Movimento Paralímpico

Será encerrada hoje, à meia-noite, a votação popular, pela Internet, dos melhores atletas do ano no Prêmio Paralímpicos 2012, evento que acontecerá pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, amanhã, dia 19/12. É comum a realização de premiações para os atletas de todos os esportes que se destacaram durante uma temporada de sucesso. Mas, especificamente este prêmio, que visa o reconhecimento dos atletas de alto rendimento e a promoção dos esportes paralímpicos no Brasil, parece não ser muito divulgado no país. E até a produção deste texto, os números da votação popular ainda não haviam sido divulgados.

Descobri esse evento por conta da amiga e jornalista da Andef, Dani Lima, que sempre publica nas redes sociais matérias sobre eventos e competições paralímpicas. Assim, ela conseguiu despertar meu interesse e fui buscar nos ídolos paraolímpicos uma discussão inédita para minha estreia no blog do Grupo, do qual já participo há três anos.

O ano de 2012 foi de muitas conquistas para o esporte paralímpico, quando o Brasil teve a melhor performance de todos os tempos em Paralimpíadas. Em Londres, os atletas brasileiros ficaram com o inédito sétimo lugar no quadro geral de medalhas, fato este que acirrou a disputa pelos melhores atletas de cada modalidade na premiação promovida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro. Atletas que se destacaram nas 22 das modalidades paralímpicas em 2012 serão homenageados. A edição deste ano ainda premiará outras cinco categorias: melhor técnico modalidade individual, melhor técnico modalidade coletiva, revelação 2012, melhor atleta feminino e melhor atleta masculino. Os vencedores foram indicados por federações e técnicos ligados ao Comitê, e serão conhecidos amanhã.

A realização deste prêmio, somada a indicação de dois atletas brasileiros, Daniel Dias e Alan Fonteles, como concorrentes ao Laureus World Sports Awards (maior premiação esportiva mundial) na categoria Personalidade com Deficiência, nos faz pensar sobre a representação desses atletas no universo esportivo. São duas indicações que levam o nome do Brasil ao reconhecimento do trabalho de esportistas e profissionais ligados ao Movimento Paralímpico (leia mais aqui e aqui) pelo mundo, além de contribuir e fomentar o crescimento do paradesporto no país.

A indicação, pelo segundo ano consecutivo do nadador Daniel Dias, vencedor do Laureus em 2009 e postulante ao título de melhor atleta masculino de 2012, nos leva a querer descobrir e refletir sobre a trajetória de sucesso do atleta. Daniel foi o maior vencedor brasileiro na história das Paralimpíadas. Nos jogos de Londres o atleta conquistou nada menos do que seis medalhas de ouro nas seis competições em que marcou presença. E entrou para a história ao alcançar a marca de 15 medalhas, sendo 10 de ouro, em duas participações em Jogos Paralímpicos.

Nascido na cidade de Campinas-SP, Daniel Dias teve má formação congênita dos membros superiores e da perna direita, ocasionada por complicações durante o parto. Aos 16 anos, se interessou pelo paradesporto enquanto assistia as vitórias de Clodoaldo Silva. Seguindo o exemplo do ídolo, Daniel Dias iniciou sua história nas piscinas e se tornou o maior atleta paralímpico de todos os tempos.

Com inúmeras conquistas, Daniel Dias poderia entrar para o quadro dos grandes ídolos do esporte nacional, um verdadeiro herói que passou por diversas dificuldades e superação para alcançar o reconhecimento esportivo.  O atleta se encaixa no modelo do herói universal quando atributos relacionados à disciplina, a superação e ao esforço são mais enfatizados. Na trajetória do herói, “cumpre ultrapassar surpreendentes barreiras – repetidas vezes” para o início da trilha das conquistas da iniciação e dos momentos de iluminação (Campbell – O herói de mil faces, 1995, p. 110).

Porém, não podemos mensurar se os brasileiros reconhecem quem é Daniel Dias, ou em que modalidade ele compete. Sua exposição midiática em propagandas e programas de TV após as recentes conquistas confirmam hoje a representação do atleta no universo esportivo. A mídia tem papel de destaque na construção de um ídolo nacional. Segundo Helal (2003, p. 226), “o fenômeno da idolatria no esporte moderno encontra na mídia sua condição de possibilidade. A mídia é mediadora por excelência da relação entre fãs e ídolos, legitimando os últimos como heróis da sociedade”.

Os Jogos Paralímpicos de Londres este ano tiveram a transmissão oficial comprada pela Rede Globo de Televisão. Contudo, a competição foi transmitida somente pelo Sportv, canal da mesma rede, para um público restrito. Então, mas do que contribuir para a construção de ídolos paralímpicos, a mídia aqui tem o papel de despertar o interesse nacional pelo paradesporto.

Talvez, a realização dos Jogos Paralímpicos de 2016 no Rio de Janeiro possa representar uma nova fase na percepção da sociedade, das empresas e da academia científica em relação aos atletas de alto rendimento no Brasil. Ao menos, essa é a esperança do nadador Daniel Dias.

Referências:

Comitê Paralímpico Brasileiro

Comitê Olímpico Brasileiro

Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos

HELAL, Ronaldo. Idolatria e Malandragem: a cultura brasileira na biografia de Romário.

A construção de um ídolo futebolístico na imprensa: estudo de caso  » Ronaldo  Helal, Alvaro do Cabo, Fausto Amaro, Camila Augusta Alves Pereira e João Paulo Vieira Teixeira

CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo, Cultrix, 1995.

É uma satisfação iniciar minha participação neste blog e dividir o espaço com os queridos companheiros de jornada acadêmica. Espero poder contribuir com debates e temas relevantes para o estudo na esfera esportiva.

 

3 thoughts on “Movimento Paralímpico

  1. Camila, querida amiga Botafoguense, saúdo a sua assunção!
    Só para que eu entenda a posição – sua e do GPEC: vocês vão assumir o “Paralímpicos”, uma palavra que não existe na Língua Portuguesa, ao invés de “Paraolímpicos”?
    Beijos,
    Cesar

  2. Cesar, parece que esta tem sido uma tendencia da imprensa. Eu não gosto da palavra, mas o Grupo ainda não discutiu sobre o assunto. Obrigado por levantar a questão.
    Abraço,
    Ronaldo

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