A figura do árbitro ou “juiz” esportivo sempre foi carregada de desprezo e universalmente contestada. Isso fica bem explícito em se tratando do futebol association (esse é o nome completo do “soccer”), esporte mais praticado aqui em Pindorama. Inclusive o nome da entidade FIFA – Fédération Internationale de Footballl Association – deixa bem claro o nome do esporte. Pesquisei um pouco e descobri que nos primórdios do football não existiam árbitros; as contendas eram resolvidas pelo capitães das duas equipes. Depois passou a se usar dois árbitros, cada um indicado por uma equipe. Isso permitiu aos capitães se concentrarem mais no jogo em si. Como havia desavenças entre os dois juízes, adicionou-se um terceiro juiz, ao qual os juízes “das equipes” se submetiam ou “referred to” (de onde derivou a palavra referee). Nessa época, o “referred to” ficava fora do campo. Os árbitros indicados ficavam em campo. Isso vigorou até 1891.
Como faço rotineiramente, estava passando de forma aleatória pelos canais da iscai (Sky, operadora de televisão… é que detesto misturar idiomas, detesto estrangeirismos e anglicismos. Esse hábito aliás, tem sido chamada de … “zapping”, em “bom” português…argh!), quando me deparei com a série brasileira “FDP”, no canal HBO (leia-se agábêó). Era o segundo capítulo. A série narra a rotina de um árbitro de futebol profissional (o futebol é profissional, os árbitros ainda não o são. Bem entendido). Não é a primeira vez que a figura autoritária (e odiada por todos) do juiz de futebol é retratada na mídia. Nem será a última…
O diferente na série brasileira do canal estadunidense são dois fatores: primeiramente, o motivo da produção, que foi feita para que o canal se adeque à nova lei brasileira (12.845/2011) que prevê cotas obrigatórias de programação nacional (70 minutos semanais em horário nobre)[i]. A HBO contratou uma produtora de filmes independente (Pródigo filmes, cujos donos são Francesco Civita, André Godoi e Caio Ortiz) para realizar essa empreitada.
O enredo da série é outro detalhe a diferenciá-la, pois narra os bastidores da vida do juiz, não apenas o lado profissional, digo, amadoresco, de quando este está em um campo de futebol arbitrando uma peleja. Na série, o protagonista Juarez Gomes da Silva (interpretado por Eucir de Souza) é um árbitro brasileiro que sonha apitar uma Copa do Mundo de Futebol. Enquanto seu sonho não se concretiza, ele segue apitando outros jogos, nos treze primeiros episódios da série. Entre um jogo e outro, Juarez convive com os problemas de qualquer mortal: sua mulher o expulsou de casa e o impede de ver o filho; sua mãe (a figura que dá nome à série, sempre homenageada em todos os estádios e públicos televisivos), o envergonha por ter se apaixonado por um velho argentino que faz questão de lhe dizer que está “pegando” a mãe dele… Fica desconfiado e traumatizado quando o único filho, de 12 anos lhe pede de presente um par de sapatilhas de balé, ao invés de um par de chuteiras de futebol. Além disso tudo, o pobre juiz descobre (da pior forma) que um dos bandeirinhas que lhe auxiliam é afeminado… Enfim, desventuras em série.
Por falar em árbitros, aqui ilustro com dois dos maiores erros que vi no futebol:
1. Gol de Gallas elimina a Irlanda da Copa do Mundo:
http://www.youtube.com/watch?v=jxw1-Id91lQ
2. Bola disparada por Zico ia em direção à rede quando o juiz (fdp) encerra a partida:
http://www.youtube.com/watch?v=2RVsHoS12Vs
Esse é tão doloroso e ridículo que vai em duas versões:
http://www.youtube.com/watch?v=QsZ2Qfuwc_Q
Como prelúdio à tentativa de apitar na Copa do Mundo, o juiz Juarez vai arbitrar a Copa Libertadores da América. No último episódio a que assisti, ele e seus auxiliares foram mandados ao Uruguai para o jogo da Pré-Libertadores entre as equipes (fictícias?!) “Punta Del Este” (URU) e “Siete Cruces” (MEX). Confesso que jamais ouvi falar desses clubes. A partida é truncada, o ilustre apitador é obrigado a tomar decisões controversas e desperta a ira dos torcedores locais ao anular (corretamente) um gol da equipe da casa aos 45 minutos do segundo tempo. Uruguaios revoltados invadem o campo e perseguem o juiz e seus comparsas (digo, auxiliares). A polícia local não se esforça muito para evitar a pancadaria (provavelmente também revoltada com o resultado da peleja). Alguns bravos Charruas conseguem passar pela polícia e chegam ao vestiário do árbitro. O tal bandeirinha afeminado, vulgo “serjão” dá um soco num indivíduo mais exaltado, quebrando-lhe o nariz. Aqui acaba a cena.
Outra curiosidade é que no uniforme do trio de arbitragem está o distintivo da IFIA (não, não é erro de digitação… evitaram colocar “FIFA”, talvez pra se protegerem de processos por uso indevido de imagem).
Ainda estou assistindo aos primeiros episódios (só vi os 3 primeiros até agora), então não tenho no momento uma opinião formada sobre a série. O que posso dizer é que é bem produzida e a atuação do elenco é muito boa. Entre as várias participações especiais prometidas, estão: Neymar, Rivelino, Rincón, Dentinho, Júlio Cesar, Juca Kfouri e a bandeirinha Ana Paula Oliveira. Pra quem quiser assistir: Todo domingo, às 20:30 na agábêó [i].
[i] Mais sobre a série FDP no sítio da revista Veja: http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/series-brasil/fdp-estreia-na-hbo-brasil/
[i] Saiba mais sobre a lei das cotas de TV e suas implicações aqui: http://www.sidneyrezende.com/noticia/185028+tv+paga+nova+lei+obriga+cota+de+conteudo+nacional+em+horario+nobre
Extremamente polêmica a função de árbitro, principalmente a exercida nos gramados de futebol, é também um estigma para aqueles que a abraçam por paixão, já que o texto nos relembra que os queridos juízes ainda não tiveram sua atuação profissionalizada. A enxurrada de erros históricos (propositais ou equivocados) cometidos pelos nossos dignissimos em campo é tão revoltante e tão grave que gerou uma antipatia gratuita contra a classe. Sendo o futebol o esporte que mais nos afeta emocionalmente, a paixão nacional (ou mundial), são inadimissíveis os prejuízos causados às equipes por uma arbitragem irresponsável, imatura ou mercenária. Diante de tal quadro pagam os justos pelos pecadores, há os que apitam com ética mas nem por isso deixam de ser chamados de fdp quando desagradam por qualquer motivo. Retratada com muito bom humor na ótima série do HBO a labuta de juiz de futebol tornou-se cômica mesmo sendo trágica. Ah! Os links postados aqui me fizeram lembrar do inesquecível La Mano de Dios de Maradona(México/86) prejudicando a Inglaterra e o troco de Túlio contra nossos hermanos argentinos (Copa América/95) ajeitando descaradamente a bola com o braço esquerdo. O que há de mais hilário nas imagens é a cena do juíz mostrando à equipe argentina como Túlio matou a bola no peito. É gente, chumbo trocado não dói! Segue o link.