Construído como um dos símbolos de um Brasil “próspero e grande” que se posicionava mundialmente no cenário pós-Guerra, o então Estádio Municipal se tornou um templo do esporte mundial. Palco de duas finais de Copas do mundo, de abertura e encerramento de Olimpíadas, casa dos cariocas que transformaram o “domingo eu vou ao Maracanã” em mais do que uma letra de música, mas num programa cultural típico do Rio de Janeiro.
Um dos principais livros que traçam o panorama histórico da importância do estádio no período de sua construção é “O Rio corre para o Maracanã”, da historiadora Gisella Moura. Podemos dizer que, hoje, à beira dos 67 anos, o “gigante de cimento”, se transforma agora em outro símbolo: o da corrupção envolvendo poder público e empreiteiras. São denúncias de irregularidades nas licitações, na reforma do estádio para a Copa de 2014 entre outras que aparecem de tempos em tempos, além de reportagens que mostram o abandono do local e que colocam o Maracanã como um dos pilares do desvio de dinheiro público.
A mais atual, apresentada pela reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo, no último domingo, 12 de março, denunciou o superfaturamento apontado por uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ).
Cerca de 1,2 bilhão de reais transformados em entulhos, em gramado cheio de buracos, em falta de energia elétrica. O “disse me disse” entre Governo do Estado, Maracanã S.A e Comitê Organizador Rio-2016 não acha solução plausível. Ninguém assume e todos dizem ser o outro, o goleiro Barbosa da vez. E assim ficamos: assistindo definhar um dos principais destinos de turistas do Rio. Um sentimento de vergonha é o que resta ao ler e acompanhar tudo isso.
Os clubes que tradicionalmente jogavam por lá, tiveram que buscar alternativas na temporada passada e convivem com incertezas sobre o atual momento do “Maraca”. Para jogar no estádio, alguns por exemplo, tiveram que arcar com as dívidas milionárias da conta de luz.
O que se deve analisar também é que durante as obras foi dito – pouco, é verdade – sobre o superfaturamento. Mas não acompanhamos uma imprensa que tivesse cobrado com afinco as denúncias apontadas, principalmente, em abril de 2014 (nessa época, o TCE já registrava custos acima dos previstos para a reforma). Talvez porque era preciso valorizar o evento que começaria poucos meses depois.

Resta saber se a partir de agora, teremos uma cobertura incessante sobre as denúncias que envolvem o Mário Filho. Que devolvam ao local as condições de ter novamente uma administração digna da “mística futebolística” que ele representa, da sua importância para a cultura nacional.

O descaso e o abandono em que vimos o estádio, com saques inclusive, doeu tanto quanto o gol do uruguaio Ghiggia. Se nada for feito pelos órgãos competentes, talvez estejamos vivenciando hoje o verdadeiro “Maracanazo”.
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