Nesta quinta-feira, Uruguai e Equador se enfrentaram pelas Eliminatórias da Copa de 2018, na Rússia. A Celeste fez valer o mando de campo e venceu por 2 a 1, mas o destaque da noite veio das arquibancadas do histórico estádio Centenário. ‘Más unidos que nunca’ era a mensagem dos hinchas nos cartazes de apoio à briga dos jogadores pelos direitos de imagem na batalha que envolve uma grande empresa de comunicação e a Federação Uruguaia de Futebol (AUF).
O caso
No fim de agosto, os jogadores da seleção principal tornaram pública sua insatisfação contra o monopólio que, segundo eles, freia o desenvolvimento do futebol no país. Cavani, Suárez, o capitão Godin, entre outros (inclusive ex-jogadores da seleção como Lugano, Forlán e Loco Abreu) publicaram uma carta aberta expondo o seu posicionamento. Eles questionam os direitos de imagem explorados pela Tenfield e o contrato entre esta empresa de comunicação e a Federação Uruguaia de Futebol (AUF), firmado há 18 anos por Eugenio Figueredo, cartola que cumpre prisão domiciliar por envolvimento em corrupção no ano passado.
Pelo acordo, a Tenfield tem o poder de negociar com empresas com as quais mantém parceria, entre elas, a Puma, fornecedora do uniforme há dez anos. Considerando a proximidade do fim do contrato, os jogadores apresentaram, na ocasião, uma proposta da Nike praticamente cinco vezes maior do que a Puma oferece, como divulgado pelo suplemento esportivo ‘Ovación, do jornal El País.
Contra Ataque
Um mês depois, a Tenfield apresentou proposta da Puma equivalente a da empresa norte-americana. Após três semanas de negociações, foi selada a renovação com o material esportivo alemão até 2023, pelo qual este pagará 24,5 milhões de dólares pelo período. O anúncio foi feito no limite permitido (meia noite do dia 20 de outubro) pelos advogados da Tenfield e representantes do conselho da AUF. A empresa ainda conseguiu manter a cláusula de preferência de 180 dias após o término do contrato.
A tréplica dos jogadores
O caso não morreu ali. Uma semana depois, no dia 27 de outubro, os mesmos atletas enviaram novo comunicado pela web, denunciando o uso ilegítimo de suas imagens e direitos, concluindo que não irão aceitar nenhum intermediário na negociação, nem mesmo a AUF. A Associação também recebeu novos ataques, com pedidos de reforma urgente. Não demorou muito e a Tenfield respondeu, os acusando de faltarem com a transparência, alertando que medidas judiciais seriam tomadas, se fosse necessário.

No reencontro do grupo na última segunda-feira, os jogadores treinaram com uniformes despidos de qualquer propaganda, a exceção do corpo técnico. Na coletiva de imprensa, reafirmaram o compromisso com a competição, mas avisaram que a disputa continuaria firme fora de campo, sem atrapalhar o desempenho nas partidas. Em sua entrevista, o treinador Óscar Tabárez confirmou o comprometimento de seu plantel com as Eliminatórias, mas também afirmou: “Tengo mucha simpatía por la gente que defiende lo suyo, sea contra quien sea”, sendo este um elogio claro à postura de seus comandados.
Apoio popular
Entre a disputa comercial e de interesses das partes se encontra uma nação que acompanha o caso de forma parcial, apoiando os jogadores, sem pesar qualquer consequência. Incide sobre o fato o questionamento aos interesses corporativos do capital e dos homens de terno corruptos. Mas, pesa muito também o capital social conquistado pelos jogadores desta seleção. As associações de patriotismo e de identidade foram muitas ao longo da última década. De acordo com os relatos nas redes sociais, as pessoas avaliam a luta dos jogadores como legítima, classificando-a não como uma causa pessoal, mas a possibilidade de revolucionar um status que existe no futebol do país.
Por esta razão, grupos organizados criaram um evento no Facebook e convocaram a quem fosse ao estádio levar cartazes e faixas de apoio aos atletas, unindo-se às suas lutas pelo que acreditam ser o melhor para o desenvolvimento do futebol no país (é possível ver famílias, homens, crianças e mulheres, confeccionando todo o material).
Esta novela uruguaia está longe de terminar, com total imprevisibilidade de desfecho. Entretanto, fica evidente, com mais este episódio, a simbiose entre jogadores e torcida. E sem qualquer juízo de valor sobre a questão em si, estamos diante de mais um legado (mesmo sem saber o fim da história) para as gerações futuras que este grupo deixa, assim como o fizeram há seis anos, com a criação da Fundação Celeste.
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