Quando um atleta é flagrado em um exame antidoping, toda a sua carreira, e suas conquistas, são questionadas. Cai o ídolo, o herói. Nada era real, tudo foi resultado, não do trabalho árduo, ou do talento nato, mas de uma “droga” que melhorou seu desempenho e o fez vencer. E apesar de todos os riscos (de perder os títulos, de encerrar a carreira, de ser visto para sempre como traidor, a até os riscos futuros para a saúde) os atletas continuam seduzidos pelo uso de substâncias proibidas.
A notícia de que a tenista russa Maria Sharapova foi flagrada no teste antidoping reacendeu as discussões que vão desde a liberação do uso dessas substâncias à sua criminalização. Em um polo ou outro esquecemos que doping é um assunto complexo e polêmico. Algumas pessoas acreditam que os atletas se dopam pelo simples desejo de vitória; outros acreditam que, de forma mais complexa, a decisão de usar substâncias que melhoram a performance advém de uma mistura de fatores psicológicos, sociais e culturais. Algumas pessoas querem liberar o uso de qualquer substância no esporte, outras defendem a manutenção da exclusão. Uns veem os atletas flagrados no doping como farsantes, enquanto outros acreditam que eles estavam apenas repetindo um hábito comum ao mundo esportivo.
Paul Dimeo, especialista na área, em artigo publicado pela BBC, afirma que o doping é uma realidade no esporte, e não uma exceção como muitos tem apontado. Segundo Dimeo, Ben Johnson e Lance Armstrong, por exemplo, partiram do princípio de que estavam apenas fazendo o necessário para vencer, uma vez que todos os atletas usavam substâncias proibidas, e, simultaneamente, o sistema antidoping não era, é, confiável.
De acordo com a Teoria dos Jogos, os atletas sabem que seria melhor se ninguém se dopasse, mas como eles não confiam uns nos outros, todos precisam se certificar de que têm chances de vencer, o que causa o “dilema do prisioneiro”. Um fator que, segundo a teoria, poderia resolver a situação seria a introdução de uma figura de autoridade na equação, que nesse caso é a Agencia Mundial Antidoping (Wada), em quem os atletas confiassem, ou seja se tivessem a certeza de que caso alguém fosse pego trapaceando haveria punição. O que não parece ser o que acontece. Certamente os atletas não acreditam que serão pegos, ou que caso o sejam não haverá qualquer punição.
Sobre doping há mais perguntas do que respostas. Liberar ou não? Criminalizar ou não? Reduzir a lista? Punir mais severamente? Será que não ha corrupção no próprio sistema antidoping?
O certo é o estrago que um exame antidoping positivo faz na carreira de uma atleta, que de uma hora para outra cai do céu de estrelas olimpianas e se esborracha no meio dos meros mortais.