A corrida pela sobrevivência do esporte diante da mudança climática

Em setembro do ano passado, Tottenham X Chelsea, pela quinta rodada da Premier League, entrou para a história como “a primeira partida de um grande campeonato de futebol a ter emissão zero de carbono”. As duas equipes se locomoveram em ônibus movidos a biocombustíveis, torcedores foram incentivados a pedalar ou a usar o transporte público para ir ao jogo, a comida servida dentro do estádio teve opções vegetarianas e as garrafas plásticas foram destinadas à reciclagem.

O objetivo não era apenas conscientizar, muito menos ganhar cliques em uma iniciativa de marketing. Eles ainda são exceção, mas os eventos “carbono zero” em todas as modalidades são uma corrida contra o tempo, na qual o esporte contribuiu para o caos climático e, agora, luta pela própria sobrevivência.

A pegada de carbono dos eventos esportivos é similar às emissões de gases de Bolívia e Espanha, segundo o estudo “Jogando contra o relógio: esporte mundial, emergência climática e mudanças urgentes”, da rede de organizações ambientais “Rapid Transition Alliance” (RTA).

No ano passado, a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para mudanças climáticas, a COP26, debateu o impacto do esporte no aquecimento global em um painel exclusivo. Organizações esportivas, como o Comitê Olímpico Internacional, a FIFA, a Premier League e a Fórmula 1 e Fórmula E, se comprometeram a alcançar as emissões zero até 2040 e reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2030.

Desde 2018, quando o painel “Esportes para Ação Climática” da ONU foi criado e chamou, pela primeira vez, a atenção do setor para o tema, cerca de 280 entidades esportivas se comprometeram a cumprir as metas do Acordo de Paris, que pretende, até o final do século, limitar em até 1,5°C o aumento da temperatura global. É uma mobilização sem precedentes e reflexo de que as consequências já são percebidas.

Tempestade inundou, em 2015, o campo do Carlisle, time da quarta divisão do futebol inglês. Clube foi forçado a sair do estádio por dois meses. Foto: Getty Images

A maratona dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2021 foi transferida da capital japonesa para outra cidade, Sapporo, devido ao intenso calor. Segundo o estudo da RTA, 25% dos campos de futebol da Inglaterra, onde aconteceu o “Tottenham x Chelsea carbono zero”, podem sofrer inundações. Metade dos países que já sediaram Olimpíadas de Inverno correm o risco de não conseguir mais realizar novamente o evento no futuro. Se o ritmo das mudanças climáticas não for freado até 2050, será praticamente impossível realizar atividades físicas ao ar livre por longos períodos, dada a elevação das temperaturas e a degradação da umidade e da qualidade do ar.

O esporte está em uma encruzilhada, em uma crise existencial. O futuro das competições e de novos atletas está ameaçado em meio ao aumento da temperatura global. A transição verde e a descarbonização precisam acontecer, motivadas ou por uma real preocupação quanto ao futuro da Terra, ou pela necessidade financeira de que os eventos simplesmente aconteçam.

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