Recentemente houve nos campos de futebol claras manifestações de racismo. Em jogo válido pela Copa Libertadores, o jogador Tinga ao tocar na bola ouvia gritos que imitavam os sons emitidos por macacos. Esses gritos vinham de parte da torcida do Real Garcilaso, time peruano. O evento ganhou repercussão no Brasil e fora e Tinga foi alvo de diversos gestos de solidariedade que se espalharam pelo Brasil afora.
Obviamente que não poderia ser diferente, afinal a intolerância racial não deve ser alimentada de modo algum, devendo mesmo ser devidamente punida como foi o caso do jogador Nicolas Anelka que após fazer gesto considerado antissemita foi suspenso pela Federação Inglesa por cinco partidas e multado em 97, 300 Euros.
O futebol e os esportes de um modo geral ainda estão longe de ser um território democrático e igualitário. Isso porque estão longe de poderem ser considerados como esferas à parte da dinâmica social e cultural que os cerca. E essa dinâmica ainda comporta diferentes formas de intolerância.
Uma dessas formas de intolerância diz respeito à diversidade sexual. As entidades esportivas, o público, a imprensa etc., ainda pouco contribuem de modo mais enfático para que os esportes sejam territórios mais tolerantes no que diz respeito à opção sexual de seus atletas.
Os esportes ainda são potentes produtores de valores e símbolos associados a masculinidade hegemônica. Essa ênfase explica toda dificuldade que as mulheres tiveram – e ainda têm, sobretudo em algumas modalidades – para se inserirem no campo esportivo. E essa ênfase também explica as várias formas de rejeição ao homossexualismo. No futebol, por exemplo, desde os cânticos das torcidas, passando pelo discurso dos jogadores e da imprensa, é perceptível que se trata de um território em que a masculinidade precisa ser afirmada constantemente.
Mas o futebol NÃO é uma exceção no que diz respeito a homofobia. Poderíamos sem muito exagero afirmar que os esportes de um modo geral ainda representam um espaço que exalta comportamentos compreendidos como masculinos e alimentam formas por vezes violenta de rejeição a homossexualidade
Como propõe Eric Anderson em seu livro In the Game: Gay Athletes and the Cult of Masculinity:
I have grown to understand the complex role that sport plays, particular in the production of a violent homophobic formo f masculinity (…) the structure of sport in society influences many boys to develop such narrow sense of masculinity, as well as a Strong hatred for homossexuality (p.4)
Há alguns dias atrás, a promessa do futebol americano Michael Sam, jogador universitário, se declarou gay em entrevista concedida simultaneamente ao jornal The New York Times e à ESPN americana. Michael disse “Sou Michael Sam: jogador de futebol americano e gay”.

Antes dessa declaração, Sam tinha sua entrada na NFL praticamente garantida, mas é de se pensar e desconfiar o que ocorrerá daqui para frente. Michael recebeu apoio de diversas celebridades, incluindo Michele Obama, apoio que certamente lhe será um auxílio fundamental.
Mas será que o apoio das celebridades e o inicial apoio da NFL se fará refletir entre seus colegas de time e adversários? Será que esse apoio persistirá no vestiário local onde segundo Wagner Camargo propõe: “funciona como um espaço de “regulação” de corpos e produtor de subjetividades “obedientes”, consonantes com o mundo heterossexual (masculino).” (Por uma “etnografia dos vestiários”: do futebol e outros esportes na sexualização dos espaços. 36º Encontro Anual da ANPOCS, 2012)
O futuro de Michael Sam no futebol americano ainda está incerto e talvez esse futuro não dependa apenas de suas habilidades atléticas já demonstradas na liga universitária.