Após um 2013 de grandes conquistas do esporte brasileiro, com títulos importantes na vela, natação, ginástica olímpica, além das mulheres se destacando no pentatlo, nos esportes aquáticos, no judô e no vôlei, não seria a eliminação do Atlético Mineiro no Mundial de Clubes da FIFA que encerraria o ano glorioso do esporte nacional. Mas acontece que muitos não lembravam, ou não sabiam, que as meninas do handebol brasileiro estavam com tudo para trazer mais um título para o Brasil.
Numa final espetacular, disputada na Sérvia, no último domingo (22/12), o título de campeão do Mundial Feminino de Handebol ficou com as meninas brasileiras. A conquista histórica do Mundial se deu com luta, dedicação, malas extraviadas antes do torneio, lágrimas, frio, vitórias e muitos sonhos. Num ginásio lotado com mais de 20 mil pessoas torcendo pela equipe adversária que jogava em casa, as meninas da seleção brasileira foram verdadeiras guerreiras em quadra, saindo da competição sem nenhuma derrota e com medalhas de ouro na bagagem.
Particularmente, sempre gostei do handebol, mas nunca fui de acompanhar a seleção. Quando adolescente, disputava algumas partidas durante brincadeiras no colégio e lembro-me de amigos dizendo que aquele era “subesporte”, optando todos por jogar futebol ou vôlei.
Além do mais, moro na cidade que durante alguns anos revelou muitas “craques” do handebol nacional e sempre tive o maior orgulho em afirmar isso. O Clube Esportivo Mauá, de São Gonçalo, durante os anos 1990 e início de 2000, ainda era a base da seleção feminina brasileira de handebol. (Conheça um pouco da história do handebol no Clube Esportivo Mauá aqui).
E também durante o Pan-americano do Rio de Janeiro, em 2007, fui repórter oficial dos jogos, responsável pelas partidas de handebol. Ali, acompanhei de perto a conquista do título das meninas, encontrei algumas que haviam jogado em São Gonçalo e pude conhecer um pouco da dificuldade no incentivo e reconhecimento do esporte no Brasil. Algumas daquelas jogadoras da seleção hoje são campeãs mundiais de handebol. Logo, o Mundial é a oportunidade de destacar o feito dessas meninas em nosso blog.
A conquista do Mundial veio das mãos de jogadoras heroínas com nomes desconhecidos e que não atuam no país, como Babi, Alê, Dani, Dara, Duda, Ana Paula, Samira e Mayara. Essas meninas superpoderosas hoje jogam espalhadas por terras frias como Dinamarca, Áustria, Eslovênia e Hungria. (Saiba mais sobre a seleção feminina de handebol aqui) Foi preciso que elas fossem jogar fora do país para se destacar no esporte, como é o caso da Alexandra, atual melhor jogadora mundial de handebol, fato que até o título deste domingo, era desconhecido por grande parte dos brasileiros.
Também figura importante no título foi o técnico importado para comandar a seleção, o dinamarquês Morten Soubak, que como afirmou Juca Kfouri em seu blog, “conseguiu a proeza de montar um time que se defende com a mesma competência com que ataca”.
Alguns brasileiros não conseguiram acompanhar a seleção feminina no Mundial Feminino de Handebol, já os jogos foram transmitidos pelo Esporte Interativo, canal ainda não disponível nas maiores operadores de TV fechada (entenda o caso aqui).
Outros não tomaram conhecimento da competição. Em parte, é possível afirmar que a falta de incentivo e a não popularização desse esporte nos meios de comunicação de massa possam ter contribuído para a falta de conhecimento e, consequentemente, desinteresse dos brasileiros pelo handebol. Talvez este quadro possa ser modificado um dia, mas seria um processo longo como aconteceu com o vôlei, hoje com público sempre presente nos ginásios e transmissão dos principais torneios nacionais e mundiais na TV (Veja vídeo do programa Linha de Passe sobre o tema).
O universo esportivo tornou-se um campo fértil de produção de heróis. A mídia, além da possibilidade de popularização de um esporte, pode colaborar na construção dos heróis, compartilhando histórias de vida de atletas, recheada de dificuldades, superação e sucesso. As partidas do Mundial e todas as adversidades encontradas até a chegada das atletas na Sérvia refletem o quão heroica foi a conquista da seleção feminina. Diferentemente dos ídolos de um universo de celebridades, ídolos do esporte passam a agir para a sociedade, dividindo seus feitos com os indivíduos comuns e estabelecendo laços sociais. A todo o momento, após a vitória, as meninas do handebol dedicavam o título para a torcida que estava no Brasil.
Essa conquista das novas heroínas do esporte brasileiro no Mundial é parte do projeto maior “Olimpíadas 2016”, como afirmou o presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), Manoel Luiz Oliveira. Até lá, a jornada do handebol certamente será de muitos obstáculos, mas nada que heroínas não estejam acostumadas a enfrentar.
O título do Mundial Feminino de Handebol marca a seleção brasileira na história do esporte, já que essa é a segunda vez que uma equipe não europeia conquista o campeonato (A Coreia do Sul foi campeã em 1995).
E foi assim que o Brasil pôde comemorar gol de mão e gritar é campeão.
Boas Festas!!!
REFERÊNCIAS
Helal, R. Lovisolo, H. Soares, A. A Invenção do País do Futebol: mídia, raça e idolatria. Editora Mauad. 2° Edição: 2001