Cerveja e futebol, uma longa e conturbada relação

No último dia 16 de outubro foi liberada a comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios do Rio de Janeiro, antes, durante e após as partidas de futebol. O governador Luiz Fernando Pezão sancionou a lei 7083 que autoriza a venda e consumo da cerveja, e já no próximo jogo no Maracanã, do dia 21 de outubro, Fluminense X Palmeiras, pela Copa do Brasil, a bebida será comercializada.

A discussão em torno do projeto de lei para a liberação se deu entre as principais instituições de futebol do Estado e políticos interessados no tema. E, após a lei ser sancionada na Bahia, ainda em 2014, em seguida no Rio Grande do Norte, e em Minas Gerais, em agosto último, o movimento ganhou força no Rio de Janeiro, enquanto se espera uma definição federal sobre o assunto.

O Ministério Público Federal tenta barrar no Superior Tribunal Federal (STF) as decisões estaduais. O Brasil conta, desde 2008, com dois documentos proibitivos sobre o consumo de bebida alcoólica nos estádios. A Resolução 1/2008 da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) torna ilegal a venda das bebidas “nos estádios que sediem partidas de futebol integrantes de competições coordenadas pela CBF, cujas partidas são organizadas pelas federações e pelas entidades de prática desportiva detentoras do mando de jogo (clubes).” Já a lei 12.299/2010, presente no Estatuto do Torcedor, no artigo 13-A do texto, considera ilegal a entrada e permanência nas arenas com “bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”, artigo este que dá margem para outras interpretações. Mas a CBF, através do Regulamento Geral de suas competições, admite a observância das leis estaduais ou municipais.

Contudo, durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, o consumo da cerveja foi liberado em todos os estádios que receberam jogos do evento.

Fonte: globoesporte.com

Cabe lembrar que a proibição da cerveja nos estádios se deu, inicialmente, como forma para conter a violência nos estádios. Mas não existe evidência que comprove qualquer relação entre consumo de cerveja e a violência. Na Inglaterra, por exemplo, as autoridades acreditavam que a proibição da bebida diminuiria a hostilidade no futebol. Após longo estudo, foi verificado o crescimento do consumo de álcool pelos torcedores antes das partidas, nos bares próximos aos estádios, o que aumentaria chances de encontros violentos entre torcedores rivais.

“Pesquisa feita pela FGV revela que apenas 5% da população pensa que o consumo de bebida alcoólica no estádio tem alguma relação com violência, e conclui que os principais fatores que a influenciam são: grupos fanáticos de torcedores, decisões de árbitros, declarações de jogadores, treinadores e dirigentes, notícias esportivas, infraestrutura inadequada dos estádios de futebol, falta de controle policial e falta de preparo dos agentes de segurança pública no tratamento ao torcedor (TRENGROUSE, 2014).”

No Brasil, a relação entre a cerveja com o futebol é mais antiga do que parece. A Brahma, por exemplo, é patrocinadora da seleção brasileira, do evento Copa do Mundo e dos principais clubes e estádios. Como o próprio discurso da marca afirma em sua página oficial na internet: o futebol teria sido incorporado ao DNA da marca, quando a parceria com a seleção brasileira foi firmada no início no ano de 2001. A Brahma hoje mantém relações comerciais com jogadores e técnicos, se faz presente nos eventos e estádios de futebol, além de realizar ações com torcedores, buscando fidelização à marca.

Brahma, patrocinadora oficial da seleção brasileira

Porém, através de pesquisa na Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, foi possível constatar que já nas Copas de 1958 e 1970 a Brahma já tinha uma identificação estreita com o futebol, o que antecede o patrocínio a seleção brasileira em 2001. Em 1958, a empresa patrocinou a transmissão dos jogos pela rádio para todo o país, distribuindo alto-falantes por praças públicas para que assim os torcedores pudessem acompanhar a Copa daquele ano. Mas como patrocinadora oficial da Copa do Mundo FIFA só começou em 2010.

Nesse sentido, quem sai ganhando com a lei sancionada é o torcedor que esperava até o último momento para entrar no estádio, tomando a “cervejinha”, e os clubes que serão beneficiados com nova possibilidade de renda. No entanto, para o próximo jogo no Maracanã, resta saber como a concessionária que administra o estádio vai organizar a venda, visto que faltam empresas para cuidar das lanchonetes no local.

Fontes:

RIZZO, Marcelo. Aumenta a articulação para liberar consumo de cerveja nos estádios – Folha de São Paulo – 19/10/2015

TRENGROUSE, Pedro. Cerveja e futebol, paixões nacionais. Gazeta do Povo, 14/07/2014. Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/cerveja-e-futebol-paixoes-nacionais-eawf8c13bll1mk4rcc87045zi Confederação Brasileira de Futebol – http://www.cbf.com.br/

Estatuto do Torcedor – http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.671.htm

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