Sem calculadora, Uruguai faz história e chega ao Mundial da Rússia.

O futebol não é exatamente nota 10, mas os uruguaios carimbaram o passaporte para a Rússia de forma histórica. Assombrados pelas contas matemáticas e combinações de resultados, desta vez não foi preciso usar a calculadora. Também não será necessário jogar a repescagem para ir ao Mundial da FIFA em 2018. O selecionado de Oscar Tabárez se classificou para a Rússia de forma direta pela primeira vez, desde que a competição se tornou todos contra todos em 1998, com uma campanha que incrementa ainda mais o enredo dessa história.

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Jogadores uruguaios comemoram classificação direta para Copa de 2018, após vitória sobre a Bolívia na última rodada das eliminatórias. (Foto: Pablo Porciuncula/AFP)

Os números não me deixam mentir. O segundo posto foi alcançado com 31 pontos somados em nove vitórias, quatro empates e cinco derrotas. O Uruguai teve o segundo melhor ataque com 32 gols marcados, sendo 10 feitos pelo artilheiro das Eliminatórias, Edinson Cavani. Muslera foi o goleiro que menos padeceu – 16 dos 20 gols sofridos (Martin Silva levou quatro na derrota para o Brasil) – e o melhor assistente do torneio foi Luis Suárez, com sete passes (mesma marca que Neymar).

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Cavani foi o artilheiro das eliminatórias. (Foto: Pablo Porciuncula/AFP)

Cifras impressionantes para um país que sofreu altos e baixos na segunda metade do século 20, se distanciando das glórias de 1924, 1928, 1930 e 1950. Aliás, o renascimento do futebol uruguaio tem nome e sobrenome: Oscar Tabárez. Desde que assumiu a seleção principal e passou a coordenar as seleções de base, em 2006, a Celeste terminou em quarto na África do Sul (2010), conquistou a Copa América em 2011, chegou até as oitavas de final no Mundial de 2014 e agora se classificou pela terceira vez consecutiva para uma Copa, o que não acontecia desde o Chile (1962), Inglaterra (1966), México (1970) e Alemanha (1974).

Para quem só acompanha resultados até parece que foi fácil, mas não foi bem assim. Teve de tudo nessa jornada de dois anos: vitória inédita em La Paz, o retorno emocionado de Suárez, o pé calibrado de Cavani, mas também a velha desconfiança depois de três derrotas consecutivas. Jogadores e treinador foram criticados até a sorte aparecer e um jovem de 19 anos (“el pajarito” F. Valverde) fazer o gol da vitória sobre o Paraguai e reacender a esperança no futuro. Equipe e torcida também se uniram nas batalhas contra o sindicato dos jogadores e uma gigante da Comunicação (Tenfield) (ler mais aqui). Até parece que Tabárez tem razão. O caminho é mesmo a recompensa. Em se tratando de Uruguai, o sofrimento e a luta são marcas do futebol uruguaio.

Suárez dependência (?)
É quase um consenso achar que a seleção do Uruguai depende do Suárez, mas quando o jogador retornou, após cumprir a suspenção de nove jogos imposta pela FIFA, a seleção já era líder. Ainda assim, ele se destacou e fez o gol de empate contra o Brasil (2 a 2), em Recife. Depois, voltou a marcar na vitória contra o Paraguai, em setembro de 2016 (4 a 0), e no empate fora de casa contra a Colômbia (2 a 2), em outubro. Neste ano, foi desfalque no jogo de volta contra o Brasil (suspensão pelo terceiro cartão amarelo) e só fez as pazes com a rede 609 minutos depois, na partida de despedida diante da Bolívia (4 a 2).

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Tabárez soube manter a Seleção Uruguaia competitiva durante as eliminatórias, inclusive quando Suárez esteve ausente por suspensões ou lesões. (Foto: Xinhua)

Em agosto, o atacante do Barcelona machucou o joelho direito na final da Supercopa da Espanha e quase foi cortado das partidas contra Argentina (0 a 0) e Paraguai (1 a 2). Embora não tenha sido decisivo, seu esforço serviu de exemplo para os companheiros e sua comunidade. As manchetes o chamavam de “San Luis” e sua escalação foi dada como um novo milagre – uma referência ao que ocorreu antes da Copa de 2014, quando se recuperou, em quase um mês, de uma cirurgia no joelho esquerdo. Luisito fez cinco gols em 13 jogos nas Eliminatórias de 2018, contudo, foi o maior assistente: sete passes para gol, o mesmo que o brasileiro Neymar.

O jogador ainda enfrenta um problema no joelho e uma intervenção médica não está descartada, mas há tempo para que se recupere até a Rússia. A boa notícia é que sua seleção aprendeu a jogar sem ele. Tabárez fez muitos testes. Foram 45 jogadores convocados e 32 efetivamente utilizados nas partidas oficiais. No Uruguai, todos se apoiam e o forte espírito coletivo supre, de certa forma, as eventuais limitações técnicas. Todos marcam e atacam. Doze jogadores diferentes conseguiram balançar a rede adversária, incluindo zagueiros, laterais e volantes, principalmente nas ausências de Cavani e Suárez, que atuaram, respectivamente, em 15 e 13 jogos dos 18 disputados.

Esse torneio serviu para duvidar se a “Suárez dependência” é tão grande assim. Ainda assim a imagem do atacante segue respaldada por seu comportamento e idolatria que carrega. Se em campo Luisito não correspondeu ao que se esperava, ao menos, pra os números, ele segue sendo avassalador. Afinal, o uruguaio é, ao lado do argentino Lionel Messi, o artilheiro das Eliminatórias Sul-Americanas, com 21 gols somados nas três disputadas (2010, 2014 e 2018). O Uruguai também ainda não está pronto para disputar o seu 13º mundial, mas poucas seleções estão. Obviamente, não se sabe como essa história terminará, mas é certo que podemos esperar sustos e surpresas, suor e lágrimas, pois assim se escreve o futebol no país.

Fontes:
www.ovacion.com.uy
www.auf.org.uy

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