Há duas semanas, o mundo se comoveu com as lágrimas de Lionel Messi, que, pela quarta vez, terminou uma final sem levantar a taça de campeão vestindo a camisa de sua seleção. O choro do craque argentino amoleceu até mesmo os seus críticos. No último domingo, o mundo acompanhou o drama de outro fenômeno dos gramados: Cristiano Ronaldo, melhor jogador da história de Portugal, desabou ao render-se à dor de não poder lutar por um título tão almejado. A emoção dos dois atletas expôs o lado humano desses heróis do futebol, a face vulnerável de quem está além dos milhões de prata. São momentos como estes que renovam o espírito romântico de que o esporte não é somente business – ainda que estes exemplos possam se tornar parte de narrativas espetaculares a posteriori.



Antes de a bola rolar em Saint-Denis, pensei: será que vai acontecer como em 2004? O time da casa vai perder de novo? A trajetória das duas seleções foram bem distintas na Euro 2016. Portugal fez partidas medianas, apesar dos gols importantes e bonitos. A França tinha a seu favor um povo unido, carente pelos últimos traumas, portanto ávidos por um pouco de alegria. Obviamente, isto não explica o vice-campeonato. Les Bleus conquistaram a posição com muita obediência tática e o frescor de jovens talentos.
Novamente perguntei sobre o papel de Deus no futebol. Em 2004, Portugal – favorita absoluta dentro e fora de campo – perdeu para a Grécia de forma que só a lógica matemática sabe explicar. Então, pensei: será que agora a justiça será feita? Estaria Deus corrigindo um acidente de 12 anos atrás? Não importa a resposta. Nem essas perguntas. Portugal derrotou a França diante de milhares de franceses sem o seu maior jogador. Curiosamente, o gol da vitória que coroou a fraca campanha – mas reparou uma injustiça divina – veio de um imigrante de Guiné Bissau. Bela jogada de Éder, golaço da história!


Ameaçada pelos baderneiros russos, ingleses e croatas, a Eurocopa deste ano vai ser lembrada pelo carisma dos torcedores irlandeses, pelo sonho dos islandeses e pelo orgulho dos galeses. A Euro 2016 será marcada pela vitória do imigrante colonizado e pelas lágrimas de um atacante, agora sim, campeão pelo seu país. Maledicentes provocarão o debate: quem é melhor: Cristiano Ronaldo ou Messi? O primeiro tem um título para sua seleção. Ora, se o segundo ainda não ganhou, prefiro pensar como o jornalista Fernando Calazans: Azar da Copa! Os dois são craques inigualáveis e de características distintas; líderes a seu modo. Melhor ainda. Não são extraterrestres, mas terráqueos, humanos que também choram.