Na última quinta, 31/05, foi o primeiro jogo da final da NBA, da série “melhor de sete”, entre Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers, campeões das conferências oeste e leste da liga, respectivamente. Esse é o quarto ano consecutivo que os times se enfrentam na final da NBA.

Esse primeiro jogo foi para a prorrogação e contou com atuações brilhantes de jogadores de ambos os times. Com o placar igual com 107 para cada equipe, a partida terminou na prorrogação com 10 pontos de diferença, quando o Warriors abriu 124 a 114 no Cavaliers após jogada que modificou a cena do jogo. O time de LeBron James tinha tudo para ganhar o jogo 1 nos segundos finais, quando Jr. Smith desperdiçou, de forma duvidosa, a chance de vitória no tempo normal para desespero dos companheiros de equipe.

No domingo, 03/06, o campeão da conferência oeste abriu 2 a 0 nas finas da NBA, levando o jogo com o placar de 122 a 103. O Warriors conta com uma equipe poderosa com atletas como Curry, Kevin Durant, Klay Thompson e Draymond Green. Curry, que foi brilhante neste jogo, marcou um total de 33 pontos.
Ainda assim, quem rouba nosso coração é o “Papai” LeBron James. No primeiro jogo, LeBron carregou o Cavaliers e somou 51 pontos, sozinho, para o time. Assim, igualou o recorde de 109 jogos de playoffs de Michael Jordan pontuando 30 ou mais. O atleta é um “monstro” em quadra, que mesmo aos 33 anos, possui um preparo físico que o permitiu permanecer 47 minutos no jogo e marcar todos esses pontos. Essa é a oitava final seguida de Lebron na NBA, e a nona na carreira.
Sabe-se que a principal liga de basquete norte americana é reconhecida por revelar jogadores extraordinários no esporte, quando basta lembrar do Dream Time de 1992, campeão olímpico em Barcelona, que contava com Magic Johnson, Michael Jordan, Charlie Barkley e Scottie Pippen, entre outros do time que figuram no hall da fama do basquete mundial. E nos últimos oito anos, vimos despontar Lebron James, criado em Ohio e em Cleveland.
LeBron nasceu em 1984 quando sua mãe, Glória, tinha apenas 16 anos, e o criou sozinha sem a ajuda do pai. Mesmo com vida difícil, pobre e trabalhando em diversos empregos, Glória conseguiu manter o filho afastado da criminalidade oferecendo-lhe uma bola de basquete. LeBron batia bola nas quadras do bairro quando começou a despertar atenção da vizinhança e se tornou astro do basquete onde estudava.
Quando despontou para o basquete profissional, LeBron James já era reconhecido como um dos melhores atletas norte-americanos, e o time de sua cidade o escolheu no Drafft (quando times da NBA podem recrutar jovens talentos). Em 2007, conseguiu o feito de levar seu time para a final da NBA contra o San Antonio Spurs, que venceu a série em quatro jogos. Naquele instante, LeBron deixava de ser uma aposta no basquete para se tornar um ídolo no esporte, e um herói para Cleveland.
A narrativa em torno do herói clássico remete à luta, superação, redenção e glória de um povo, cumprindo a missão de representar a comunidade e trazer dádivas para os seus semelhantes. E, segundo Campbell, as histórias míticas e sagradas revelam fases de uma jornada que compõem o arquétipo do herói até seu amadurecimento, “num percurso padrão da aventura mitológica do herói (…) representada nos rituais de passagem: separação – iniciação – retorno” (CAMPBELL, 2007: p. 37). Todas essas fases podem ser encontradas na história de LeBron James, desde seu nascimento difícil e pobre até seu retorno para Cleveland.
Segundo Helal, “um fenômeno de massa não consegue se sustentar por muito tempo sem a presença de ‘heróis’, ‘estrelas’ e ‘ídolos’, que exerçam enorme fascínio na comunidade” (HELAL, 2001: 154). São esses atletas heróis que levam as pessoas a se identificarem com determinado evento, time, campeonato esportivo. A partir dessa reflexão, fica mais fácil compreender também a idolatria em torno de alguns atletas quando conhecemos suas histórias de vida e conquistas esportivas.
LeBron foi eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) nas temporadas 2008-2009 e 2009-2010, quando o Cavaliers chegara às finais das conferências. Contudo, fora eliminado pelo Los Angeles Lakers e pelo Boston Celtics, respectivamente. Esses acontecimentos mudaram a vida de LeBron James, e em 2010, quando já era agente livre podendo negociar e trocar de time sem qualquer problema, o atleta anunciou que jogaria pelo Miami Heat. LeBron movimentou cerca de 6 milhões de dólares com publicidade e uma série produzida somente para acompanhar o processo de decisão por qual time iria fazer a opção de representar.

Com LeBron, o Miami Heats foi campeão em 2012 e 2013. O atleta foi eleito MVP mais vezes e ficou no time até 2014, quando perdeu o título para o Santo Antonio Spurs. LeBron decidiu então voltar para casa na temporada 2014-2015 para jogar novamente no Cleveland Cavaliers, quando afirmara que havia retornado para ser campeão. Desde então, LeBron disputa todas as finais da NBA.
LeBron já superou Michael Jordan, um dos principais nomes do basquete nos Estados Unidos, em número de pontos nos playoffs, em 2014-2015, tornando-se o maior pontuador da história da NBA na pós-temporada. O que faz uma comparação entre atletas ser inevitável. Jordan tem seis títulos na NBA, enquanto LeBron tem três, mas chega em sua nona final nessa temporada. LeBron atuou em 45 jogos de finais até hoje, enquanto Michael jogou 35 vezes em toda sua carreira.

O retorno de Lebron para casa, seu primeiro time, e tudo que até então vem conquistando, da forma com que vem acontecendo, são significantes em sua jornada de herói e o consagram enquanto mito esportivo. A saga do atleta está longe de acabar: suas conquistas simbolizam seu retorno triunfal à comunidade para, mais uma vez, a confirmação de sua consagração mitológica.
Na quarta tem mais jogo, tem mais LeBron James.
Eu vivi para ver o mito LeBron!
Referencial Bibliográfico
HELAL, Ronaldo; LOVISOLO, Hugo; SOARES; Antônio Jorge G. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.
CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo, Cultrix, 2007.
ESPN: http://www.espn.com.br/nba/artigo/_/id/4356210/lebron-james-e-michael-jordan-em-finais-da-nba-veja-e-compare-os-numeros