O livro do Eclesiastes, em seu capítulo 1, versículo 9, nos ensina textualmente que “debaixo do sol não há nada novo”. Ou seja, tudo o que fazemos hoje: escrever em um blog, praticar esportes, fazer compras num supermercado… Nada disso é novo. São as mesmas coisas que fazíamos há cinco ou dez mil anos atrás, apenas com outras roupagens. Isso fica cada vez mais claro para mim, ao analisar as práticas, as sociedades e os indivíduos que as compõem.
Em um dos estudos mais incríveis a que já tive acesso, o pensador francês Étienne Bonnot de Condillac (1715-1780) estabeleceu a base do funcionamento de todos os seres vivos, desde que surgiu a vida neste planeta, conforme a conhecemos. Condillac escreveu o livro Essai sur l’origine des connaissances humaines (Tratado sobre a origem do conhecimento humano – 1746) , disponível aqui.
Nesta obra, Condillac desenvolve a sua Teoria das Sensações, em que diz que o que guia os seres vivos, sejam animais, vegetais, bactérias ou qualquer outra forma de vida, é uma única coisa: a sensação. Os viventes escolhem aquilo que é melhor para si, segundo seu entendimento. Na base dessa escolha está uma questão bem simples: a evitação da dor. Assim, o que nos move é uma equação que tenta maximizar o prazer e minimizar a dor. Claro que essa escolha não acontece sempre de modo racional, e há vários fatores envolvidos, mas basta observar qualquer que seja o ambiente onde seres vivos se encontram que essa assertiva é facilmente comprovada.
Para mim isso não é mais uma teoria, já deveria ter sido elevada à categoria de Lei universal, como a Lei da Gravidade, ou da gravitação dos planetas. Mas porque estou falando desse assunto, que aparentemente não está ligado ao esporte? Se é assim que voismicê pensa, improvável leitor, volte ao primeiro parágrafo, ao Eclesiastes, e aproveite para ouvir outro sábio, o grande e saudoso Raul Seixas, que, tendo Marcelo Nova como cúmplice, citou esse mesmo versículo em uma de suas músicas. O trecho em questão é aos 3:15. Confira aqui:
Por quê? O motivo é que recentemente fui a um torneio de basquetebol promovido pela Federação de Basquetebol do Rio de Janeiro. Pois bem, era um torneio de garotos, categoria mirim (até 12 anos). Uma das partidas a que assisti foi Vasco da Gama x Botafogo. Um passeio da equipe “vascaína”. Massacre total. Após o jogo, fui conversar com a molecada e fiquei pasmo ao descobrir que mais de 80 por cento daqueles garotos que envergavam a camisa cruzmaltina eram… Flamenguistas! Isso mesmo!
Eles, seja porque a oportunidade só surgira no Vasco, ou porque era mais cômodo para si ou para seus pais (talvez morassem mais perto de São Januário que da Gávea), ou ainda porque o horário dos treinos lhes era mais conveniente no clube português, estavam ali, não apenas vestindo o uniforme do rival, porém muito mais que isso, defendendo bravamente suas cores em quadra. Sou testemunha de que não fizeram corpo mole em momento algum. Jamais alguém poderia supor que não eram vascaínos! E disseram que jogavam contra o Flamengo, seu clube de coração, com a mesma garra, buscando a vitória (e consequentemente, a derrota do Flamengo).
Curioso fui até o meu baú de sabedoria, a maior fonte de conhecimento que eu já tive em minha vida: meu pai. Eu lhe perguntei:
– Pai, se meu filho, flamenguista, receber uma proposta para jogar no Vasco, ele deve aceitar?
– Ora, meu filho, é claro que ele deve aceitar. Ele tem que olhar primeiro o seu lado. Essa história de jogar somente pelo Flamengo já era!
Aquilo me chocou. Sei que meu pai só me diz a verdade, como tão bem descreveu o Manowar, em 16 idiomas, (inclusive em português!):
Eu, porém, jamais vestiria a camisa de um clube carioca que não seja o Flamengo. Já vi casos de apostas entre seguidores de times rivais nas quais a “punição” pra quem perdesse a aposta era vestir a camisa do outro clube e ser fotografado, ou sair às ruas. No próprio esporte profissional vi casos como o de Júnior “capacete”, Leandro “peixe-frito” e Zico, que afirmaram que no Brasil só jogariam pelo Flamengo, jamais por outro clube , apenas “para não ter que jogar contra o Flamengo”. Outro exemplo foi do Zagueiro flamenguista Aldair, considerado o melhor do mundo, e que passou 13 anos no AS Roma, da Itália (1990 – 2003). Ao deixar o Roma, muito homenageado, disse que iria jogar na segunda divisão, no Genoa, pelo mesmo motivo, para não ter que jogar contra o Roma. Esse tipo de comportamento, onde os indivíduos parecem contrariar a teoria das sensações do Condillac, vejo que é coisa do passado. Atualmente o que os rege é cada vez mais a Lei de Murici, cujo enunciado é muito simples: “Cada um cuida de si”.
Ilustres Colegas:
Acompanhamos, desde o ano passado, este site com crescente interesse, culminando no post, maravilhoso, sobre “O Esporte, A Paixão e “Lei de Murici”. Congratulo-os!
Na Faculdade de Direito da UFRGS, desenvolvemos um currículo transdisciplinar em Direito Desportivo. Como nossa pesquisa se volta à compreensão da sociedade, creio termos objetivos comuns. Participo de diversos organismos e grupos de pesquisa com esse objetivo. O NIETE-UFRGS intenta de provocar um encontro nacional, em Novembro desde ano, em organização.
Desde 2006, trabalhamos na percepção de que nós, seres humanos, atuamos em quatro planos, conforme Teoria Geral do Direito Desportivo, a qual explicitamos em:
http://www.padilla.adv.br/desportivo/conceito/
Sobre O Esporte, A Paixão e “Lei de Murici”, eu concordo, Étienne Bonnot de Condillac (1715-1780) realmente estabeleceu uma base de funcionamento dos seres vivos no “Essai sur l’origine des connaissances humaines”, ou Tratado sobre a origem do conhecimento humano, escrito em 1746 em sua “Teoria das Sensações”, os seres vivos, sejam animais, vegetais, bactérias ou qualquer forma de vida, são guiados pela sensação, e escolhem aquilo que é “melhor” para si, segundo o entendimento.
Lamento que Piaget só escreveria suas ponderações um século depois porque, em nossa opinião, se Condillac tivesse acesso ao pensamento do epistemólogo suíço, teria sido ainda mais atual:
A base da escolha está uma questão simples de evitar o que aprendemos a considerar “ruim” e aproximar-nos do que consideramos “bom”. Basicamente, isso é uma das máximas da transdisciplinar NLP: Toda escolha decorre de uma boa intenção – boa na compreensão do agente…
Assim, tudo se reduz a uma equação para maximizar o “prazer” e minimizar a “dor”, conforme os padrões de aprendizado peculiares daquele indivíduo.
Por exemplo, se o ser aprendeu a fazer escolhas masoquistas, suas escolhas serão diferentes de outro sem tais padrões de aprendizado. A escolha não acontece de modo racional porque os seres também aprendem, desde cedo, a usarem o “piloto automático” do inconsciente, para agilizar as escolhas, a qual é uma estratégia necessária para a sobrevivência ao longo da evolução.
No direito e política, Jeremy Bentham criou a Teoria do Utilitarismo, pouco conhecida por uma conjunção de fatores.
Como Bentham, uma dos mairoes filósofos do Direito, Bonnot de Condillac parece ter sido outro precursor da compreensão do funcionamento da nossa sociedade “moderna”.
A sincronicidade em os encontrar impressionou-me. Melhor diria em inglês: I wonder…
O “Tratado sobre a origem do conhecimento humano”, de 1746, apontava exatamente no sentido a que chegaríamos com a nossa “Teoria Geral (dos 4 Planos) da Atuação Humana”:
About the former he believed that it is a fact of experience that the world, both natural and social, is a concatenation of things and events”. (Essay on the Origin of Human Knowledge trad. Hans Aarsleff, Princeton University, Cambridge p. XI)
O filósofo Condillac, de quem eu nunca havia antes ouvira falar (falha minha), antecipou parte do sentido, mais amplo, que daríamos na nossa Teoria Geral (dos 4 Planos) da Atuação Humana…
Antes de descobrir essa jóia, que é a obra do filósofo Condillac, e as demais dicas impagáveis do “C” – passei muitas madrugadas sem dormir, reformulando a apresentação da Teoria Geral em uma teia de 7 páginas… Inicie por
http://www.padilla.adv.br/crenca/
E siga pelas 6 primeiras indicadas em http://www.padilla.adv.br/processo/
Atenciosamente,
Professor PADILLA
http://lattes.cnpq.br/3168948157129653
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