Embora ainda lide com todas as dificuldades que uma liga amadora enfrenta, a Liga Super Basketball (LSB) possui um desafio ainda mais ambicioso para esse ano. Além de todas as suas atividades da temporada, a LSB/Sodiê Doces vai disputar a Liga de Basquete Feminino (LBF). Com uma equipe formada, em sua grande maioria, por jogadoras que atuaram no campeonato feminino adulto da LSB, a intenção é dar novamente uma oportunidade a quem não tem. Em um período de baixa do basquete feminino brasileiro, que decepcionou nas Olimpíadas do Rio e não se classificou para o Mundial após 58 anos, o incentivo ao basquete feminino se torna ainda mais necessário, embora seja a única representante do Estado do Rio de Janeiro. Sobre a expectativa em participar da LBF, Guilherme Simões, presidente da LSB/Sodiê Doces, definiu assim: “Jogar a LBF é uma responsabilidade muito grande, principalmente com o resgate do basquete feminino no Estado. A expectativa é algo absurdo, uma alegria imensa. A comissão técnica e staff são pessoas geniais, que entenderam a proposta e estão dispostos a caminhar juntos com nosso objetivo”
A Liga nasceu em 2007. E fazer basquete na conjuntura brasileira dos últimos anos não é algo fácil. Em um país onde o futebol ocupa a maioria da pauta da imprensa esportiva e do apelo do público, o basquete ainda possui um espaço pequeno no cenário nacional. Após o sucesso da Liga Nacional à frente do Novo Basquete Brasil, nota-se uma cobertura maior, somente após 15 temporadas, do principal torneio de basquete do país. Se restringir a análise da modalidade ao Estado do Rio de Janeiro, o cenário dos últimos anos é ainda pior, com um Campeonato Estadual sem o prestígio que já teve no passado. Além de centralizar o alcance apenas aos clubes que possuem um poder aquisitivo alto, o que afasta muitas outras praças tradicionais do basquete fluminense.
Foi nesse contexto que nasceu a Liga Super Basketball, um projeto idealizado pelos professores Guilherme Simões e Marcos Guinâncio, a fim de levar o basquete para áreas onde a federação não cobre. Dessa forma, a Liga se iniciou justamente na Baixada Fluminense, local que possui diversos clubes tradicionais no basquete, como o Iguaçu Basquete Clube, mas que não são valorizados pelas instituições . “A liga foi criada com o intuito de promover um basketball minimamente organizado, com entretenimento e inovação para um público que era completamente descartado pelas instituições que faziam o basquete no Estado e no Brasil como um todo, que era o público amador”, disse Guilherme, presidente da LSB.

Atualmente, após mais de dez temporadas, a Liga possui cerca de 100 equipes em 14 categorias diferentes, incluindo todas as categorias de base, adulto feminino e categorias máster?—?até 35 anos, 40 anos e 50 anos. Muitas dessas equipes são formadas por ex-jogadores profissionais que ainda possuem a paixão de jogar basquete, agora no amador. Mas também a liga abraça equipes de amigos que jogam juntos em praças públicas, quadras alugadas, o que chamam carinhosamente de “peladeiros”, embora muitos ali um dia tiveram o sonho de se tornarem jogadores profissionais. Em 2014, a Liga Super Basketball chegou a disputar o Campeonato Carioca de basquete, com uma equipe formada apenas por jogadores que jogavam pela Liga. Mesmo sem vencer nenhum jogo, a Liga mostrou a relação amigável que mantém com os seus jogadores, que aceitaram disputar o torneio sem receber nada por isso.
A Liga também promove uma oportunidade para o basquete adaptado, com um campeonato periódico que conta atualmente com cinco equipes. Tudo isso condiciona à Liga Super Basketball o título de maior liga amadora do país, e o respaldo dos amantes do esporte no Rio de Janeiro. É o que diz Alexandre Magalhães, ex-jogador profissional de basquete e atual técnico do SC Mackenzie nas categorias máster 35 e máster 40: “a LSB pegou os atletas renegados pela Feberj e colocou para jogar. Com isso, está fazendo um belo trabalho desde as categorias de base até o máster 50, ganhando uma credibilidade nacional”
Os efeitos promovidos pela Liga ultrapassam a quadra de basquete. Além de incentivar o esporte em si, ela também dá oportunidade a diversos profissionais ligados ao basquete, com trabalho de scout em seus jogos, cobertura jornalística e curso de arbitragem, lecionado por árbitros experientes que compõem o quadro de arbitragem da Liga. “A liga foi extremamente importante pra minha carreira profissional, o basquete no Brasil é algo que, na minha área, é muito difícil, não temos muitos jogos. A Liga vem pra me trazer mais de 700 partidas no ano, é algo fenomenal. Você acaba ganhando na produção de conteúdo, você vai melhorando, acredito muito que escrita você aprimora com o passar do tempo”, explicou Felipe Souza, repórter da LSB por dois anos. A LSB também promove projetos sociais relacionados ao basquete, como o “LSB O BEM”, que foi uma clínica de aperfeiçoamento de fundamentos, na Arena Carioca I, para 30 crianças e adolescentes de projetos de basquete da Baixada Fluminense. E o “LSB NA RUA”, que foi um evento, em conjunto com a Prefeitura de Queimados, que a liga montou uma quadra de basquete com tabelas e medidas oficiais em uma praça pública de Queimados.
Em suma, após 12 temporadas, pode-se considerar o saldo positivo. A Liga, hoje, consegue cumprir com o seu objetivo de levar o basquete para regiões periféricas do Rio de Janeiro, com atuação na Região dos Lagos, Região Serrana e na Baixada Fluminense. Além de romper com a hegemonia da Federação e forçá-la a proporcionar o melhor para o basquete do Estado. O legado já construído pela Liga ultrapassa os limites da quadra de basquete e dá um suspiro, mesmo que ainda seja pequeno, para a modalidade no Estado.