O que faz de um jogador de futebol um craque? Certamente, você vai responder títulos, gols, dribles, talento. Isso, Walter, atacante do Goiás, um dos destaques deste Campeonato Brasileiro, tem. Agora, se a resposta for a forma física, “padrão Fifa” de beleza e saúde colocada pela mídia, essa ele dispensa.
O atacante de 24 anos ostenta um corpo diferente da maioria dos atletas. O peso, desconhecido em quilos, é nítido acima do dito ideal. Ao longo das rodadas, à medida que ele balança as redes adversárias, se ouve/lê na imprensa: “o gordinho do Goiás”. Reportagens pejorativas de uma imprensa – a mesma que cobra uma postura contra o bullying nas escolas, por exemplo -, e comete a “violência” de sempre retratar o jovem jogador em coberturas recheadas de piadinhas sobre o corpo de Walter.
O preconceito é colocado pelos meios de tal forma que o gordo torna-se grotesco. Não importa as qualidades, se a balança denuncia, ele é um mau exemplo. Pela mídia, associamos esse corpo ideal a um imaginário social de beleza e sucesso. Se não o seguimos, somos vítimas de preconceitos. Walter não é o primeiro.
Ronaldo Fenômeno virou “Fofômeno” e viu uma carreira brilhante como atleta de alta competição arranhada na reta final. Maradona não escondia que a parte física não era o seu forte. Das muitas brigas do Neto, ex-Corinthians, uma das principais era com a balança. Puskas, um dos maiores futebolistas da história, também sofreu com os ataques ao tamanho da sua barriga. Nessa “ditadura da magreza” que estamos, ser Cristiano Ronaldo, de barriga tanquinho, forte e seco é o que importa.
Mesmo com essa representação pejorativa, há identificação de torcedores com Walter. Se os jovens querem ser Neymar, os trintões fora de forma se reconhecem no atacante. E há espaço para todos.
O que acaba transformando Walter num personagem carismático, mas vítima desse preconceito que vemos diariamente nos meios de comunicação. Às vezes, ele é até velado, mas quando temos algum fato que pode trazer a discussão sobre alguma minoria, a imprensa não consegue esconder suas preferências.
Emerson Sheik, do Corinthians, não é tão gordo. Nem assumidamente gay. Mas bastou postar uma foto em uma rede social dando um selinho em um amigo, que não se falou de outra coisa na imprensa. Deboches, ironias, falta de respeito. Algo visto, anteriormente com Richarlysson, hoje no Atlético-MG, na sua época de São Paulo. Só para citar um exemplo. Debates e enquadramentos dos meios de comunicação que fomentam a hostilidade e a ignorância.