Já que falar em regulação da mídia tem causado muita polêmica nos últimos tempos, vamos tentar um tema menos delicado e mais pertinente a este blog. Pluralidade de discurso. Até me esforço para ser um entusiasta das redes sociais, mas acreditar que o modelo de comunicação todos-todos é plenamente eficiente ainda parece ser algo distante. Na sociedade brasileira é impossível negar que os grandes meios de comunicação ainda são os maiores responsáveis por pautar as nossas discussões cotidianas e, principalmente, formar a nossa opinião.
É assim no futebol. A transmissão de uma partida exclusivamente por uma emissora impede uma possibilidade de interpretação mais ampla do jogo. Uma única equipe transmitindo um jogo, invariavelmente, vai suprimir informações que podem ser relevantes para alguma fatia dos telespectadores. Isso fica claro nos jogos da Seleção Brasileira quando assistimos a uma narração quase sempre exclusiva em canal aberto. A forma como a história é contada naquela transmissão, por aqueles narradores, acaba sendo a única repercutida no dia seguinte.
Mas há alternativa para isso? Não gastaria tempo com essas linhas se não acreditasse em uma opção. E estivemos muito perto dela quando os clubes brasileiros tentaram comercializar os direitos de TV do Campeonato Brasileiro de forma separada. Por inúmeras razões, a tentativa fracassou e a exclusividade do produto continuou nas mãos da Rede Globo.
Caso o desfecho fosse diferente poderíamos experimentar situações como as que existem em outros países. Nos Estados Unidos, a comercialização dos direitos de transmissão da NBA e da NFL geram receitas bilionárias. Emissoras de TV diferentes se reúnem para dividir as transmissões. Cada canal tenta fixar um horário e um dia da semana para fidelizar seu telespectador. Por conseqüência, temos transmissões (que apesar de manterem o mesmo padrão de alta tecnologia) podem ter diferenças editoriais significativas. O mais impressionante, e distante da nossa realidade, é que uma emissora avisa ao telespectador qual jogo irá passar no canal concorrente, algo impensável na realidade brasileira atual.
Se no futebol brasileiro este cenário ainda é distante, ao menos podemos sonhar com dias melhores. Algumas operadoras de TV por assinatura já transmitem uma mesma competição (como Uefa Champions League) em até três emissoras diferentes. A Taça Libertadores da América em 2013 será transmitida por dois canais fechados. Após um ano em que foi exclusiva da Fox Sports, o canal americano entrou em negociação com o Sportv (anteriormente responsável pela transmissão na TV fechada brasileira) e selou um acordo para dividir o torneio. Melhor para quem torce e assiste.
Discutir o tema é importante e torna-se cada vez mais necessário estabelecer normas mais claras para a comercialização dos direitos de transmissão. Ainda é comum uma emissora possuir o direito de exibição de um torneio, mas optar por transmitir apenas os jogos decisivos. Com grupos de comunicação diferentes levando as partidas até nossas casas, ganhamos o direito de escolha, algo essencial para qualquer modelo de comunicação, seja ela relacionada ao esporte ou não.