O futebol pode ser entendido como uma prática esportiva repleta de tradições. Por exemplo, o Brasil é visto como “o país do futebol”, pois cada brasileiro teria uma relação íntima com o esporte. Neste contexto cada indivíduo estaria filiado a uma determinada agremiação esportiva, para a qual dedica sua torcida e afeto.
O curioso, no caso específico da filiação a um clube de futebol, é que não há uma explicação única para a gênese desta relação. A justificativa mais comum é a de que cada indivíduo nasce torcedor de um clube de futebol, algo que vem de berço, que não pode ser mudado.
Porém, não é necessário procurar muito para encontrar pessoas que têm narrativas bem diferentes sobre o surgimento de sua filiação a um determinado clube de futebol.
A minha família é um bom exemplo. Meu pai era flamenguista. Contudo, nunca foi um torcedor muito apaixonado. Com isto, acabei me tornando Fluminense. Já meu irmão flertou com o Botafogo, mas terminou como Vasco. O curioso é que em várias oportunidades meu pai deixava de lado sua filiação com o Flamengo para torcer por Fluminense e Vasco como forma de se colocar próximo a seus filhos.
O fato é que esta tradição, como inúmeras outras, não é um elemento imanente, mas é socialmente criado, é inventado (no sentido adotado por Eric Hobsbawm). Por ser inventada, esta tradição pode ser influenciada por outras mudanças sociais.
Novas tecnologias mudando a relação com o jogo
Dia a dia surgem novidades tecnológicas. Estas inovações mudam a forma como nos relacionamos com outros indivíduos, com o ambiente em que estamos inseridos e com tradições tidas como imutáveis.
Não é diferente no universo do esporte. Uma inovação que tem mudado a forma como alguns torcedores experimentam o futebol é o fantasy game “Cartola F.C.”. Produzido pelo portal “Globoesporte.com”, este jogo oferece a seus usuários a possibilidade de montar times formados por personagens que representam atletas que atuam em equipes da Série A do Campeonato Brasileiro, e de disputar diferentes competições, que são chamadas de ligas.
A competição é disputada a cada rodada do Campeonato Brasileiro, com os participantes somando pontos a partir da performance real dos jogadores escalados em seus respectivos times.
Como o que interessa nesta disputa é a performance individual dos jogadores reais, não é incomum que um torcedor do Vasco, por exemplo, escale em sua equipe do Cartola atletas de Flamengo ou Fluminense. O que mais importa não é o clube ao qual o jogador está filiado, mas a sua performance individual.

Pelo que tenho observado, um efeito colateral deste jogo é que os participantes do jogo passem a torcer por atletas e, consequentemente, equipes rivais, em detrimento de seu time de coração.
É bom esclarecer que este é um texto opinativo. O escrevo apenas como forma de chamar a atenção para um fenômeno que, caso confirmado por uma sondagem de campo, pode render uma interessante pesquisa baseada na seguinte questão: Será que uma novidade tecnológica como o fantasy game “Cartola F.C.” pode estar mudando a forma “de torcer do brasileiro?