“Foi Deus quem nos trouxe Romário”. Não foi ao certo essa frase – dita originalmente pelo técnico Carlos Alberto Parreira, após a classificação para a Copa de 1994 – mas algo muito próximo disso, que ouvi recentemente de um amigo, muito participativo das manifestações que tomam o Rio de Janeiro desde junho. Questionei, sem fazer campanha para um ou outro candidato, qual seria o nome para a vaga de Cabral no Governo. E a resposta? Romário, o baixinho invocado, herói nacional dos gramados. O homem do Tetra. O rei da pequena área. O polêmico.
Não ache que isso é um devaneio de apenas um jovem manifestante carioca. Ele está junto de cerca de 8% do eleitorado, de acordo com pesquisa de intenção de votos feita pelo Datafolha.
Romário é um exemplo típico de um herói nacional construído no esporte e pela mídia. O destaque nos campos o levou aos meios de comunicação. E ele sempre soube estar em evidência. Frasista e crítico, sofreu com processos, cortes da Seleção e a quase não ida para o Mundial que o consagrou, em 94 (não estava sendo convocado por ter criticado Parreira e Zagallo). Além de sempre exaltar o seu talento em relação aos colegas de trabalho.
Como deputado federal pelo PSB-RJ, (eleito com 146.859 votos, cerca de dois Maracanãs novos lotados), manteve a postura, sendo um dos maiores opositores da Copa no Brasil e da nova administração da CBF.
Aquele que era um jogador politicamente incorreto, se capacita também como um nome politicamente correto. É um dos deputados mais atuantes. Faz projetos na área social e de pesquisa.
E com um discurso de isomorfia em relação aos pedidos das ruas, Romário surge com chances nas urnas, já que gera uma identificação com parte dos eleitores. Mas o herói que salva o país no futebol pode resolver os problemas fora de campo? Outros atletas seguiram esse caminho pelo mundo. O atacante ex-Milan, George Weah, que sucedeu Romário no prêmio de melhor jogador do mundo em 1995, foi derrotado nas eleições presidenciais da Libéria, em 2005, por exemplo.
Numa era do futebol das entrevistas combinadas, das arenas padrão Fifa, do politicamente correto, Romário aparece como uma voz diferente, de oposição a tudo e a todos. E a cada “aspas” dele, a imprensa toda reverbera. Num processo que pode alçar o Baixinho a um posto de maior destaque. A mesma imprensa que pressionou pela convocação dele em 1993, pode contribuir, vinte anos depois, para dar um papel de protagonista ao atacante numa época de personalização política, em que valem mais os atributos pessoais do que as questões ideológicas e partidárias dos candidatos.
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