Por Matheus Melgaço
“Neguinho safado”. Esta frase foi um insulto racial destinado ao atleta Vinicius Junior na saída de campo do estádio Nilton Santos em agosto de 2017, após uma partida entre Flamengo e Botafogo. Na ocasião, o atleta atuava no Flamengo. Este insulto não foi o primeiro e nem o último que Vinícius Júnior sofrera.
Desta vez, atuando pelo Real Madrid, um dos principais clubes de futebol do mundo, o atleta volta a ser alvo de insultos raciais com alta repercussão nos veículos de comunicação mas pouca ação prática das entidades esportivas responsáveis. Diante desse contexto, proponho refletirmos sobre como o racismo é uma poderosa ferramenta de subalternização de atletas negros no campo simbólico cujo processo não se dá no campo do afeto, do mérito, da capacidade cognitiva ou física. Se dá no campo da humanização, ou, melhor dizendo, da desumanização.
E, para entendermos o arranjo desse mecanismo, Quijano (2005) aponta que os europeus configuraram a modernidade a partir de uma linha hierárquica entre eles e não-europeus. Neste sentido, criou-se a ideia de que há um ponto de partida no curso civilizatório cujo ápice seria a civilização europeia. Em outras palavras, isto significa estruturar um determinado tipo de pensamento e conhecimento capaz de fabricar conceitos como uma ferramenta poderosa de hierarquia e distinção. A raça, diante deste cenário, foi um conceito instrumentalizado no campo simbólico para nomear as humanidades não-europeias como se fossem um ser menor, reflexo do homem ideal branco europeu (MBEMBE, 2014).
Sendo assim, diante de um contexto hegemonicamente branco onde não é possível que pessoas negras escapem totalmente de sua identidade racial, é preciso que reflitamos, conforme aponta hooks (2019), alternativas de amar e celebrar a negritude. A autora, com isso, destaca que o ódio e medo estão no imaginário coletivo quando se é invocado a ideia de negritude. Amar a negritude, portanto, é uma forma de descolonização dentro de um contexto supremacista branco que o nega enquanto possibilidade de ser.
Neste caminho, o esporte e em particular o futebol são uma plataforma de amor e celebração da negritude. Basta ver a contribuição que atletas negros deram para diversas modalidades, inclusive o futebol. No entanto, apesar desta plataforma promover autoestima e poder no campo simbólico, materializado em riqueza monetária, o racismo perpetrado no “neguinho safado” continua. Pois esta se mostra a estratégia mais eficaz de subalternização de corpos negros. É preciso, portanto, mecanismos duros e eficazes de combate a práticas racistas dentro dos estádios esportivos. O esporte em geral, e o futebol, em particular, merecem e devem continuar sendo palco de amor e celebração da negritude. Apesar de.
Referências bibliográficas:
MIGNOLO, W. D. Colonialidade: o lado mais obscuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 32, n. 94, p. 1-18, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v32n94/0102-6909-rbcsoc-3294022017.pdf. Acesso em: 17/09/2019
HOOKS, Bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
MBEMBE, A. Crítica da razão negra. Portugal: Antigona, 2014.
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