Cabrera, Nicolás. Que la cuenten como quieran: pelear, viajar y alentar en una barra del
fútbol argentino. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo libros, 2022.
O que significa ser “barra brava” no futebol argentino? Por que alguém está em uma barra? Herança, amor, honra ou dinheiro? Estas são algumas das perguntas que traz o livro Que la cuenten como quieran: pelear, viajar y alentar en una barra del fútbol argentino a partir de um estudo etnográfico com “Los Piratas”, a torcida organizada do Clube Atlético Belgrano de Córdoba, que existe desde 1968. O trabalho de campo foi realizado entre 2011 e 2019 e consistiu em um acompanhamento diário com os integrantes da barra antes, durante e depois de cada jogo e em vários momentos íntimos de um grupo sobre o qual se fala muito e se sabe pouco.
O livro estrutura-se em torno a três experiências fundamentais através das quais “Los Piratas” se identificam entre diferentes e se hierarquizam entre iguais. Na primeira delas, o lutar, veremos as dinâmicas das violências: como os “barras” se enfrentam trocando socos, facadas e tiros com diferentes alteridades, que são definidas em diferentes espaços e tempos. Na seção viajar são narradas as diferentes maneiras pelas quais estes apaixonados torcedores acompanham ao seu time pelos bairros, cidades, estados e países onde o clube joga.
Veremos como se procura atravessar fronteiras sem tropeçar. Na parte torcer há uma história mínima da estética pirata. Uma descrição densa do trabalho cotidiano que envolve a organização da festa e o carnaval dos estádios. Finalmente, o livro se encerra procurando discutir a problemáticas das “barras” e a sua ligação com o fenômeno da violência no futebol a partir de duas dimensões: de um lado, analisam-se as políticas públicas historicamente implementadas nessa área; assim como se propõe um estudo comparativo do caso argentino com outras experiências internacionais, tanto latino-americanos, quanto europeias.
O livro conta, em poucas palavras, como se forma “La barra de Los Piratas” ao mesmo tempo em que descreve o que “los barras” fazem na sua cotidianidade. Vocês verão tradições de bairro e linhagens familiares; reconhecimento e progresso social; fome de adrenalina; sentimentos patrióticos; orgulho das músicas criadas; caixa dois de ingressos; pactos entre homens; humor de estrada; facas, armas e punhos fechados; ou, simplesmente, a serenidade de ter encontrado um lugar no mundo torcendo pelo Belgrano.
Essas são algumas das chaves para entender a durabilidade de grupos que existem além do que “diga la gilada”, aquela manézada onde “Los Piratas” incluem jornalistas acaguetes, cartolas mercenários, jogadores passageiros, torcedores de fachada, políticos charlatões e antropólogos enrolados.
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Nicolás Cabrera
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