Durante a construção do meu trabalho de doutoramento observamos vários autores da educação física relatarem que as práticas corporais de aventura tiveram um crescimento acelerado nas últimas décadas principalmente por suas aparições na mídia.
Betti (1997, 1999) já alertava para a presença marcante dos esportes de aventura na mídia e que cabia à educação física acompanhar esse processo. Costa (2000) relata que a mídia motivada pela espetacularização e pelas situações de riscos presentes nos esportes de aventura adotou essa corrente esportiva, ajudando em seu crescimento no número de admiradores. Uvinha (2001) falando de juventude, lazer e esportes radicais descreve que as imagens destas práticas na televisão incentivam a realização.
Schwartz (2006) explica que a mídia comumente chama as atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), de esportes radicais ou esportes de aventura, assim, imbuídas de um apelo à contemplação, fruição e autossuperação presente nestas atividades. Bruhns (2009) diz que sobre influência da mídia ou não as pessoas começaram a comprar relógios à prova d’água mesmo sem serem mergulhadoras em busca de um estilo de vida aventureiro. Pereira e Armbrust (2010) relatam que apenas a partir da década de 1990, com a divulgação pela mídia, foi que os esportes radicais começaram a se difundir e a ganhar novos adeptos.
Porretti et al. (2013) indiretamente cita a mídia ao falar da utilização dos esportes na natureza e dos jogos olímpicos, como inspiração para se trabalhar no contexto da educação física escolar uma educação preocupada com o meio ambiente. Em 2018, chega ao currículo da educação física através da BNCC as práticas corporais de aventura desenvolvidas em ambiente urbano e na natureza (BRASIL, 2018). Pereira (2019), apresentando proposições da pedagogia da aventura na escola para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), descreve que a mídia se interessou sobretudo pelo risco e a coragem que estas práticas proporcionam.
Entendendo a complexidade de terminologias construímos uma linha do tempo dos esportes de aventura. Após nossa diligência de compreensão das influências midiáticas durante nossa construção de tese, essa reflexão final reúne o crescimento dos esportes de aventura associando-o à mídia televisiva, a documentos institucionais, a estratégias de marketing, às pesquisas na educação física, à elaboração de obras literárias e acadêmicas, à TV por assinatura, chegando ao contexto atual consolidada como conteúdo curricular e aberto a novas discussões. Vejamos a figura 1 abaixo:
Figura 1 – Linha do tempo dos esportes de aventura em associação com a mídia

Os dados coletados ao longo da construção da tese possibilitaram uma interpretação dos esportes de aventura em um cenário nacional, em que não procuramos explorar as modalidades, e sim o contexto geral.
O consumo do espetáculo do fenômeno esportivo aumentou demasiadamente com a internet e as mídias, as tendências impostas pela mídia podem ser traduzidas na compra e venda de mercadorias, entre elas os próprios canais televisivos estudando o mercado estabelecendo metas bem definidas e alinhadas com estratégias de marketing (FRUCHART ET. AL., 2018).
A relação entre os esportes de aventura e a mídia nas últimas três décadas mostrou alguns caminhos que foram percorridos:
- Realização de Estudos Históricos sobre mídia televisiva e esportes de aventura, que mostraram sua evolução associada a mídia e aos avanços tecnológicos;
- A existência de uma Polissemia de Termos utilizados pela mídia que os desenvolveram para capturar mais telespectadores;
- No Contexto Social descreve-se a formação de novos hábitos;
- Observamos a Segmentação da Mídia, em que os canais especializaram-se gerando os canais esportivos e específicos, como os de programação de esportes de aventura;
- A Mercantilização aponta para utilização da venda de produtos e serviços específicos dentro dos canais esportivos;
- A Glorificação do Risco pela mídia associa as imagens dos esportes de aventura a acidentes, indicando a necessidade de utilização de equipamentos específicos e treinamento para a prática;
- Os Estudos Educacionais mostram que a mídia transmite sentidos superficiais dos esportes de aventura.
Tendo percorrido o trajeto histórico, social, educacional e político-econômico, é possível destacarmos que até mesmo a chegada dos esportes de aventura à BNCC através das práticas corporais de aventura, pode ter sofrido influência da mídia. Pois indiretamente as frequentes aparições como conteúdo televisivo trabalha o imaginário do telespectador que por sua vez chega à escola. Tendo por inferência que os esportes de aventura na mídia podem orientar emoções que conduziriam ao encantamento, ou no caminho inverso, a utilização dos esportes de aventura pela mídia de forma estratégica que utiliza as emoções da atividade prática para se aproximar do telespectador.
A certeza é que os caminhos percorridos pelo esporte de aventura na mídia, são diferentes dos caminhos percorridos academicamente, onde realmente traçou-se orientações pedagógicas para a chegada à escola. A mídia por sua vez pode ter ajudado no imaginário deste percurso.
Referências:
Este texto apresenta um recorte da conclusão da tese de Doutorado defendida em agosto de 2021.
PORRETTI, M. F. A influência midiática nos esportes de aventura: os sentidos presentes no Canal Off e a concepção de praticantes em meio à Pandemia da COVID-19. 2021. 235 f. Tese (Doutorado em Ciências do Exercício e do Esporte) – Faculdade de Educação Física, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
BETTI, Mauro. Esporte, televisão e espetáculo: o caso da TV a cabo. Conexões, Campinas, v. 1, n. 3, p. 74-91, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Secretaria da Educação Básica. 2018.
BRUHNS, H. T. A busca pela natureza: turismo de aventura. Barueri, SP: Manole, 2009.
COSTA, Vera Lucia Menezes. Esportes de aventura e risco na montanha: um mergulho no imaginário. São Paulo: Manole, 2000.
FRUCHART, Eric; RULENCE-PÂQUES, Patricia; MULLET, Etienne. Watching high-risk sports on television: the reversal theory’s concept of protective frame. Sport in Society, Inglaterra, 2018.
PEREIRA, Dimitri Wuo; ARMBRUST, Igor. Pedagogia da Aventura: os esportes radicais, de aventura e de ação na escola. 1 ed. Jundiaí-SP: Fontoura, 2010.
PEREIRA, Dimitri Wuo. Pedagogia da Aventura na Escola: Proposições para a base nacional comum curricular. Várzea Paulista, SP: Fontoura, 2019.
PORRETTI, Marcelo Faria; OSBORNE, Renata; DEVIDE, Fabiano. Inovações curriculares para a educação física escolar. In: OSBORNE; Renata; SILVA; Carlos Alberto Figueiredo da; SANTOS, Roberto Ferreira dos. Complexidade da educação física escolar: questões atuais e desafios para o futuro. Rio de Janeiro: Lamparina, Faperj, 2013. p. 140-157.
SCHWARTZ, Gisele Maria. Aventuras na Natureza: consolidando significados. Jundiaí/SP: Fontoura, 2006.
UVINHA, Ricardo Ricci. Juventude, lazer e esportes radicais. 1. ed. São Paulo: Manole, 2001.