Escrevo este texto após a derrota da seleção brasileira feminina de futebol para a Suécia. Agora, o tão sonhado ouro olímpico já não pode ser conquistado pelas meninas. Porém, imprensa e torcida reagem a este revés com um misto de tristeza pela derrota e reconhecimento pelo esforço das atletas.
O curioso é que esta é uma postura que difere muito da que imprensa e torcida brasileira têm em relação à seleção masculina de futebol masculino. Para o time masculino do Brasil, seja ele o principal ou o olímpico, certamente serão reservadas cobranças e críticas diante de um tropeço.

Em texto publicado neste mesmo blog, no dia 9 de Agosto, o professor Ronaldo Helal aponta a existência de uma diferença entre as “narrativas de vitória” de “nossos atletas olímpicos” e de “nossos ídolos futebolísticos”.
Para os “heróis do futebol”, esporte em que se afirma que no Brasil os “craques ‘nascem prontos’”, fica reservada uma expectativa maior de vitória do que a que é destinada a outras modalidades.
O curioso é que com as meninas do futebol o tratamento é completamente diferente. Apesar de praticarem a mesma modalidade, para as mulheres é reservado um olhar mais condescendente.
Acredito que o tratamento concedido pela imprensa a Marta e companhia se aproxima do que o professor Ronaldo Helal afirma que é destinado a outras modalidades olímpicas. Este olhar deixa de lado a ideia de que os brasileiros possuem um talento inato que garantiria seus triunfos, e “versa sobre o ‘esforço’, a ‘disciplina’ e a ‘superação’, além do talento, para se chegar à vitória”.
Desta forma, não é a modalidade em questão que fala mais alto. Contudo, parece que as condições encontradas pelos atletas para a prática de sua respectiva modalidade são mais determinantes na hora de a imprensa elaborar suas narrativas.
Se os jogadores da seleção masculina contam com condições de trabalho excelentes, as mulheres que desejam viver do futebol tem que enfrentar desafios e sacrifícios enormes.

Desta forma, se hoje a seleção feminina recebeu afagos e apoio mesmo após o revés, para Neymar e companhia apenas o ouro pode garantir os elogios da imprensa.
Penso ser uma questão muito além do que simplesmente as excelentes condições de trabalho dos jogadores masculino. O futebol é o principal esporte dos brasileiros, capaz de encher estadios de quarta a domingo, entretanto o futebol vem de um declínio muito forte desde antes da derrota para a Alemanha de 7×1, a decepçao diante dos jogadores que ganham fortunas e não rendem na seleção é enorme. As meninas que não tem incentivos em nosso país, não disputam campeonatos para elevar seu nível tecnicos, não há categorias de base nos clubes, não recebem 1 terço dos salários dos jogadores profissionais, são obrigadas a jogarem em outros países em busca de algum rendimento, vivendo longe de seus familiares para sobreviver e isso é desumano, não podemos exigir mais do que elas conseguem suportar, porém para o masculino o Ouro é obrigação.
ganhar, ganhou… mas que sufoco, hein!?