Nascido no Uruguai, mas há 30 anos morando no Brasil, Juan Silvera é pesquisador de comunicação e esporte na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, integrante do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte e tem como objeto de estudo as relações entre o futebol e a cultura dos dois países. Como parte de sua pesquisa de mestrado, ele entrevistou um dos ídolos do futebol de seu país e da história recente do Botafogo: Loco Abreu, que atualmente joga no Sol de América, clube da primeira divisão do campeonato Paraguaio.
Sebastián “El Loco” Abreu gera boas recordações entre os torcedores dos clubes que defendeu e os uruguaios justamente por ser visto como um jogador de qualidade técnica, goleador, mas, acima de tudo, por ser ousado em campo ao ponto de levar o coração dos torcedores à boca. A cavadinha ao bater pênaltis é sua característica marcante e entrou para a história do Maracanã. O gol que deu ao Botafogo o titulo do Carioca de 2010 contra o Flamengo, adversário que nos três anos anteriores havia transformado o clube da estrela solitária em “tri-vice” do torneio estadual, foi um grito de libertação para uma torcida que estava cansada de frustrações recentes.
“É muito difícil ver uma idolatria deste tipo: os torcedores do Botafogo com o Loco Abreu, a ponto de muitos deles vestirem a camisa ‘celeste’ e torcerem pelo Uruguai tanto quanto pelo Brasil, como foi visto na Copa do Mundo de 2010 na Africa do Sul. E o Uruguai era o país que tinha aplicado, até então, a maior derrota da seleção brasileira, o Maracanazzo, episódio inesquecível para ambas as nações. Por que isso acontece? Será a falta ídolos na história recente do Botafogo? Foram as circusntâncias em torno do gol (a provocação da cavadinha na final contra um grande rival)? É isso que estou querendo saber ao fazer essa pesquisa acadêmica, comenta Juan Silvera.
Muitos diriam que esse comportamento da torcida do Botafogo seria loucura. No entanto, Sebastian Abreu não foi nada “louco” quando se viu diante da bola posicionada na marca do pênalti e do goleiro rubro-negro:
“Você sabe que baliza foi aquela, em que dei a cavadinha? Onde o Uruguai foi campeão do mundo, onde Ghiggia fez o gol. Final no Maracanã, pênalti nessa mesma baliza… Eu não posso trair a história, teria que ser algo ‘grande’. Foi um ato profissional e, sobretudo, de muita responsabilidade. Sabia da importância desse pênalti para o objetivo do Botafogo e para o passado que nós, uruguaios, tínhamos vivido.

Apesar de o estádio Centenário ser o templo do futebol uruguaio, o Maracanã é também um palco de gala para a celeste bicampeã olimpíca e mundial por causa do Maracanazzo, como todos sabemos, mas agora também por essa história contada por Loco Abreu, de resgate de um passado glorioso com apenas um gesto, uma cavadinha, que alegrou não só uruguaios mas os botafoguenses em 2010. As torcidas cariocas não cansam de gritar a plenos pulmões “O ‘Maraca’ é nosso!”. Não será dos nossos hermanos uruguaios também?
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