Parabéns, vovô Garrincha

Cabeça Garrincha 80 anos 2

18 de outubro de 2013. Há exatos 80 anos nascia em Pau Grande, distrito de Magé-Rj, um dos maiores jogadores de futebol que o mundo já conheceu. Se estivesse vivo, o “vovô” Garrincha estaria feliz com a forma que a mídia o tratou?

Garrincha morreu muito novo, aos 49 anos vítima do alcoolismo. Na sua curta carreira, encantou quem teve o prazer de vê-lo jogar e mexeu com a imaginação de quem ouvia suas jogadas pelo rádio. Suas pernas tortas e seus dribles levaram o Botafogo a grandes glórias. Na seleção brasileira jogou 61 partidas, ganhou 53, empatou sete e perdeu apenas uma. Esta única derrota aconteceu em 1966 na Copa do Mundo da Inglaterra quando seu joelho conseguiu fazer o que muitos zagueiros do mundo tentaram: pará-lo. Foi bicampeão do Mundo com o Brasil em 1958 e em 1962, atuando de forma decisiva nas duas conquistas. Alguns historiadores creditam a ele e a Pelé a magia e o encanto que o mundo tem pelo nosso futebol. Outros afirmam que os dois inauguraram o jeito brasileiro de jogar futebol. Entretanto, a última afirmação nos leva a pensar: se os dois inauguraram uma escola, quem foram seus seguidores?

É impossível comparar qualquer outro jogador de futebol à Garrincha ou à Pelé. Os dois foram únicos e por mais que outros tentem seguí-los, nunca obterão êxito. Hoje comentarista de futebol, o tricampeão Gérson, canhotinha de ouro, afirma que igual a Pelé pode nascer outro, mas igual a Garrincha nunca mais! A frase de Gérson tem sentido, já que Garrincha pode ser considerado o símbolo de uma geração que não será mais vista no futebol atual. Garrincha foi um jogador de futebol extraordinário, mas nunca foi um atleta. Não treinava, bebia e fumava antes dos jogos, pertenceu a outra era, de uma época de percepções diferentes. O rádio foi o meio de comunicação que tornou Garrincha ídolo de uma nação. Além disso, o futebol era menos espetáculo, mais amador e mesmo que precisasse de um rei não seria Mané quem receberia o cetro. Pelé, sim, queria e vestiu a coroa com gosto, inaugurando a era do futebol espetáculo, que é transmitido via satélite, com patrocinadores, empresários, sem contratos em branco e com maior rigor na preparação física e psicológica dos atletas. Os dois são mitos e referências para diferentes épocas do futebol. Enquanto um encerrou uma era, o outro começou a atual. Podemos dizer que hoje temos mais seguidores de Pelé no futebol do que de Garrincha. Talvez porque tenhamos mais imagens do “rei” para seguir do que do Mané.

Entretanto, se o vovô Garrincha estivesse vivo, seria hoje aclamado e idolatrado pela mídia? Em vida, Mané viveu longe dos holofotes e da badalação desde sua aposentadoria no futebol. Perdeu todo o dinheiro que conquistou e morreu pobre. Nunca foi um exemplo de “sucesso”. Foi astro dentro de campo e não fora das quatro linhas. Aliás, fora de campo foi massacrado pelos mesmos que o elogiavam. Sua vida desregrada e dionisíaca ultrapassou seus feitos como jogador. O homem venceu o mito. A percepção e concepção de sucesso de Garrincha era outra. Desta forma, nunca se encaixaria nos padrões atuais de marketing e publicidade. Seria difícil convencê-lo a passar horas e horas frente a uma câmera para gravar um minuto de comercial. Também não seria fácil ele aceitar que a chuteira do patrocinador o faria jogar ou chutar melhor. Garrincha é melhor ou pior por conta disso? Creio que não, era apenas diferente, ou melhor, único. Se ele inaugurou qualquer escola, esqueceu-se de ensinar a alguém. Ele foi o próprio “estilo Garrincha” de viver e jogar.

Mesmo assim, ainda que a mídia não pudesse ou quisesse coroá-lo, a qualquer tempo estará a lhe dever maior reverência por tudo que ele proporcionou aos torcedores do futebol e ao povo brasileiro, já que por muito menos outros que vieram depois dele são mais falados, divulgados e comentados. Antes de soprar as 80 velinhas, talvez o vovô Garrincha dissesse com muita mágoa:

Perdoai-vos, senhor, eles não sabem quem idolatram!

 

Nota do Editor: Todos aqueles que desejarem saber mais sobre Garrincha e a cobertura midiática em torno dele, podem encontrá-lo no livro Garrincha x Pelé: a influência da mídia na carreira de um jogador, escrito pelo autor desse post.

2 thoughts on “Parabéns, vovô Garrincha

  1. Constrangimento que não existe quando o assunto é futebol. Sem fugir dos assuntos, Elza Soares esbanja otimismo em relação à seleção brasileira. E manda um recado para os japoneses: abram os olhos. – Sou sempre otimista em relação à seleção brasileira. Sempre! O Brasil foi quem ensinou ao mundo o que é jogar futebol. E agora os alunos querem bater no mestre? De jeito nenhum podemos deixar. Esses japoneses têm de abrir o olho, porque vamos vencer por 2 a 1 ou 1 a 0 – apostou a cantora.

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