Essa expressão, muitas vezes vinculada ao futebol e que aqui generalizei, está vinculada ao fato de que o esporte não se limita ao território esportivo, ele o ultrapassa e se constitui em um dos elementos da construção da identidade nacional. É inegável que o esporte tem a capacidade de envolver multidões e despertar sentimentos. Contudo ele também é reflexo do lado negro da sociedade. Acho que esse pessimismo foi despertado em mim principalmente por conta do documentário To Russia with Love, disponível na Netflix, e da reportagem da TV Globo sobre a maternidade entre atletas.

Já critiquei aqui mesmo nesse blog episódios em que a poderosa americana NFL fez vista grossa em diversos casos de violência doméstica. Há algumas semanas, assisti perplexa a reportagem exibida pelo Esporte Espetacular que denunciava casos de diversas atletas brasileiras de vôlei que não tiveram seus contratos renovados por estarem grávidas. Ser atleta ou ser mãe? Questiona a reportagem, que, em seguida, responde: Por que não ser atleta e ser mãe? Porque no nosso país as atletas mulheres não têm o direito assegurado a engravidar e continuar recebendo seus salários. O país de origem de um dos atletas mais bem pagos do mundo, sequer tem uma legislação que protege os direitos trabalhistas à licença maternidade das atletas.
Antes disso havia assistido ao documentário To Russia with Love, que acompanha os Jogos Olímpicos de Inverno Sochi 2014 e a controversa lei que baniu a “propaganda de relações sexuais não tradicionais para menores”. O documentário retrata a homofobia em forma de lei em pleno século XXI, e o silêncio do resto do mundo perante a dor do outro. Quando o avião da Lamia que levava o time da Chapecoense caiu vitimando quase que completamente o time brasileiro, o que vimos foi empatia e compaixão, mas e quando o tema é controverso como a homofobia no esporte, o que fazemos? Na maioria das vezes silenciamos, e foi isso que aconteceu em Sochi, mesmo entre os(as) atletas gays, que preferiram não se pronunciar ou manifestar temendo, inclusive, a prisão.
Apesar de o exemplo acima ser de uma homofobia “legislada”, não precisamos ir tão longe para vermos casos de preconceito baseado em orientação sexual. O meio-campo Richarlyson foi apresentado ao Guarani, para disputa da Série B, debaixo de protestos, e acredite se quiser até bombas – enquanto o goleiro Bruno, preso pelo homicídio de Eliza Samudio, foi recebido pelos torcedores do Boa Esporte com pedidos de autógrafo e muitas selfies.

No esporte, a homofobia se manifesta, de forma geral, através de agressões verbais e ataques psicológicos, ou seja, de xingamentos provenientes da torcida, ou até mesmo de outros atletas, e muitas vezes reforçados pela mídia. E o que a legislação desportiva faz para coibir essa violência? O que os clubes fazem para conscientizar seus torcedores? Nada, ou muito pouco.
Por isso, meus amigos e amigas, já passou da hora de utilizarmos o esporte também como uma arena de debates e mudanças, porque é para frente que se anda!