140 caracteres. Esse é o limite para expor sua idéia e transmitir sua mensagem no Twitter. Há alguns séculos, poetas e escritores dificilmente conseguiriam respeitar essa barreira. Hoje, a concisão está se tornando a regra nas redes sociais e modificando hábitos de escrita. Não me insiro nesse fenômeno, e até para limitar esse texto a uma lauda e meia tive uma grande dificuldade.
De forma genérica, podemos classificar o Twitter como mais uma mídia social surgida com o advento da web 2.0 – a fase atual da internet, caracterizada pelo conteúdo colaborativo e pela interação em redes sociais, dentre outros aspectos. Diferentemente das mídias tradicionais como o rádio, a TV e o jornal, no Twitter, todos, incluindo as celebridades futebolísticas, têm a possibilidade de construir seu próprio discurso e contar a sua história sem intermediários e sem edição. Isso, com certeza, não esgota a importância dos recursos acionados pelas mídias massivas para construção de ídolos do esporte. Contudo, acredito que a comunicação direta possibilitada por essa nova mídia aproxima cada vez mais o ídolo do homem comum.
No Brasil, o Twitter já é uma realidade. Segundo matéria publicada no site Correio do Estado em 9 de outubro (veja na íntegra), foi feita uma pesquisa que revelou um fato bastante relevante: “o Brasil é o país em que o Twitter mais faz sucesso: 23% dos brasileiros online acessam este site”. Além isso, desde 2009, ocupamos a segunda colocação dentre as nações com mais usuários nessa rede (veja aqui). Tamanha a importância do Brasil, o Twitter estrategicamente abrirá um escritório regional por aqui.
Com isso, temos visto a adesão de clubes, técnicos e jogadores de futebol à moda do microblog. Independente de suas motivações para estar ali, é quase inevitável que os craques do futebol atual criem um perfil próprio no site. Aliás, caso não o façam, com certeza, surgirá algum anônimo para criá-lo – são os já famosos fakes de celebridades. Não obstante, não são apenas os jogadores que usufruem dos benefícios e malefícios dessa nova mídia. Os treinadores de futebol também estão presentes, vide o fenômeno de popularidade de Mano Menezes. Seu perfil já conta com mais de um milhão e setecentos seguidores (dados de 28/10/2010), entrando para o hall das maiores celebridades digitais brasileiras. É interessante observar este fato, visto que fora da web, os técnicos possuem outra idealização no imaginário futebolístico brasileiro. Normalmente, não são tão aclamados assim pelos torcedores e pela imprensa, lugar este reservado aos jogadores.
Com fins meramente exploratórios, segui durante dez dias, alguns perfis de grandes jogadores e técnicos do futebol brasileiro. Meu objetivo era verificar como o uso dessa ferramenta estava sendo feito pelos protagonistas do futebol. A percepção que ficou foi a de que, salvo algumas exceções, eles ainda não lidam direito com as particularidades dessa mídia. Fato este constatado pelo caráter objetivo e tom formal de alguns, pela inatividade de outros e pela falta de maior interação com os seus seguidores da maioria. É claro que, assim como na época da correspondência por cartas, é impossível que um ídolo responda a todos os tweets de seus fãs. Mas, acredito que, guardadas as devidas proporções, um tweet respondido por seu ídolo tem para o fã efeito similar a uma foto autografada ou a um livro com dedicatória.
Para refletir sobre um dos aspectos negativos do Twitter, trarei o caso da Twitcam (transmissão ao vivo via Twitter) dos jogadores do Santos. Exaustivamente divulgado e debatido pela imprensa esportiva, no vídeo em questão, alguns jogadores do Santos decidiram conversar com seus seguidores após partida contra o Prudente pelo Brasileirão 2010. O que era para ser um bate papo entre fãs e ídolos, terminou com os jogadores ofendendo os torcedores, discutindo com Robinho, então também jogador do Santos, e assumindo uma postura moral muito criticada. Eles expuseram sua privacidade e pagaram um alto preço por isso. Talvez para evitar problemas parecidos Neymar tem a sua conta no Twitter restrita a usuários autorizados por ele, o que descaracteriza e tira o propósito da ferramenta*.
Percebe-se, assim, que a eficácia dessa nova mídia no meio futebolístico depende, em grande medida, dos usos que se fazem dela. A proximidade com os fãs permitida pelo Twitter pode ser uma faca de dois gumes. Ao aproximar ídolos do futebol e seus fãs, podemos colaborar tanto para ampliar a idolatria como para diminuir a “distância aurática”, condição precípua da fama, em casos como o dos jogadores do Santos citados acima.
Após todos os apontamentos feitos, fica aqui uma dica para aqueles jogadores que ainda não possuem um perfil no Twitter. Corram para criá-lo! Futuramente, o nome na camisa dos jogadores provavelmente já virá com um link.
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