Futebol feminino: machismo, homofobia ou rejeição de associação?

Várias são as hipóteses cogitadas para justificar o pífio apoio que o futebol feminino do Brasil recebe das autoridades do esporte, da imprensa em geral, dos patrocinadores em particular e consequentemente dos clubes.

Machismo e homofobia seriam as principais causas da falta de apoio, já que o desempenho em campo da seleção brasileira feminina não é desabonador. Contudo, esportes como o vôlei feminino, contam com apoio da federação, da imprensa e tem sólidos patrocínios mesmo não sendo tão popular como o futebol. Isso confunde um pouco a minha análise e derruba em certo grau a tese do machismo.

É inegável que o preconceito impera em todos os âmbitos da sociedade brasileira e, portanto, não poderia ser diferente dentro do segmento esportivo. No futebol praticado pelo gênero masculino principalmente, um esporte considerado e “recomendado” para “homens viris”, a homofobia e o machismo são componentes com uma forte presença e utilizados sempre com uma conotação negativa pelos diversos atores envolvidos na atividade, atletas, dirigentes, torcedores e a imprensa. Apelidos como Bambi (atribuído à jogadores e torcedores do São Paulo F.C.), por exemplo, tentam ligar estes à homossexualidade, o mesmo acontece com o Fluminense no Rio de Janeiro.

São raros os casos de atletas profissionais que assumiram a condição de homossexuais. A título de exemplo posso citar os mais recentes: no futebol europeu o ex-meia e alemão Thomas Hitzlsperger (foto 1), na NBA (liga profissional de basquete norte-americana) o pivô Jason Collins (foto 2), na Super Liga de Vôlei brasileiro o meio de rede Michael (foto 3) e no boxe (talvez o mais viril de todos os esportes acima citados) o peso-pena porto-riquenho Orlando Cruz (foto 4), todos os atletas de altíssimo nível com comprovada competência. Em comum além da condição sexual, nenhum dos atletas citados apresentam trejeitos ou comportamento social que denunciasse a sua homossexualidade, nem podem ser estereotipados. Portanto a condição sexual de um indivíduo em nada interfere no talento e no desempenho do mesmo em qualquer esporte.

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FOTO 1: Thomas Hitzlsperger.
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FOTO 2: Jason Collins.
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FOTO 3: Michael.
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FOTO 4: Orlando Cruz.

No futebol brasileiro os casos são mais raros ainda, e o profissional que tomasse essa iniciativa pagaria um preço incalculável dentro e fora do campo. Para efeitos comparativos, posso citar a polêmica levantada em torno do “selinho” que o atleta Emerson Sheik (foto 5), à época jogador do Corinthians, deu em um amigo e posteriormente postou a foto nas redes sociais.

Emerson dá selinho no amigo Isaac

Considerando que o machismo e a homofobia não são exclusividades do futebol e sim características intrínsecas da sociedade, que se revela em todos os esportes. Ademais, a homossexualidade não é um fator determinante nem preponderante para a prática esportiva de qualidade, tendo a descartar estas características como a principal causa da falta de apoio ao futebol feminino brasileiro.

Outra causa seria a falta de público ou desinteresse social pela modalidade, o que nao se confirma. Na final dos jogos pan-americanos de 2007 a seleção brasileira de futebol feminino venceu a seleção dos Estados Unidos por 5 x 0. O jogo, realizado no estádio Mario Filho – Maracanã – foi assistido por um público superior a 65000 pessoas. Só me resta pensar que a falta de patrocínio paralisa a ação de clubes e da imprensa, que certamente inviabiliza o processo.

O patrocinador sempre busca o retorno associando sua marca e imagem a uma modalidade de sucesso e de ampla aceitação pelo mercado consumidor, no caso especifico, o consumidor feminino. O esporte não somente proporciona entretenimento e interação, também atua sobre outras sensações e sentimentos, levando o consumidor a se identificar com a marca patrocinadora e com o atleta que a representa. No caso do futebol, que ao contrário do vôlei, carrega em grande parte das atletas uma imagem estereotipada voltada ao masculino, dificulta a associação e a identificação do publico feminino com uma marca que patrocine este esporte.

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