Parem o futebol!

A Copa do Brasil de 2021 começou na terça-feira (9) com dois jogos, mas até esta próxima quinta-feira terão sido realizadas outras 39 partidas pela competição nacional. Espalhadas por 24 estados diferentes.

A partida que abriu a competição foi realizada entre o Águia Negra, do Mato Grosso do Sul, contra o Vitória.

O time baiano viajou mais de 2 mil quilômetros até o município de Rio Brilhante, no interior do Mato Grosso do Sul, para jogar contra o time da casa num estádio com capacidade para 8 mil torcedores.

Essa costuma ser a regra na primeira fase da competição, a propósito. Viagens longas, municípios e estádios menores, estruturas limitadas.

Não há problema nisso, diga-se. A beleza da Copa do Brasil é justamente a sua diversidade. Não fosse o “detalhe” de que, em meio a esta edição específica, o Brasil vive o seu pior momento na pandemia de Covid-19.

Na semana passada, o país registrou 10 mil mortes. É a primeira vez desde que a Covid-19 chegou ao país que isso aconteceu. Nunca se morreu tanto em tão pouco tempo por causa da doença. E, a despeito de tudo isso, a competição foi iniciada.

A Confederação Brasileira de Futebol, as federações estaduais, os clubes, todos mentem ao dizer que tudo será feito de forma segura e respeitando rígidos controles sanitários.

Sim, sem meias palavras. Isso é mentira!

E só mostra que os dirigentes da CBF não conhecem – ou fingem não conhecer – o futebol que administram tão mal. Não entendem de Brasil. Não deixam a luxuosa sede do Rio de Janeiro para rodar pelas cidades mais longínquas desse país com dimensões continentais.

Não importa se os jogos acontecem sem torcidas. As aglomerações, os fluxos de pessoas, as viagens, e a consequente infecção em massa, serão inevitáveis no curso do campeonato.

Ainda na terça-feira, por exemplo, Campinense e Bahia jogaram no Estádio Amigão, em Campina Grande. O Tricolor deu uma saraivada na equipe paraibana, metendo um simbólico 7 a 1. Lembrei imediatamente do famoso bordão “gol da Alemanha” que nos atormenta desde 2014, e não só necessariamente no contexto futebolístico.

Pois, ele volta a nos atormentar.

A partida aconteceu em território paraibano. Num estado que está à beira de um colapso em seu sistema de saúde, com UTIs com taxa de ocupação superior aos 90% e com recorde de morte diárias sendo batidas a cada dia.

Na quarta-feira (10), dia seguinte ao jogo, a Paraíba registrou 50 mortes num único boletim epidemiológico e superou a marca de 30 de junho de 2020, que até então detinha o recorde para um único dia. No âmbito nacional, outro recorde: 2.349 mortes em 24 horas.

A situação caótica se repete, por exemplo, em Manaus, cidade que já entrou em colapso e que receberá jogo na semana que vem.

Em meio à tanta insanidade, parece que a única voz lúcida é a de um técnico que, ironia das ironias, recebe o apelido de “doido”. Pois foi o chamado Lisca Doido, atualmente no América Mineiro, o único nome público do futebol nacional a se posicionar contrário ao futebol no momento atual.

Foi criticado por muitos de seus pares, diga-se, mas ele não falou mais do que obviedades. No Brasil governado por genocidas, o óbvio parece ser revolucionário.

Mas, enfim, fato é que não tem sentido manter o futebol e permanecer indiferente à quantidade de mortes diárias.

Levantamento recente do Esporte Espetacular, da TV Globo, mostra que foram 320 os jogadores da Série A do Brasileirão que se infectaram com a Covid-19 ao longo da competição. Já reportagem do El País enumera o “rastro de morte” deixada pela pandemia no futebol nacional.

São dados emblemáticos. Porque, se os clubes mais bem estruturados do país demonstram não ter ideia de como controlar a pandemia, os casos, as mortes, o que dirá da grande maioria dos clubes brasileiros, participantes da Copa do Brasil, que, não raro, viajam e jogam sem nem mesmo a presença de um médico?

Vai ser uma carnificina. E a CBF, para variar, vai ser cúmplice de toda essa mortandade.

Fonte: Guarulhos Hoje

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