Copa do Mundo, Política e Eleições

Costuma soar como opinião culta e politizada associar as vitórias e derrotas da seleção brasileira em Copas do Mundo com o resultado das eleições presidenciais no país. Esta tendência tem aparecido quase que invariavelmente a cada Copa do Mundo, principalmente após a de 1970, uma espécie de Copa paradigma para esta associação, já que realizada durante o auge do regime militar no país, com a recente instauração do AI5.

Já tentei demonstrar em outra ocasião (O Globo, 16 de junho de 2006) a fragilidade e o equívoco desta associação. De fato, as eleições presidenciais ocorrem alguns meses depois da Copa do Mundo, mas qual seria a influência da participação da seleção brasileira na competição no voto do eleitor? A julgar pelas últimas quatro edições das Copas, a resposta é: nenhuma!

Senão vejamos. Em 1998 a seleção chegou à final contra a anfitriã França e perdeu por um placar de 3 a 0. O então presidente do país, Fernando Henrique Cardoso, venceu as eleições no primeiro turno, acreditamos que embalado pelo êxito do “Plano Real”. Houve uma CPI para apurar a influência da Nike no episódio envolvendo Ronaldo Fenômeno. Porém, nenhuma influência teve o resultado nas eleições. Do contrário, o candidato da oposição, Luis Inácio Lula da Silva teria vencido.

Em 2002, o Brasil vai para a Copa com a imprensa e a torcida desacreditando no sucesso da seleção. O então técnico, Luis Felipe Scolari, se recusou a convocar Romário, herói do tetra em 1994, e decidiu convocar Ronaldo, que vinha de uma série de contusões. A seleção conquista o pentacampeonato e três meses depois o candidato da oposição à presidência da República, Luis Inácio Lula da Silva, vence as eleições.

Na Copa de 2006, a seleção foi dirigida pelo técnico da conquista do tetra em 1994, Carlos Alberto Parreira. Muito criticado na época desta conquista por ter armado uma equipe que, segundo os especialistas, violentava o suposto estilo de jogo do Brasil, Parreira coloca no ataque o que ficou conhecido como “quadrado mágico”: Ronadinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Kaká e Adriano. O Brasil é eliminado pela França nas quartas-de-final. Foi derrotado por 1 a 0. Ainda assim, com todo o desencanto da torcida pela derrota de uma equipe que deveria ter demonstrado mais, Lula é reeleito presidente da República.

Em 2010, o ex-jogador e ex-capitão da seleção brasileira em 1994 e 1998, Dunga, comanda a seleção. Sem demonstrar simpatia com a imprensa, Dunga acaba se tornando alvo de críticas da mesma, principalmente da Rede Globo. Após a eliminação do Brasil para a Holanda nas quartas-de-final, por 2 a 1, as críticas foram expressivas. Qual a influência desta derrota para as eleições presidenciais que ocorreram meses depois? Nenhuma. A candidata da situação Dilma Roussef, é eleita presidente do país.

Em 2014 teremos a Copa do Mundo no país. O uso político que se fará dela deverá depender mais do sucesso da organização do que da participação da seleção. Nas pesquisas de opinião sobre as intenções do voto do eleitor, a participação da seleção em Copas simplesmente inexiste (vide livro A cabeça do eleitor). O eleitor é muito mais inteligente do que supõe a frágil e equivocada opinião supostamente culta que associa resultados da seleção com as eleições presidenciais.

3 thoughts on “Copa do Mundo, Política e Eleições

  1. Sim, Concordo. Importante desmistificar a correlação entre os dois eventos. Além do êxito esportivo nacional (que possui peso considerável sobre a opinião pública, sem dúvidas), a consciência política da população brasileira precisa estar atrelada a fatores mais relevantes à construção de uma sociedade mais equilibrada econômica e socialmente falando. Ótimo texto.

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