte as críticas, a CBF publicou nota refutando as afirmações de Joseph Blatter. No Globo do dia 30 de março foi publicado ainda um box com a atual situação de todas as futuras sedes da Copa de 2014:
À parte os joguetes políticos envolvidos por trás dessas afirmações, decidi contar resumidamente nesse post a história do Maracanã.
Uma rápida interrupção na linearidade em prol da informação (in)útil. A origem etimológica da palavra Maracanã vem da língua indígena tupi: “maracá” (chocalho) e “nã” (semelhante). Separadas não fazem muito sentido, mas juntas elas designam o som feito por uma papagaio da espécie Maracanã-guaçu.
Voltando a linearidade ortodoxa, se olhamos para trás, veremos que, se hoje supostamente falta estrutura ao Maracanã, no passado, ele foi palco de grandes jogos, clássicos clubísticos e duelos de seleções. Por seus gramados, já passaram mitos do futebol Mundial, como Roberto Dinamite , Zico, Garrincha, Rivelino, Ronaldo Fenômeno, dentre vários outros. Pelé entrou para história mundial ao marcar seu milésimo gol nesse mesmo estádio “não preparado para a Copa”. Brasil e Uruguai disputaram a final mais memorável de todas as Copas do Mundo em 1950. O Maracanazo é até hoje lembrado, não apenas por brasileiros e uruguaios, mas por amantes do futebol em todo o mundo.
E não apenas de futebol vive o ex-maior do mundo. Grandes astros da música também já mostraram seu talento no “Maraca”: Frank Sinatra (“o maior [show] de toda a história do estádio”, segundo o site da Suderj), Paul McCartney, Madonna, Rolling Stones, Ivete Sangalo e Roberto Carlos. Em 1980 e 1997, ainda tivemos a visita do então papa João Paulo II.
O projeto de construção do Estádio Municipal do Rio de Janeiro se deu em função da Copa de 1950. Candidato único a sede dessa edição, face a crise econômica que a maioria dos países vivenciavam no pós-guerra, o Brasil tinha de se estruturar minimamente e construir estádios para os jogos (veja mapa com os estádios construídos para Copa de 1950). O complexo esportivo do Maracanã era composto pelo Maracanãzinho, pelo Estádio de atletismo Célio de Barros e pelo Parque Aquático Júlio Delamare (passível de ser demolido com as atuais obras para a Copa de 2014). Incluindo o estádio principal, temos um espaço total de 195.600 m2 .

Sua construção iniciou-se em 02 de agosto de 1948, apenas 2 anos antes do início da competição. Como prova da garra e do empenho do povo brasileiro, o estádio conseguiu ficar pronto a tempo, ainda que não totalmente finalizado. Prova inequívoca, aliás, da capacidade brasileira de lidar com prazos exíguos. Segundo Lycio Ribas no livro “O mundo das Copas”, foram necessários para a construção do Maracanã “quinhentos mil sacos de cimentos, seis empreiteiras e 4.500 operários” (2010, p. 52). A previsão oficial de público do estádio era de 155 mil pessoas. No entanto, já chegou a abrigar muito mais do que isso. Em 1969, pelas eliminatórias da Copa, o jogo Brasil e Paraguai recebeu 183.341 pessoas no estádio.
Maiores Públicos
1°) 31/08/1969 – Brasil 1 x 0 Paraguai (183.341).
2°) 15/12/1963 – CR Flamengo 0 x 0 Fluminense FC (177.020).
3°) 04/04/1976 – CR Flamengo 3 x 1 CR Vasco da Gama (174.770).
4°) 21/03/1954 – Brasil 4 x 1 Paraguai (174.599).
5°) 16/07/1950 – Brasil 1 x 2 Uruguai (173.850).
6°) 15/06/1969 – Botafogo FR 0 x 0 AA Portuguesa ‘Carioca’ (1° jogo).
Fluminense FC 3 x 2 CR Flamengo (2° jogo).
(rodada dupla: 171.599).
7°) 22/12/1974 – CR Flamengo 0 x 0 CR Vasco da Gama (165.358).
8°) 09/03/1977 – Brasil 6 x 0 Colômbia (162.764).
9°) 06/12/1981 – CR Flamengo 2 x 1 CR Vasco da Gama (161.989).
10°) 06/05/1973 – Bangu AC 2 x 1 Madureira EC (1° jogo).
CR Flamengo 1 x 0 CR Vasco da Gama (2° jogo).
(rodada dupla: 160.342).
11°) 29/04/1979 – Botafogo FR 2 x 2 CR Flamengo (158.477).
12°) 29/05/1983 – CR Flamengo 3 x 0 Santos FC (155.253).
Fonte: http://www.rsssfbrasil.com/miscellaneous/attmaraca.htm
A partida inaugural se deu em um amistoso não oficial, realizado em 17 de junho, envolvendo um mistão de São Paulo contra Rio de Janeiro. Didi foi o autor do primeiro tento do estádio, mas a vitória ficou com a equipe paulista por 3 a 1. A primeira partida oficial, já pela Copa do Mundo, se deu no dia 24 de junho, num duelo entre Brasil e México (Ribas, 2010, p.52)
Aqui cabe um adendo em relação ao episódio mais traumático da história desse estádio: o Maracanazo, já mencionado rapidamente no início do post. Sediando a Copa e favorito na final, o Brasil caiu diante de um surpreendente Uruguai. Nos dois jogos anteriores a final, o Brasil havia vencido a Espanha e a Suécia por placares elásticos de 6×1 e 7×1, respectivamente. Por outro lado, o Uruguai vinha de um empate e de uma vitória apertada sobre a Suécia. Na final, o Brasil perdeu de virada para o Uruguai por 2×1 diante de cerca de 200 mil torcedores. Esse episódio tinha tudo para diminuir o brilho do então “Maior do Mundo”. Não foi isso que ocorreu, e o Maracanã continua reverenciado por todos os brasileiros.
Após a Copa do Mundo, o Maracanã ainda sediaria outros jogos memoráveis. De finais de Mundial de Clubes, me recordo, graças ao Google, do Santos e Milan em 1963, que terminou com vitória santista de virada por 4 a 2. Tivemos ainda a derrota do Vasco nos pênaltis para o Corinthians em 2000. De finais de Brasileiro, Flamengo e Atlético/MG deve ser uma das mais lembradas. O rubro negro carioca sofreu, mas conseguiu sagrar-se campeão brasileiro daquele ano, ganhando o jogo por 3 a 2. Inúmeras finais de cariocas, o que torna impossível citar uma em especial. Recentemente, o “Maraca” presenciou também, já na era dos pontos corridos, a conquista da Série B pelo Vasco em 2009, da Série A pelo Flamengo nesse mesmo ano e, em 2010, o título brasileiro do Fluminense.
Em tempo, as obras no Maracaña já estão em andamento, com previsão de conclusão para março de 2013 (inicialmente, previa-se dezembro de 2012), quatro meses antes do início da Copa das Confederações, segundo Ricardo Teixeira (matéria do jornal O Globo, Caderno de Esporte, página 6, 01 de abril). Ao custo inicial de 700 milhões de reais , esse valor já está, hoje, em 1,05 bilhões de reais, um aumento de 50% (o limite permitido em licitações públicos), devido, em parte, a instalação de uma nova marquise, com a necessária demolição da antiga. Anteriormente, entre abril de 2005 e janeiro de 2006, o Maracanã já havia passado por obras visando os Jogos Panamericanos de 2007 (extinção da geral para instalação de cadeiras).

As visitas ao Maracanã ocorrem todos os dias das 9h às 17h. Visite o site da Suderj e veja mais informações.
Fontes de pesquisa:
Livro O mundo das Copas de Lycio Vellozo Ribas;