Apesar de poucos meios de comunicação terem noticiado que a seleção feminina brasileira de futebol foi heptacampeã da Copa América, dois importantes episódios recentes mostraram a força da representatividade da mulher no esporte, especialmente no futebol.

O primeiro deles foi a imagem da torcedora argentina Vanessa que amamentava a filha Florencia enquanto assistia ao jogo Argentina e Nigéria, no dia 26 de junho, na praça San Martin (Argentina). Essa imagem chama atenção pela liberdade e pela paixão que o futebol representa na vida das mulheres. Como sabemos, as mulheres são, muitas vezes, excluídas do futebol e sofrem preconceito e assédio quando estão nas arquibancadas ou dentro do campo.

O mais impressionante da foto é que a mulher em questão estava amamentando sua filha, um direito natural, mas que é “sexualizado” e julgado por uma sociedade que acha que esse simples ato de alimentar uma criança não deveria ser feito em público. O registro foi feito pelo fotógrafo do jornal La Nación – Hernan Zenteno. “A princípio, não fiquei impressionado com o lado feminista da foto, já que muitas mulheres aqui são fãs de futebol, não é a primeira vez que tiro fotos de mulheres ‘alentando’ [termo em espanhol usado para se referir à torcida apoiando o time] suas equipes ou reagindo a um jogo. O que é polêmico para algumas pessoas – não para mim – é o fato de ela estar amamentando em público”, ressaltou ele.
O fato de a torcedora argentina estar gritando (“alentando”) e amamentando em público representa o grito de liberdade de todas as mulheres que amam futebol, que amamentam seus filhos e que lutam por direitos que deveriam ser básicos: o direito de ser tratada de forma respeitosa e de poder alimentar seus filhos sem julgamento social, seja na rua, seja na arquibancada.
Além de todos os desafios que as lactantes sofrem como os desafios físicos, da insegurança e de uma série de informações equivocadas, elas enfrentam ainda outros desafios, como o preconceito. A Pesquisa Global Lansinoh de Aleitamento Materno 2017, da empresa de produtos para amamentação Lansinoh, mostrou que, apesar de 64% das mães considerarem natural o ato de amamentar em público, 40% delas já foi criticada ou sofreu com o preconceito por fazê-lo. Por isso, reitero que essa imagem simboliza a voz de todas as mulheres gritando por liberdade. É como se naqueles 90 minutos de jogo, a mulher pudesse ser livre para ser quem quiser, torcedora mãe ou mãe torcedora, e fazer o que quiser, seja assistir à partida, seja amamentar a criança.
O segundo episódio foi a nomeação, na última quinta-feira, dia 12, da renomada jogadora de futebol brasileira Marta Vieira da Silva como Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres. Marta representa todas as mulheres que lutam pela igualdade de gênero e pelo empoderamento da mulher no esporte, principalmente no futebol.

Marta disse ser uma honra se tornar embaixadora para mulheres e meninas no esporte. “Estou totalmente comprometida em trabalhar com a ONU Mulheres para garantir que mulheres e meninas em todo o mundo tenham as mesmas oportunidades que homens e meninos têm para realizar seu potencial. Eu sei, a partir da minha experiência de vida, que o esporte é uma ferramenta fantástica para o empoderamento”, disse Marta.
“Em todo o mundo, hoje, as mulheres estão demonstrando que podem ter sucesso em papéis e posições anteriormente mantidas para os homens. A participação das mulheres no esporte e na atividade física não é exceção”, declarou.
Além disso, a atleta salientou que, por meio do esporte, mulheres e meninas podem desafiar normas socioculturais e estereótipos de gênero e aumentar sua autoestima, desenvolver habilidades de vida e liderança. Também podem melhorar sua saúde e posse e compreensão de seus corpos, tomar consciência do que é violência e como evitá-la, procurar serviços disponíveis e desenvolver habilidades econômicas.
Diante desses dois episódios importantíssimos e representativos para o esporte feminino, é imprescindível salientar que a representatividade da mulher tem crescido muito neste ano e que, apesar da luta das mulheres para aumentar os patrocínios, diminuir o machismo e exigir respeito ter um longo caminho pela frente, ela já começou a ser trilhada. E vem ganhando muita força, porque todas as mulheres gritam em uma só voz.