Muitos comentaristas e pesquisadores do esporte apontam um processo de desvinculação gradual da identidade do brasileiro com o futebol e, consequentemente, com a seleção nacional. Se muitos ainda duvidam dessa hipótese, indícios como a derrota do Brasil por 7 a 1 diante da Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014 o interesse cada vez maior dos fãs pelos torneios europeus, em oposição aos campeonatos nacionais e a multiplicação de camisas de times estrangeiros sendo vestidas por brasileiros jogam a favor de quem não acredita totalmente ser o Brasil o “país do futebol”.

No entanto, o antropólogo Édison Gastaldo, durante entrevista concedida ao Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte, mostrou outro indício, surpreendente e que provavelmente poucos fizeram tamanha conexão. Todos nós sabemos que, em todas as manifestações pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff durante 2015, a principal característica desses episódios eram os participantes vestirem camisas oficiais da seleção ou que faziam referência à “amarelinha”. Para Gastaldo, o que para muitos é um detalhe à parte, é gravíssimo:
“Nas manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, quem foi às ruas vestia camisa da seleção brasileira. Isso é muito grave! A camisa da seleção brasileira sempre simbolizou a identidade nacional, a “roupa do brasileiro”. Vestir essa camisa significava: “Somos brasileiros acima de qualquer coisa”. Desde a eleição de 2014, porém, vestir a camisa da seleção significa intuitivamente ser de direita. Ou seja, foi tirado todo um sentido místico.”
O cenário político instável do país, que começou após as eleições de 2014 e ganhou contornos mais tensos em 2015, mostrou uma divisão ideológica na sociedade brasileira e a “amarelinha” acabou, mesmo que involuntariamente, ou não, se transformando em um símbolo desse antagonismo latente.
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