Uma História de Corrupção, Poder e Ganância

Por Tatiane Hilgemberg

Em 16 de Março de 2012 a história de Mário Goijman, ex-presidente da Federação Argentina de Voleiball (1996-2002), atingiu seu ponto mais dramático. Policiais e oficiais do governo foram à casa de Gojiman, em Buenos Aires, cumprir uma ordem judicial de 2011 que autorizava seu despejo e o confisco de todos os seus bens.

ruben acosta
Rubén Acosta

O crime de Mário Goijman? Ter denunciado uma série de ilegalidades cometidas pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) e de seu então presidente, o mexicano, Rubén Acosta.

O escândalo teve início em 2002 à época do Campeonato Mundial Masculino de Vôlei, sediado na Argentina. Apesar de ter sido um evento bem sucedido, a FIVB recusou-se a pagar à Federação Argentina de Vôlei sua quota nos lucros em direitos de televisão, o que deixou os organizadores afundados em dívidas. Indignado com a traição, Goijman começou a investigar as finanças da FIVB e descobriu inúmeros casos de corrupção e de má administração dos fundos da federação. O caso mais sério foi uma tentativa de encobrir um desvio de aproximadamente seis milhões de dólares para as contas de Rubén Acosta.

Ao levar a público os casos, devidamente documentados, Goijman foi expulso da FIVB, bem como toda a Federação Argentina de Vôlei (FAV) que o apoiava. A nova federação estabelecida no país era composta de partidários de Acosta. O ex-presidente da FAV levou o caso à corte suíça, em Lausanne – caso que veio a perder em 2006 – e às suas próprias expensas deu início a uma campanha internacional contra a corrupção e má administração da FIVB.

 

Ainda em dívida

Mário Goijman apresentou documentos que comprovavam suas alegações, e a corte suíça reconheceu que as contas da FIVB haviam sido falsificadas, mas não conseguiu provar que a falsificação fora resultado de ação criminosa. A organização dinamarquesa sem fins lucrativos, Play the Game, abraçou o caso e tornou público documentos que indicam que Rubén Acosta desviou mais de 30 milhões de dólares.

mario goijman
Mário Goijman

Além disso Acosta introduziu duas regras especiais na Federação Internacional: Uma dizia que qualquer pessoa que assinasse, em nome da FIVB, contratos de TV e de patrocínios poderia exigir 10% do valor desses contratos, como bónus pessoal; A outra regra dizia que apenas o presidente da FIVB estaria autorizado a assinar contratos dessa natureza. Quando alguns corajosos agentes começaram a levantar a voz criticando este comportamento, Ruben Acosta introduziu um código de ética que o autorizava a expulsar dissidentes. E assim o fez.

Apesar de todas as evidências Rubén Acosta ficou no cargo até 2008, quando renunciou (ele era presidente da FIBV desde 1984), e Mário Goijman continua sofrendo as consequências por ter levado o caso a público.

A história de Mário Goijman, resumida aqui, é apenas mais um exemplo de como as organizações esportivas, nacionais e internacionais, estão sendo controladas por um pequeno grupo com interesses muito mais políticos e econômicos do que esportivos. Um dia antes de ter a polícia batendo em sua porta Goijman enviou uma carta à FIVB na qual torna palpável sua dor, sofrimento e desespero:

“[…]

After 10 years, I am completely ruined.

The banks executed my guarantees, the FIVB decided not to amend the Acosta abuses, and I lost my car, my company, and recently I was expelled from my own house that will be going in two months to an auction.

Such injustice for defending honesty, principles, and dignity, hurt me too much!!!!

I am very sick, depressed, with diabetes out of control and my heart decompensate.

I cry every night, THIS WAS TOO MUCH FOR ME. My actual and daily live is a nightmare. I will die in a few months, or my depression will take me to finish my live by my own hands.

Why do you hate me so much to take me to death?

I did anything out the law or the spirit of sport?

I cannot understand such hate!!!!

Because I fight hard to clean Volleyball from a dirty and greedy couple?

If I know that you shared my concepts, of honesty and transparency.

Think it over and be just!!!

I don’ want any recognition, my conscience is happy.

But return to the Argentina Federation what belongs to it.

Let me die in peace, knowing that at least my sons will not have to carry over them, the debts that ACOSTA, put over me, for organizing a brilliant Championship.”1; 2

1 Carta publicada em www.playthegame.org

2 Tradução nossa:

Após 10 anos estou completamente arruinado. Os bancos executaram minhas garantias, a FIVB decidiu por não corrigir os abusos de Acosta, e eu perdi meu carro, minha empresa, e recentemente fui expulso de minha própria casa que será leiloada em dois meses.

Tal injustiça por defender a honestidade, princípios, e dignidade, machucam demais!!!!

Estou doente, em depressão, com a diabetes fora do controle e o coração descompensado.

Choro todas as noites, ISTO FOI DEMAIS PARA MIM. Meu dia-a-dia atualmente é um pesadelo. Morrerei em poucos meses, ou minha depressão fará com que eu acabe com a vida com minhas próprias mãos.

Por que vocês me odeiam tanto para me levar à morte?

Eu fiz alguma coisa ilegal ou contra o espírito esportivo?

Não posso entender tanto ódio!!!!

Foi porque eu lutei para limpar o voleyball de um casal sujo e ganancioso?

Se eu soubesse que vocês partilhavam de meus conceitos de honestidade e transparência.

Pensem e sejam justos!!!

Não quero nenhum reconhecimento, minha consciência está feliz.

Mas devolvam à Federação Argentina o que a ela pertence.

Deixem –me morrer em paz, sabendo que pelo mesmo meus filhos não vão ter de carregar as dívidas que Acosta me debitou por organizar um Campeonato brilhante.

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