Logo após o término da Copa de 2014 e as derrotas do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha e por 3 a 0 para a Holanda, vimos várias matérias de jornal tentando explicar o insucesso da seleção na competição realizada no país. Certamente, uma derrota por 7 a 1 não poderia passar incólume. O placar inusitado gerou manchetes que falavam de humilhação e de vexame e que redimia a seleção de 1950 pela derrota para o Uruguai naquele Mundial, também realizado no país. Muitas reportagens foram feitas tentando explicar o fracasso da seleção de 2014. O trabalho feito na base dos clubes teria sido o principal responsável. Já o sucesso da seleção alemã, campeã do torneio, devia-se ao trabalho iniciado após a derrota para o Brasil na final da Copa de 2002. A partir dali, os alemães teriam investido fortemente na base dos clubes.

Lembro que ao ser interrogado por um veículo de comunicação sobre o assunto, eu disse que não me surpreenderia se o Brasil entrasse na Copa de 2018 como um dos favoritos, até porque poderiam surgir, no período, alguns jogadores que pudessem acompanhar Neymar. Mencionei Philippe Coutinho e Lucas. O primeiro já é titular. O outro não foi convocado. Não mencionei o Gabriel Jesus porque ainda não o conhecia. Acho que a maioria não o conhecia. O meu argumento era simples. A Copa é um torneio curto, de um mês, com jogos eliminatórios após a primeira fase. O Brasil sempre apresenta mais de um jogador extraordinário. Na Copa de 2014 tínhamos somente um, Neymar. Oscar não jogou o que se esperava. O placar de 7 a 1 era realmente algo surpreendente e inusitado, que poderia mesmo ter ocorrido um “apagão” como disse o então técnico Felipão. Eu não o estava defendendo. A seleção tinha feito uma péssima Copa, mesmo antes da derrota para a Alemanha. Porém, não via no trabalho de base a razão para o insucesso. Pode ser que o trabalho de base seja mesmo ruim. É preciso investigar. Mas este não pode ser avaliado por uma Copa do Mundo, um torneio muito curto. Talvez o mais correto fosse avaliá-lo por um período maior, que incluísse, além da Copa, as eliminatórias e a Copa América, por exemplo, sem falar da Copa das Confederações e das competições internacionais nas categorias sub 20 e sub 17.
Minha resposta ia na contramão do que todos diziam. E pode ser que o repórter tenha entendido equivocadamente que eu defendia o trabalho de base, que eu desconhecia e ainda desconheço. Apenas ressaltei o tempo curto de uma Copa do Mundo e o fato de termos somente um jogador extraordinário naquela seleção, algo muito raro em se tratando de Brasil. Até em 1994, quando vencemos com parte da imprensa criticando aquela seleção, tínhamos dois craques: Romário e Bebeto.
Dois anos e oito meses depois da Copa de 2014, a seleção brasileira é a primeira equipe a se classificar para o Mundial de 2018, na Rússia. Mudou o trabalho na base? Alguém ainda fala disso por aqui? Mudou o técnico no início das eliminatórias. Tite entrou e a seleção não perdeu mais. Foram oito vitórias consecutivas. Neymar está mais maduro e é secundado por jogadores de alto nível. Um deles é o Philippe Coutinho que eu tinha mencionado naquela ocasião. O outro, Gabriel Jesus. O técnico Tite é alçado à condição de ídolo e herói. E não se fala mais no trabalho de base. Se o trabalho feito ali é bom ou ruim, é preciso investigar. Se for ruim, temos que trabalhar para melhorar, independente do sucesso ou fracasso da seleção.
O Brasil hoje é o principal favorito para vencer a Copa de 2018. Não poderia afirmar se essa condição vai permanecer até junho do próximo ano. Isso dependeria de alguns fatores como, por exemplo, da continuidade do trabalho de Tite e principalmente de termos os jogadores no auge de sua forma física e técnica, principalmente Neymar. E ser favorito nunca significou que vai vencer o torneio.
O que importa aqui é perceber como a imprensa tende a buscar culpados de forma precipitada, sem uma maior reflexão, e como, esta mesma imprensa, tende a esquecer esses vilões tão logo resultados positivos voltam a aparecer.