O jornalista e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Márcio Guerra comenta nesta terceira parte da entrevista concedida ao Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte suas impressões acerca de como será a cobertura da imprensa brasileira dos Jogos Olímpicos antes, durante e após as competições. Para Márcio Guerra, há a possibilidade de mudanças de posicionamento em relação ao trabalho feito na Copa do Mundo 2014 e que é alvo de críticas por parte do entrevistado:
“Eu acho que não (o pessimismo não tomará conta da grande mídia quanto aos Jogos), em geral. Em São Paulo, no entanto, sim (pode haver pessimismo). Nós sofremos de um mal, desde o início do esporte brasileiro, que é a rivalidade entre Rio e São Paulo: algo nefasto para o desenvolvimento do esporte brasileiro. Os jornalistas paulistas podem criar maiores resistências ao evento e apresentar ao público mais falhas do que os jornalistas do Rio de Janeiro e do restante do Brasil.”
Esse “clima mais favorável” tem como principal causa a percepção pelos próprios veículos de comunicação que a estratégia e o discurso utilizados na Copa do Mundo de 2014 apresentaram fragilidades, apontadas em artigos pelos analistas e críticos das coberturas esportivas, e que ficaram “aquém” se comparados ao trabalho desempenhado pela imprensa internacional durante a competição, segundo Márcio Guerra. Os Jogos Olímpicos surgem, neste contexto, como uma possibilidade de reformulação e evolução positiva.
“Eu e a professora Christiane Paschoalino fizemos um levantamento do dia do jogo do ‘7 a 1’, analisando dois canais que tinham direitos de transmissão da Copa, e o que esses profissionais fizeram com o trabalho da seleção brasileira foi deplorável. Antes do jogo, fizemos uma decopagem, que foi inclusive objeto de trabalho apresentado no INTERCOM (‘A goleada inesperada e o ressurgimento do “complexo de vira-latas”.’). Percebíamos claramente que havia um apoio total às decisões do Luiz Felipe Scolari, ao treinamento feito até então. Mas, à medida que o Brasil sofria os gols, os elogios desmoronavam e seleção só a partir de então passou a ‘não prestar’.”
Não se pode negar que em Copas do Mundo, independentemente da qualidade técnica da seleção convocada, a cobertura da imprensa é bastante permeada por uma pressão por título devido à tradição do país nos gramados. A pressão e a emoção, fatores presentes no esporte, não deixam de ser catalisadores de análises equivocadas pelos jornalistas, como as apontadas por Márcio. Em relação aos Jogos Olímpicos, tanto a mídia esportiva quanto os organizadores do evento e torcedores têm conhecimento da incapacidade do Brasil em fazer frente a potências esportivas como EUA, China, Rússia, França, Alemanha e Austrália pelas primeiras posições no quadro geral de medalhas.
Mesmo assim, já pode ser percebida uma cobrança, em termos de desempenho, pelo cumprimento da meta estipulada pelo Comitê Olímpico Brasileiro de o país estar no top-10 no ranking de medalhas, além da não tão recente expectativa pelo ouro no futebol, único título ainda não conquistado pelo futebol brasileiro. No que se refere à legado esportivo e urbano, as incertezas quanto à continuidade de projetos sempre existirá em razão de reviravoltas políticas e econômicas.
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