A seleção brasileira entra em campo nesta terça para enfrentar o Paraguai em jogo válido pelas Eliminatórias para a Copa de 2018, que acontece na Rússia. Algumas horas antes da partida, grande parte da imprensa destaca a boa campanha da equipe sob o comando do técnico Tite e a possibilidade de o Brasil garantir sua vaga no próximo Mundial com cinco rodadas de antecedência para o final das Eliminatórias, o que seria um recorde entre seleções da América do Sul.

Nestas matérias também é possível perceber uma certa admiração dos jornalistas brasileiros em relação ao trabalho de Tite, que está com 100% de aproveitamento com a seleção após oito partidas. Mas a trajetória do técnico gaúcho no comando do Brasil ainda está no início, e como ela ficará gravada na memória do público depende mais dos últimos atos de Tite no comando do Brasil do que de seus passos iniciais.
Em 2013 era outro o técnico que vivia um momento de lua-de-mel com a imprensa e a torcida brasileira. Após conquistar a Copa das Confederações daquele ano com uma vitória na final sobre a então campeã do mundo Espanha por 3 a 0 em pleno estádio do Maracanã (o palco da final da Copa do Mundo de 2014), Luiz Felipe Scolari, o Felipão, conquistava o status de técnico que poderia levar o Brasil ao tão sonhado título de um Mundial de futebol em casa (possibilidade esta que já havia sido desperdiçada na Copa de 1950).
Felipão havia assumido o comando do time do Brasil em novembro de 2012, quando a equipe era criticada pelo fraco futebol apresentado. A CBF decide então chamar de volta para o comando da seleção os dois últimos técnicos que levaram o Brasil a títulos de uma edição da Copa, Felipão em 2002, e Carlos Alberto Parreira (agora no cargo de coordenador técnico), em 1994.
Com a conquista da Copa das Confederações de 2013, a desconfiança em torno do retorno de Scolari e Parreira parece sumir de vez. Porém, a história não termina aí.
A Copa de 2014 chega. Na competição, o Brasil cumpre uma campanha irregular. O ápice da participação brasileira se dá no jogo contra a Alemanha, disputado no estádio do Mineirão e válido pelas semifinais. Nesta oportunidade, acontece o jogo que deixa uma profunda marca na trajetória de Felipão na seleção, a derrota de 7 a 1 para a equipe europeia.
A consequência desta derrota pode ser vista em matérias como a entrevista concedida à “Folha de São Paulo” e publicada no último domingo, 26/03. No decorrer do texto, são abordados diversos momentos da carreira do treinador, tanto no comando de clubes como de seleções.

Contudo, quando a conversa se volta para a seleção brasileira, o assunto com maior destaque é o 7 a 1 para a Alemanha. O título de 2002 só é citado em uma oportunidade, e pelo próprio Felipão, quando, ao falar do revés de 2014, ele diz que esta conquista é subvalorizada diante de outros triunfos, como o de 1970 e de 1994. Fica evidente que o 7 a 1 é a memória preferencialmente acionada quando o repórter deseja tratar da trajetória de Scolari na seleção brasileira.
Como dito anteriormente, ainda é cedo para dizer que papel Tite ocupará na história da seleção brasileira. Mas, sem dúvida, os últimos atos desta história, em especial se estiverem carregados de uma grande carga dramática, serão determinantes, como foi no caso de Felipão. No caso de um revés no comando da equipe em uma Copa do Mundo, certamente as vitórias iniciais serão esquecidas e as memórias acionadas posteriormente pela imprensa sobre a passagem de Tite pela seleção se voltarão para esta derrota.