Meu nome é M-Á-R-I-O F-I-L-H-O

No dia três de fevereiro deste ano, fui pego de surpresa: queriam mudar meu nome. Logo eu! Mundialmente conhecido. Cartão postal do Rio. Meu nome é minha identidade! Ele está estampado nos jornais, livros, músicas… meu nome está nos jantares de família. Na memória dos torcedores. Eu sou a saudade de muitos dos meus frequentadores e o desejo daqueles que ainda não me conhecem. Meu nome é a interseção entre flamenguistas e tricolores. Já abrigou botafoguenses, vascaínos, corintianos, santistas… meu nome é a interseção entre a terra e o céu, com as saudosas presenças de Sobrenatural de Almeida, Nossa Senhora dos Gols Perdidos, Gravatinha, Santo dos Gols Impossíveis, Nelson e Mário.

Eu sou setentão… ano passado não me faltaram homenagens… e agora, justo nesse momento em que eu vivo uma solidão sem tamanho, me aparecem com mais essa. Eu figuro no coração de milhões de torcedores. No sonho de milhares de jogadores. Eu sou parte daquelas histórias de “primeira vez” que ninguém esquece.

Não querem me apagar totalmente! Ufa! A ideia, pelo que fiquei sabendo, é colocar o meu nome no Complexo Esportivo. Mas eu não sou complexo. Eu sou simples. Tão simples quanto os pulos de alegria que as torcidas dão quando comemoram um gol. E, toda vez que uma torcida vibra, eu vibro junto. Porque essa é a minha essência.

Aliás, vocês conhecem a minha história? Eu nasci no dia dezesseis de junho de 1950. Waldir Pereira, mas conhecido como Didi, meio-campo da Seleção Carioca foi o primeiro a ter a honra de fazer um gol em aqui. Mas não pensem que foi fácil me erguerem. E é justamente aqui que a história fica mais interessante.

A intenção do pessoal daquela época era construir um grande estádio para a Copa de 50. E assim começaram a pensar no projeto que daria origem a mim. Uma parte dos idealizadores e apoiadores queriam me colocar láaaa em Jacarepaguá. Quem defendeu com unhas e dentes que eu fosse erguido perto do rio Maracanã foi Mário Filho. Ele queria que eu ficasse em um lugar acessível para todos. Já imaginaram se eu tivesse parado lá em Jacarepaguá? Nem Mário Filho e nem Maracanã…. sabe-se lá como iam me chamar…

O papel de Mário não para por aí. Ele era um entusiasta do futebol! Vocês sabiam que foi ele quem criou o termo “Fla-Flu”? Pois é! Ele é o dono do apelido do clássico mais charmoso que é disputado em mim. Além disso, Mário fez parte de uma comissão que pensou na minha existência como um todo. Desde onde eu ficaria até o preço dos ingressos que seriam vendidos. E, por influência do meu criador, só uma conclusão era possível: eu tinha que ser um estádio do povo. O futebol, que começou como um esporte de elite, aos poucos se tornava mais popular. E Mário Filho teve um papel fundamental nisso, sobretudo no Rio. Aliás, Filho que nada! Filho sou eu! Ele é o Mário Pai!

Tanta História… tantas estórias… tantos afetos… e ainda querem mudar meu nome. Querem me dar nome de Rei. Uma ironia do destino, né? Eu vi esse menino crescer! Seu milésimo gol, esse que todos falam, foi marcado aqui. Para que criarem essa rivalidade entre nós agora? Eu nunca pedi para entrar para a realeza. Pelo contrário! Eu disse a vocês – fui criado para ser um estádio do povo. Assim fui imaginado. Assim permanecerei.

Então, meus caros, aqueles que quiserem mudar o meu nome que lutem! Mais do que processos burocráticos, eles terão que enfrentar a História. Eu sou palco de duas finais de Copa do Mundo. Eu já abriguei, em uma única partida, 178.850 amantes do futebol. Esse pessoal, que teve essa ideia desnecessária, pode até querer mudar o futuro. Mas eles não têm como mudar o passado. Eu sou a história. E eu nunca serei esquecido. A minha voz, que é a voz de milhares de torcedores, vai ecoar na eternidade. E então, quando perguntarem meu nome, eu direi: meu nome é Mário Filho.

Fonte: Wikipedia

Deixe uma resposta