O horário de almoço é sagrado para a trabalhadora e para o trabalhador. E imagine só, a satisfação em ter esse momento acompanhado de um Fluminense x Borussia Dortmund na televisão. Aí, pense comigo, dizem os nutricionistas, que devemos nos alimentar de 3 em 3 horas. Pois bem, no lanche, foi possível ver PSG x Atlético de Madrid e Flamengo x Chelsea. No fim da jornada, quem chega em casa à noite, pôde jantar com Boca Juniors x Benfica ou Palmeiras e Porto. Os que param em casa mais tarde também foram contemplados: Flamengo x Espérance, Botafogo x PSG ou Monterrey x Inter de Milão.
Nesse contexto, não é um exagero dizer que a Copa do Mundo de Clubes é um deleite. Melhor só seria se tivessem jogos pela manhã, que pudessem ser assistidos acompanhados de um café e uma tapioca. É a materialização dos jogos de vídeo game, das discussões de twitter, do totó da escola.
Até quem está fora da competição, está se deliciando com ela. Ou pelo menos a maioria. A sensação comum é: todos querem jogar a Copa. Só isso já é um indicativo suficiente do sucesso do torneio. Em buscas na internet e conversas com amigas e amigos, parte desse desejo – além da possibilidade de ser campeão do mundo – é movido pela curiosidade: “será que meu time também bateria de frente com as equipes da Europa?”
Reprodução: FIFA
A dúvida é genuína e a resposta que, antes do torneio parecia ser imprecisa, agora dá pistas de um caminho: “sim, meu time seria capaz”. Essa segurança vem na esteira de um resgate da autoestima do próprio futebol brasileiro. Se antes aparecia ao mundo apenas como um mercado de exportação, onde os clubes da Europa aparecem para levar atletas ainda muito jovens, hoje o esporte praticado no Brasil mostra porque forma jogadores de tanta qualidade. Não é exceção, é excelência.
Além disso, o próprio ecossistema do futebol contribui para a construção dessa suposta superioridade quando, por exemplo, coloca os clubes europeus direto na final do Mundial de dezembro. O que credencia esses times a estar nesse lugar mais do que os outros? Se formos analisar o desempenho das equipes europeias no mundial, nada.
Mas por que, então, é tão difícil desapegar de certas ideias? É interessante como, em um mundo tão efêmero, ainda temos a tendência de buscar verdades absolutas. Assim, cada fato que desafia a hegemonia de pensamento vem acompanhado de um contraponto: calor, férias, desinteresse, gramado, cansaço…
É importante ressaltar que, não necessariamente, essas observações são mentiras. O final da temporada pode pesar, assim como acontece com os brasileiros quando jogam em dezembro. Além disso, com os estaduais, as equipes do Brasil já têm praticamente o mesmo número de jogos que os europeus no ano. Fora isso, a competição está aí para todos, um suposto desinteresse não deveria ser tratado como mérito, mas como um desrespeito com a própria profissão.
Assim, quem insiste em diminuir o desempenho dos times brasileiros e sul-americanos nos jogos contra os europeus, não está interessado em futebol, mas em perpetuar uma narrativa pautada na necessidade de sustentar sua própria opinião.
Outro ponto interessante que torna essa discussão ainda mais enérgica é a superficialidade de certas pautas, que acabam restringidas apenas a adjetivos binários, nesse caso, isso é traduzido em “melhor” e “pior”. O futebol brasileiro não é melhor nem pior que o europeu, e vice-versa. As vitórias de Botafogo e Flamengo sobre PSG e Chelsea, respectivamente, não precisam competir entre si. Todos esses mundos podem coexistir, com suas singularidades.
Insistir nesse tipo de argumento não agrega, divide. A troco de quê? O futebol, apesar das estatísticas, têm componentes subjetivos que tornam esse tipo de discussão não só difícil, mas improdutiva. O melhor é quem ganha mais ou quem joga mais bonito? Quem joga mais bonito é quem faz mais dribles individuais ou mais jogadas coletivas envolventes? Defender é pior que atacar? Atacar e deixar espaços é melhor que defender?
Para cada questão, respostas diferentes pautadas em gostos individuais e é claro, naquilo que move o futebol, a paixão torcedora. Tendenciosamente, as vitórias do meu time sempre vão ser um pouco melhores. Os jogadores do meu time, um pouco mais completos. Os gols dos meus atacantes, mais bonitos. Não é por mal. Nessa visão, também reside um pouco de esperança. Um respiro de torcedores – todos – que já passaram por momentos difíceis e querem desfrutar o máximo possível.
E talvez, para o futebol sul-americano e brasileiro, em especial, esse seja o principal mérito da Copa do Mundo de Clubes. Desfrutar das belíssimas campanhas feitas até aqui, ter esperança de ver mais times brasileiros na competição, apaixonadamente celebrar o esporte que move milhões de torcedoras e torcedores.