Na dramaturgia, o conflito cumpre função de relevante importância no enredo da historia, cabe a ele o papel de prender a atenção do leitor ou espectador, assim determinando o sucesso ou não do espetáculo. Sem conflito o desinteresse impera.
Este pode ser afetivo, emocional, intelectual, físico ou a combinação de alguns deles, só não pode ser banal, “manjado”, tem que ser inesperado, surpreendente, ele vai ditar o ritmo e a intensidade. Com certeza imprimirá no espectador sensações divergentes. Quando explorado com inteligência e perspicácia, ultrapassa o seu próprio ambiente, suscita comentários e gera as polêmicas oriundas dos diferentes pontos de vista dos espectadores. Brincando, diria que dá a luz a um meta-conflito travado quase que invariavelmente na realidade de uma mesa de bar ou no conforto do sofá da sala após a cena final.
Portanto, o conflito é duplamente importante: ele prende a atenção do espectador e, a troca de impressões no ambiente externo, gera novos espectadores num círculo virtuoso. Em nada prejudica o espectador, pelo contrário, dá a possibilidade de trocas sociais enriquecedoras, apesar da pluralidade de opiniões.
O esporte de alto rendimento como espetáculo de linguagem universal, interpretado de forma idêntica independentemente de costumes, raças, idiomas e cultura, atingiu hoje níveis de excelência, onde se viu impelido a recrutar equipes multidisciplinares de profissionais de apoio e incorporar a tecnologia no auxílio da arbitragem para torná-lo mais atraente e sério. Contrariamente à dramaturgia, tenta extirpar os conflitos culturais – erros induzidos, alheios à prática do esporte, geralmente erros de arbitragem – do seu âmbito.
Cada dia, mais esportes são transmitidos ao vivo pelas redes de televisão no mundo, criando novos adeptos, novos praticantes, gerando novos produtos e empregos, alimentando a cadeia de consumo. O conflito neste caso atua negativamente dando instabilidade ao cronograma das emissoras onde a máxima “time is money” é fato.
O futebol, esporte de maior penetração neste planeta, é um dos poucos que ainda persiste em manter os conflitos, os utiliza como alimento para rádio, jornais, revistas especializadas e para as emissoras de televisão que fazem deles combustível para programas de discussões acaloradas e inúteis reflexões redundantes, onde sabidamente o prêmio para quem chegar à solução é a morte da discussão.
Uma obra prima, oriunda de uma jogada genial de um craque, não pode ser considerada conflito e rende, no máximo, duas fotos, algumas linhas mais inspiradas de texto, o replay de vários ângulos e só. Já um gol de mão ou um pênalti não marcado geram conflitos que se desdobram em outros eventos incluindo ali a violência e brigas de torcedores, que multiplicam a pauta da mídia, quando não colaboram também com o obituário.
Até onde o apoio maciço da mídia à incorporação da tecnologia no futebol seria um tiro no próprio pé?
Tiro certeiro na análise! O conflito imposto pelo padrão midiático sensacionalista,como arma rentável que neutraliza e até elimina a vertente artística e expressiva do esporte.Parabéns Juan.
Tiro certeiro na análise. O conflito imposto pelo padrão midiático rentável, que neutraliza e até elimina a arte e a verdadeira expressão do esporte. Parabéns Juan.