Em uma das narrações mais marcantes da história do Jornalismo Esportivo, Luciano do Valle conseguiu descrever o que sentimos ao presenciar uma jogada maravilhosa. Muitas vezes faltam palavras e a única saída é o elogio exacerbado. O esporte nos proporciona isso como Gumbrecht afirmou no livro Elogio da Beleza Atlética(2007). Lidar com a emoção e saber colocá-la no momento certo e na dose certa foi uma das inúmeras qualidades deste locutor que marcou a história do esporte brasileiro e, infelizmente, nos deixou no último sábado (19 de abril).
Quantas e quantas narrações povoam nossas lembranças entrelaçadas às imagens de nossos grandes ídolos no esporte. Desde que o rádio e futebol se “casaram”, na década de 1930, que esta união: jogada e narração são sólidas. Ao longo dos anos, o Jornalismo Esportivo brasileiro produziu excelentes narradores, com a mesma qualidade que nosso esporte presenteou o mundo com grandes jogadores. Entretanto, é difícil encontrar algum narrador tão antenado com seu tempo e com as modificações que o esporte sofreu, principalmente após a década de 1970. Luciano do Valle foi responsável pela evolução dos esportes ditos amadores, ao transmiti-los com a mesma empolgação e respeito que o futebol já possuía. Luciano sabia que era necessário a cobertura midiática para a evolução dos outros esportes. Assim, não se limitou a narrar com talento os outros esportes, fez de tudo para desenvolvê-los. Não foi por acaso, que a partir de suas iniciativas (aliada à competência de dirigentes esportivos), o Brasil passou colecionar conquistas em outros esportes.
Sinuca, vôlei no Maracanã com mais de 100 mil pessoas, futebol feminino, basquete, Maguila, programas inesquecíveis como o Show do Esporte e Apito Final e a sensacional seleção de Masters que fez muita gente realizar o sonho de ver nossa geração de ouro novamente em campo. Estes são alguns dos grandes feitos que podemos citar deste grande homem do esporte e das comunicações.
Os familiares mais próximos afirmam que era seu grande sonho transmitir a Copa do mundo em seu país e uma glória maior ainda, cobrir os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, mostrando que todo seu esforço em divulgar e desenvolver os esportes olímpicos no Brasil deu resultado. E que resultado!
Uma pena que a Era digital em que vivemos serviu muito mais para disseminar o ódio contra narradores do que fazer com que a nova geração conheça o trabalho e o esforço dessas pessoas que transformaram a transmissão e o esporte nacional. Luciano do Valle era um homem baseado na emoção. Não teve bordões, característicos quase imperativos de narradores de futebol, mas compensava no talento. Ficará na memória dos amantes e dos pesquisadores do esporte, que ele foi um homem revolucionário, que abraçou o esporte com um fervor absurdo e a narração com um talento admirável. Nossa sorte é que assim como os grandes ídolos se tornam mitos e jamais os esqueceremos ao assistirmos de novo, pelas imagens e narrações, continuaremos com a voz de Luciano em nossas mentes toda vez que visualizarmos um lance narrado de forma memorável por ele. Ao contrário de sua narração do gol antológico de Zico, há palavras e muitas palavras para descrever o que foi Luciano do Valle.
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