Artigo publicado originalmente no Jornal O Globo no dia 09/09/2015 (acesse aqui).
No início dos anos 1980, a sociologia do esporte criticava uma frase do lendário ex-treinador de futebol americano Vince Lombardi: “Winning is not everything; it is the only thing”, com o jogo de palavras produzindo efeito no idioma inglês. Em português, seria algo como: “vencer não é tudo; vencer é só o que importa”. A frase de Lombardi era vista como um passo para o “vencer não importa como”. Exemplos de corrupção na sociedade eram citados como uma má influência desta faceta esportiva nos valores da democracia dos Estados Unidos.

No universo esportivo, Vince Lombardi era idolatrado por suas conquistas e pelo seu discurso motivador. A correlação de sua frase com os equívocos da sociedade americana nunca foi comprovada.
O crítico social americano Christopher Lasch, em seu livro “A cultura do narcisismo”, dedicou um capítulo para falar da “degradação dos esportes”. Segundo Lasch, o que degradaria os esportes seria a quebra de regras. Ele se referia à introdução de intervalos comerciais nos esportes dos Estados Unidos e às partidas de beisebol disputadas às segundas-feiras à noite, um esporte que era praticado tradicionalmente nas ensolaradas tardes de domingo. A quebra de regras destruiria a magia da cerimônia esportiva.O fato é que as competições atléticas se baseiam na noção da luta pelo amor à luta. No início de uma disputa, todos começam do mesmo ponto de partida, as regras são as mesmas para os competidores e, ao final, temos uma classificação que vai do primeiro ao último lugar. E o perdedor de hoje pode vir a ser o vencedor de amanhã. O ideal de uma sociedade justa estaria embutido neste discurso meritório.
Ele não apostava na capacidade da sociedade de sacralizar elementos mundanos. O torcedor americano incorporou as mudanças à sua rotina, gerando histórias míticas de vitórias e feitos de certos atletas.
Os recentes escândalos de corrupção na Fifa podem macular o esporte? Podem, desde que se comprove a compra de certos resultados. Isto seria uma quebra grave nas regras. A simples suspeita da compra de votos para a presidência da Fifa e da eleição deste ou daquele país para sediar uma Copa afetam a credibilidade das entidades esportivas envolvidas. Caso a suspeita se transforme em certeza, uma punição exemplar dos culpados evitaria o abandono dos aficionados.
No Brasil, o torcedor suspeita, vez por outra, de armação contra seu time e se sente perseguido pelas arbitragens e entidades esportivas. Mas ele não crê profundamente nisto. Do contrário, deixaria de acompanhar o campeonato. É uma suspeita que não se transformou em certeza. Caso passe a ser uma evidência, só a punição exemplar resgataria a credibilidade.
Urge administrar o futebol com mais transparência e responsabilidade e a Lei de Responsabilidade Fiscal é um passo importante nesta direção.
Em última instância, é a busca pela vitória que cativa o torcedor. Parafraseando Vince Lombardi, poderíamos dizer que “vencer é só o que importa; desde que de acordo com as regras”.