A cada 4 anos, período etimologicamente denominado “olimpíada”, uma cidade antecipadamente escolhida prepara uma enorme estrutura exigida pelo Comitê Olímpico Internacional para sediar os Jogos Olímpicos. São oferecidas a delegações, jornalistas, turistas e autoridades todas as condições para prática e cobertura jornalística das competições das modalidades que fazem parte do programa olímpico. Esses são os Jogos Olímpicos segundo o “padrão COI”. O Rio de Janeiro passou por todos esses requisitos para viabilizar o projeto de sediar o evento, que começará em um pouco mais de um mês.
No entanto, a expressão “Jogos Olímpicos” teve outras conotações tanto no Rio de Janeiro quanto no mundo e que, de longe, estavam em consonância com as rigorosas regras estabelecidas pelo COI.
Fausto Amaro, pesquisador do Grupo de Pesquisa “Comunicação e Esporte” da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, analisou na palestra “Variedades dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro (1890- 1919): uma abordagem a partir das narrativas da mídia impressa” as mudanças em relação às perspectivas sobre o maior evento esportivo do planeta. Na apresentação, que ocorreu na última quinta-feira na Casa Rui Barbosa, Fausto Amaro mostrou que a imprensa carioca também relatava com significativa repercussão nesse período a ocorrência de outros Jogos Olímpicos: alguns deles similares aos idealizados pelo Barão de Coubertin (com modalidades comuns aos Jogos promovidos pelo COI, diversos países envolvidos e uma sede das competições, como o evento em Montevidéu-1907) e outros que nada mais eram do que competições esportivas em pequena escala e inseridas em festas, celebrações e atividades de entretenimento no contexto da sociedade carioca. Algumas dessas competições na cidade do Rio de Janeiro eram incentivadas e patrocinadas pelos próprios jornais cariocas. Todas, porém, sem a chancela da autoridade máxima olímpica.

De fato, a variedade de usos da expressão gerou impasses e questionamentos. No entanto, uma resolução do COI em 1913 impede até hoje competições, sejam de modalidades esportivas ou não, que não sejam promovidas diretamente pela entidade de reproduzirem as marcas “Jogos Olímpicos” e “Olimpíadas”.
Ainda no âmbito de sua pesquisa, Fausto Amaro analisou o crescimento, no final da década de 1910, do engajamento da imprensa e de figuras importantes da sociedade naquele período histórico, como Raul do Rio Branco, em desenvolver o olimpismo no Brasil, através da formação de atletas de elite e do fomento ao investimento governamental no esporte. O resultado foi bem-sucedido, e em 1920, nos Jogos Olímpicos da Antuérpia, o país enviou pela primeira vez sua delegação.

Diante do processo de expansão comercial dos Jogos Olímpicos, do avanço nas tecnologias de transmissão de megaeventos para uma escala planetária e em multiplataformas de comunicação e do fato do Rio de Janeiro sediar a primeira Olimpíada da América do Sul, a cobertura da imprensa nacional sobre o tema alcançará o seu auge. A expectativa, portanto, é a de consolidação do olimpismo no Brasil, por meio da maior divulgação midiática das modalidades e do crescimento de pesquisas sobre o tema.