A Copa do Mundo acabou. Só nos resta juntar os cacos. Há muito o que comemorar, afinal o Brasil conseguiu realizar o evento com dignidade e arrancar suspiros da maioria dos gringos que aqui estiveram. Mas para os brasileiros que são realmente fãs de futebol, o gosto amargo do massacre alemão vai demorar a passar. Para piorar, voltar a viver nosso futebol ordinário será doloroso, ainda mais tendo na memória a atmosfera inesquecível que vivemos nas últimas semanas.
As contradições estão na mesa e talvez este momento não seja o melhor para tirarmos conclusões. Diferente do que a imprensa especializada tem tentando, ainda não é possível compreender tudo o que aconteceu por aqui. Talvez seja melhor esperar o “defunto esfriar”. Acredito que precisaremos de um intervalo apropriado, tanto para entender o fracasso da seleção quanto para decifrar a importância do megaevento. Ainda estamos envenenados pelo sabor da derrota no campo e embriagados pela linda festa que fizemos.
Não me distanciei o suficiente dessa Copa do Mundo para fazer um relato ponderado sobre o que vivemos. Fui a jogos, colecionei álbum de figurinhas e copos de cervejas com bandeirinhas, tirei férias, viajei pelo país. Assisti a jogos da Costa Rica, Nigéria, Irã e Grécia! Tirei fotos, gravei vídeos, fiz selfies. Acreditei no Felipão, lamentei pelo Neymar, cantei o hino e depois crucifiquei o treinador.
A dor da derrota para a Alemanha nos deixou especialmente atordoados. No entanto, apesar dos lamentos, parece que esta dor se dissolveu mais rapidamente. Acredito que isso seja reflexo da intensidade com que vivemos tudo na atualidade. Lendo a opinião de centenas de amigos nas redes sociais, em menos de uma hora, forma-se uma opinião coletiva mais rápida. Criamos uma noção (muitas vezes equivocada) do que aconteceu e chegamos às nossas conclusões rapidamente. Ao mesmo tempo que nos confortamos mutuamente, ficamos cheios de certezas e isso pode ser perigoso.
Acredito que seja nesse ponto que se amplie a importância da pequisa em Comunicação e Esporte. A imprensa esportiva parece incapaz de lidar com as tragédias que ocorrem dentro de campo. Ela procura culpados, amplia nossos ódios, mas explica pouco. Colocamos nossos algozes em locais até superiores do que de fato merecem.
Em 2011, num texto para este blog <link:https://www.leme.uerj.br/2011/08/09/repetir-os-erros-corrigindo-os-acertos/>, após a eliminação da Seleção Brasileira na Copa América, mostramos como o discurso da imprensa esportiva era precipitado e cruel. Além de decretar a morte de uma geração (protagonizada por Neymar, Ganso e Pato), os jornais não se envergonharam em alterar o discurso construído ao longo do tempo de acordo com os resultados. Uma mesma característica, que era valorizada em algum momento como uma qualidade, passa a ser um defeito ou o principal responsável pelo fracasso, depois que a derrota está consolidada. A mídia não será capaz de, sozinha, nos fazer compreender o momento do futebol brasileiro, quem sabe a Academia não possa ajudar
Saldo positivo
Algo que me entusiasmou durante esta Copa do Mundo foi enxergar na pauta do noticiário esportivo várias questões que já foram tema de pesquisa deste grupo. Fica a impressão de que conseguimos antecipar alguns debates e, portanto, estamos no caminho certo. A imprensa se preocupou com o racismo no esporte, o comportamento das torcidas e como as mudanças nos estádios impactaram essa mudança de comportamento. Aspectos históricos foram levados em conta com um pouco mais de cuidado. Também a rivalidade Brasil x Argentina mereceu da mídia uma discussão menos rasteira que a habitual. Todos estes temas nos preocupam há tempos e agora também fazem parte das páginas dos jornais.