Em 2009 participei pela primeira vez do Play the Game, experiência que se repetiria por outras duas vezes. Play the Game é uma conferência internacional que tem como objetivo fortalecer as fundações éticas do esporte e promover a democracia, transparência e a liberdade de expressão. Naquele ano, pela primeira vez, ouvi o jornalista britânico Andrew Jennings relatar suas experiências contra o “sistema”, sempre intentando revelar histórias de corrupção e abuso do Comitê Olímpico Internacional e outras federações esportivas. Já naquela época Jennings mantinha um olhar atento para o Brasil. Também tive a oportunidade de ouvir o jornalista Declan Hill, um dos primeiros jornalistas a apontar como o match-fixing (manipulação de resultados) estava se espalhando pelo mundo e ameaçava destruir as ligas esportivas.
De volta à conferência em 2011 pude presenciar o sensacional embate entre o então diretor de comunicação da Fifa, Walter De Gregorio, e Andre Jennings, em uma memorável sessão sobre corrupção; além de sérios debates sobre doping.

Em 2013, o relato emocionado, e envergonhado, do ex-jogador de futebol Mario ?ižmek vai ficar para sempre em minha memória, principalmente sobre a importância de ouvir diversos lados de uma mesma história. O croata, juntamente com outros oito colegas de time, vendeu o resultado de diversas partidas foi descoberto, preso e banido do esporte que dizia tanto amar. O que levou o jogador a manipular os resultados? Sobrevivência. O clube devia salários há quatorze meses, as contas se acumulavam e a família já não tinha o que comer.
Esse ano, infelizmente, não pude estar presente, mas acompanhando à distância as palavras iniciais de Jens Sejer Andersen, presidente do Play the Game,
“Silence, my ladies and gentlemen, silence, silence…
No, don’t get me wrong: I am not calling on you personally, I am just trying to summarize in one word what has been the biggest challenge for Play the Game to overcome when looking back on the past twenty years (…)”.
[Silêncio, senhoras e senhores, silêncio, silêncio…
Não, não me entenda mal: Não estou chamando a atenção de vocês, estou apenas tentando resumir em uma palavra qual tem sido o maior desafio que o Play the Game teve de superar nos últimos vinte anos (…)].

O silêncio não é um desafio apenas à conferência, mas ao esporte como um todo, principalmente quando se trata de temas sensíveis, ou considerados tabus como doping, corrupção, superfaturamento em mega-eventos, discriminação, abuso sexual, etc.
O silêncio precisa ser rompido, e já passou do tempo desses temas serem endereçados.