Se você, leitor, mora no Rio de Janeiro desde que nasceu e conhece pouco ou nada da história de sua cidade, não sinta-se envergonhado. Ou sinta-se. Mas saiba que essa lacuna, com certeza, é compartilhada com outros milhares (talvez, milhões de cariocas). E, na verdade, essa constatação nem será tão importante para a continuação da leitura desse post. Apenas iniciei assim para explicar que ao estudar a história do Rio ,como contingência da realização de minha pesquisa de doutorado, me deparei com fatos, conceitos e explicações que não faziam parte da minha, até então limitada, visão sobre a história da cidade.
Estudar especificamente o Rio de Janeiro na virada do século XIX para o XX é mergulhar em um mundo ao mesmo tempo desconhecido e tão familiar em seus problemas, mesmo em uma leitura contemporânea. É também perceber que naquele período o Rio passava por reformas urbanas, que pretendiam modernizá-lo e projetá-lo internacionalmente, ainda que não houvesse um megaevento estimulando essas transformações. A situação era conturbada social, política e economicamente, vide a Revolta da Vacina (1904), a transição Monarquia-República (1889) e o Encilhamento (1893). Elites e camadas populares habitavam o mesmo tecido urbano, carecendo, no entanto, de maior diálogo entre si. Semelhanças com os dias atuais?
Observar os divertimentos disponíveis para esse cidadão carioca também nos permite perceber certa cisão entre ricos e pobres. Jogava-se no bicho, assistia-se a brigas de galo, ia-se a regatas de remo ou acompanhava-se uma corrida de turfe. As opções eram relativamente variadas para o tempo livre. Haveria lugar para a prática e assistência dos jogos olímpicos?
Sim. Nessa época, já circulavam notícias sobre os jogos olímpicos nos principais periódicos da capital. Jogos em Atenas, Paris, St. Louis, Londres chegavam aos jornais por meio do serviço telegráfico da Agência Havas, instalada no Rio ainda no século XIX. Outros jogos olímpicos, que não àqueles organizados pelo COI, também estavam em circulação na urbe, o que pode ser comprovado pela leitura dos periódicos da época. Os jogos olímpicos estavam no circo, no cinema, no teatro, em festividades (mas já falei sobre isso em outro post)…
Fiz um post mais curto do que o habitual, porém quem desejar estender a leitura sobre essa temática pode fazê-lo pela leitura de dois textos meus sobre os diferentes jogos olímpicos presentes na cidade do Rio nas décadas de 1890 e 1900. Apresentei-os esse ano: no Intercom: “Jogos Olímpicos na imprensa carioca: primeiros momentos (1890 a 1910)“; e no Ibercom: “Narrativas da imprensa carioca sobre os jogos olímpicos nas décadas de 1890 e 1900“. Em versão revisada, os dois serão publicados respectivamente pelas revistas Istor e Líbero. Até lá, quem tiver interesse pelo tema, pode ficar à vontade para entrar em contato.
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Alguns livros sobre o lazer e o esporte na metrópole carioca merecem ser lidos:
A vocação do prazer. A cidade e a família no Rio de Janeiro Republicano. Rosa Maria Barbosa de Araújo.
Cidade Sportiva. Victor Andrade de Melo
Trabalho, bar e botequim. Sidney Chalhoub